A capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) é uma espécie de mamífero roedor da família Caviidae e subfamília Hydrochoerinae. É considerada a maior espécie dentre os roedores, grupo que também inclui as pacas, cutias, porquinhos-da-índia e os preás.

O nome “capivara” é originado do tupi-guarani, sendo o termo “caapi”, relacionado à capim, e “uaára”, comer, significando “comedor de capim” em uma referência à sua dieta. O termo genérico Hydrochoeruspor sua vez, significa porco d’água.

É uma espécie que ocorre nas Américas Central e Sul, do Panamá ao nordeste da Argentina. É amplamente distribuída na América do Sul, com exceção do Chile. São encontradas em uma extensa variedade de habitats, como rios, lagos, represas e pântanos, sendo frequente em florestas de galeria e áreas periodicamente inundadas.  No território brasileiro, as capivaras são abundantes na bacia do rio Amazonas, e também Paraná e Araguaia, na região pantaneira e dos lagos no Rio Grande do Sul.

São animais de pelagem densa, cuja coloração varia de avermelhada ao marrom escuro, apresentando cabeça grande, pescoço curto, focinho obtuso, lábios superiores fendidos, orelhas pequenas, arredondadas e móveis e ausência de cauda. As pernas são curtas, as patas traseiras com três dedos são mais longas que as dianteiras, que apresentam quatro dedos. O comprimento corporal médio varia de 1,0 m a 1,5m e 0,50 a 0,60 m de altura. No adulto, o peso corporal varia de 30 a 60 kg, podendo chegar a 100 kg.

Fotografias: Caio Mozer Rodrigues da Silva

Características adaptativas relacionadas ao hábito de vida semiaquático podem ser observadas, tais como a localização de olhos, orelhas e narinas na região superior da cabeça, permitindo a natação sem restrições e presença de membrana interdigital.

Embora nesta espécie o dimorfismo sexual não seja considerado aparente, pode-se observar a presença de glândula nasal na parte frontal do focinho de machos dominantes, a qual libera secreção utilizada pelo animal na marcação de seu território.

De acordo com a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), a espécie classifica-se na categoria de Ameaça Menos Preocupante (LC). Apresenta populações estáveis, as quais estão amplamente distribuídas em unidades de conservação, sendo um animal de ocorrência comum.

Capivaras são animais sociais que vivem em grupos que podem variar de 6 a 16 membros, contendo fêmeas, filhotes e os machos que integram uma rigorosa hierarquia com um único macho dominante.

São animais de hábito diurno, com o ápice de sua atividade sendo observado nos períodos crepuscular e vespertino. Sua atividade diária inclui a alimentação nas horas iniciais da manhã e ao anoitecer.  Nas horas mais quentes do dia, observam-se o repouso e a natação, permanecendo grande parte do tempo dentro da água, sendo este um comportamento importante na realização da termorregulação. Em áreas urbanizadas ou onde há pressão de caça, excepcionalmente é possível observar capivaras ativas durante a noite.

São animais herbívoros considerados pastadores, por serem observados forrageando com frequência em campos de pastagem, e capões de mata. Sua principal fonte de alimentação são as plantas do grupo das gramíneas e as aquáticas, no entanto, estes animais podem alimentar-se também de cultivos agrícolas, como plantações de milho, arroz e cana-de-açúcar, indicando que a espécie possui grande capacidade adaptativa por meio de plasticidade alimentar.

A cecotrofagia, (ingestão de cecotrofo, um tipo específico de fezes) é observado nas capivaras, representando um importante mecanismo fisiológico para complementar a obtenção de nutrientes, como aminoácidos, proteínas e vitaminas. Na estação seca, quando há a ingestão de alimentos fibrosos com baixo valor nutricional, este hábito se torna mais comum.

Frequentemente, são observadas associações entre capivaras e outros animais, como as aves, que se beneficiam desta relação utilizando as capivaras como poleiros ou alimentando-se de seus ectoparasitos ou insetos que as mesmas espantam ao se deslocar pela vegetação.

A maturidade sexual das capivaras ocorre entre 15 a 24 meses de vida do animal. Se reproduzem durante todo o ano, não existindo estação reprodutiva específica. A gestação dura em média 150 dias, sendo o maior período entre os roedores. O ciclo estral das fêmeas varia de 9 a 11 dias, com a cópula ocorrendo frequentemente dentro da água. Todos os machos do grupo acasalam, no entanto, o macho dominante tende a obter monopólio sobre as cópulas. Não são feitos ninhos, o parto se dá em qualquer local do território, nascendo de 2 a 6 filhotes por ninhada. Geralmente, ocorre somente uma ninhada durante o ano, podendo chegar a duas, caso as condições forem favoráveis. Embora o cuidado parental seja maior por parte das fêmeas, machos podem auxiliá-las no cuidado com filhotes. Filhotes de capivaras nascem pesando em média 1,5 kg, sendo considerados precoces pela presença da pelagem e dentição permanente. Observações em pesquisas revelam uma precocidade alimentar, podendo os recém-nascidos iniciar a alimentação com gramíneas poucos dias ou até horas após nascidos, sendo amamentados até 3 ou 4 meses de idade. Apresentam elevadas taxas de fecundidade, sendo considerada a espécie mais prolífera dentre os herbívoros.

A principal ameaça à capivara é a caça, uma vez que sua carne e couro são apreciados em alguns países. Por serem animais de alta adaptabilidade a ambientes antrópicos e agrícolas, possui a capacidade de aumentar muito o numero de sua população nestas áreas, sendo considerada por vezes como espécie-praga, podendo ser caçada devido aos danos causados em regiões de cultivo.

As capivaras apresentam um importante papel na saúde pública. Por possuírem alta capacidade reprodutiva e serem abundantes em áreas endêmicas para Febre Maculosa, funcionam como excelentes hospedeiros naturais para carrapatos.

O carrapato estrela Amblyomma sculptumtem a capivara como um eficiente hospedeiro natural. Sendo assim, em áreas onde há a presença de capivaras, existem consideráveis infestações por este vetor. Diante deste papel epidemiológico, a capivara caracteriza-se como um reservatório e amplificador da bactéria Rickettsia rickettsi no meio ambiente, mantendo os níveis de circulação deste agente na natureza.

A incidência de casos de Febre Maculosa no país é um dos principais desafios dos serviços de vigilância em saúde, já que o desequilíbrio ambiental causado pelo homem através do desmatamento, expansão periurbana, poluição dos lagos e a falta de predadores naturais, causam um crescimento populacional acelerado na espécie, ocasionando o crescimento da população de carrapatos e aumentando assim a possibilidade de transmissão de doenças associadas a este ectoparasita.

Summary: Wild Animals – The capybara

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Fotografias: Caio Mozer Rodrigues da Silva – Graduando em Belas Artes pela UFRRJ