Desenvolvida em água doce ou salgada, a aquicultura é uma atividade em que são criados não só peixes, mas também crustáceos (como o camarão ou  lagosta), moluscos (como  polvo e  lula), algas e outros organismos que vivem em ambientes aquáticos. Até rãs, tartarugas e jacarés podem ser criados para alimentação humana.

Trata-se de um dos setores da economia brasileira que mais crescem.  Um estudo inédito no país realizado pelo núcleo Pesca e Aquicultura da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) mostra que a aquicultura apresentou crescimento de 123% entre 2005 e 2015, passando de 257 mil para 574 mil toneladas de pescado no período.

Esse incremento da produção foi atribuído a três fatores observados pelos pesquisadores na aquicultura: chegada de novas empresas, rápida profissionalização e intensificação do uso de tecnologias.

O estudo foi apresentado na conferência do International Institute of Fisheries Economics and Trade (IIFET) em Aberdeen, Escócia, e, nele, seus autores chamam atenção para o fato de que a aqüicultura costumava ser caracterizada no Brasil por empreendimentos de pequeno porte, sistemas extensivos de produção e baixo nível tecnológico, com exceção da produção de camarões no Nordeste, a carcinicultura.
Um dos autores do trabalho, Manoel Pedroza,associa essas mudanças ao aumento da demanda por pescado no mercado nacional, que registrou taxas de crescimento anuais superiores a 10% entre 2005 e 2015.

O bom desempenho da aquicultura brasileira despertou o interesse de importantes instituições financeiras,como o banco holandês Rabobank, maior financiador mundial do setor agrícola. A instituição holandesa e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) consideram o Brasil um importante país na aquicultura mundial, situando-o em posição semelhante ao de países com tradição no setor, como Chile, Vietnã e Noruega.

Atualmente, o Brasil responde pela 14ª maior produção aquícola do mundo,de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Investimentos – No estudo, consta registros da entrada de empreendimentos privados de maior porte na cadeia brasileira da aquicultura. O município de Selvíria, em Mato Grosso do Sul, recebeu um investimento de 160 milhões de reais em um complexo que incluiu fábrica de ração, produção de alevinos (filhotes de peixes), engorda e processamento de tilápia. Em Tocantinópolis (Tocantins), foi construída uma fábrica de ração e viveiros de engorda para a cadeia de tambaqui e pintado, mesmas espécies produzidas em Sorriso (Mato Grosso), município onde foram investidos R$ 22 milhões para a instalação de frigorífico e fábrica de ração para peixes. A cidade de Almas, no Tocantins, já conhecida como polo aquícola do estado, recebeu instalações para engorda e processamento de tambaqui, pintado, matrinxã, piau, curimba e pirarucu.
O estudo destaca também a recente fusão de duas grandes empresas brasileiras de processamento de pescado, a Geneseas e a DellMare. A nova companhia é vinculada a um fundo de investimento focado no agronegócio e produzirá 12 mil toneladas de tilápia por ano e três mil toneladas de camarão vannamei (Litopenaeus vannamei). “Esse é mais um sinal da força e maturidade desse setor no Brasil, que começa a contar com grandes investidores, a exemplo do que já ocorre com a cadeia produtiva da avicultura”, compara o pesquisador Manoel Pedroza.

Finalmente, o trabalho identificou, ainda, aumento no preço da ração e estabilização no preço do pescado no país no período analisado. “Caso o aumento da produção aquícola nacional continue no ritmo de 10% ao ano, é de se esperar que essa tendência de estabilização dos preços do pescado se mantenha, ao menos no curto e médio prazos”, acredita Pedroza para quem o preço competitivo do produto importado representa uma forte pressão para manter o pescado brasileiro com preços competitivos.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de peixes de água doce é a principal atividade dentro da aquicultura brasileira, respondendo por 84% da produção aquícola do País. A aquicultura marinha responde por apenas 16% da produção total, sendo composta pela carcinicultura (12%) e pela produção de ostras, vieiras e mexilhões (4%).

Entre as espécies de peixe, a tilápia (Oreochromis niloticus) e o tambaqui (Colossoma macropomum) respondem por 62% da produção nacional, de acordo com dados coletados pelo IBGE.

Produção da aquicultura brasileira em 2015 por espécie, em percentual do total produzido. Fonte: IBGE/SIDRA

Produtos gerados pela EMBRAPA – Além do estudo inédito no país sobre o atual panorama (atualizado) da aquicultura brasileira, a EMBRAPA tem desenvolvido tecnologias visando o desenvolvimento desse setor, destacando-se as que envolvem produtos derivados de peixe e que estão à disposição do mercado.

Os produtos foram criados no núcleo Pantanal daquela empresa e entre eles estão quibe, hambúrguer e nugget.

O quibe e o hambúrguersão derivados de carne mecanicamente separada, processo realizado em um equipamento chamado despolpadora, que permite a formação de uma “pasta” de carne de peixe. Também feito da mesma base que o quibe e o hambúrguer, o terceiro produto desenvolvido foi o nugget, só que este recebe um empanamento com farinha adequada (de milho ou de rosca).

Atualmente, estão sendo realizados testes e aprimoramentos no processo de defumação da carne de pescado, utilizando madeira típica da região do Pantanal não ameaçadas de extinção. Todos esses produtos são feitos com carnes de peixes da região pantaneira.