O efetivo nacional de bovinos somou 214.9 milhões de cabeças em 2017, 1,5% menos que no ano anterior. Foi a primeira queda desde 2012. O resultado está relacionado ao aumento dos abates, que cresceram 3,9% mesmo em meio a um “desequilíbrio” gerado no mercado pela operação Carne Fraca e pela delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, controladores da JBS. Informações como essa, entre muitas outras, constam da pesquisa Produção da Pecuária Municipal (PPM) 2017, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“A operação Carne Fraca desequilibrou o setor. Houve abate estratégico, inclusive de matrizes, o que reduziu a taxa de nascimento e, posteriormente, o tamanho do plantel”, disse Mariana Oliveira, analista da pesquisa do IBGE. Com o crescimento da oferta de animais em 2017, também motivado por um regime de chuvas positivo para as pastagens, houve redução do preço de bezerros e da arroba em comparação a anos anteriores.

Apesar da queda do tamanho do plantel no ano passado, o Brasil permaneceu com o segundo maior rebanho bovino do mundo, atrás da Índia. Segundo o IBGE, a produção de bovinos continuou a avançar na região Norte, que reúne o segundo maior efetivo do País, 48.5 milhões de cabeças em 2017. Embora pequeno (1%), foi o único crescimento entre as grandes regiões do país.

São Félix do Xingu, no sudeste do Pará, voltou a apresentar o maior efetivo nacional de bovinos no ano passado – 2.2 milhões de cabeças, um crescimento de 23,6% nos últimos dez anos. Em 2017, existiam 18 bovinos para cada habitante do município paraense. Mas, embora tenha encolhido de 2016 para 2017, o plantel da região Centro-Oeste ainda é o maior do País: 74.1 milhões de cabeças, ou 34,5% do total.

A pesquisa do IBGE aponta, ainda, que a produção total brasileira de leite (formal e informal) alcançou 33.5 bilhões de litros no ano passado, com baixa de 0,5% em relação ao ano anterior. A redução foi influenciada pela queda do preço médio do produto, de 5,6% em relação a 2016, para R$ 1,10 por litro.

“O preço em queda causa uma redução na atividade, especialmente nos médios produtores”, afirmou Oliveira. As regiões Sul e Sudeste lideraram a produção nacional, com participações de 35,7% e 34,2% no total, respectivamente. O Sudeste liderou o número de vacas ordenhadas: 30,4% do total nacional, e o município paranaense de Castro preservou o título de “Capital Nacional do Leite”.

Com base em uma nova plataforma cadastral de granjas do país, atualizada pelo Censo Agropecuário de 2017, o IBGE estimou que a produção nacional de ovos totalizou 4.2 bilhões de dúzias em 2017, 11,6% mais que no ano anterior, e gerou renda de R$ 13,5 bilhões. Segundo o órgão, o último censo identificou “novas granjas com grande capacidade de alojamento e de produção de ovos”, e essas granjas foram as grandes responsáveis pela alta da estimativa de produção.

“Mesmo com essa ‘ajuda’ da melhora do levantamento dos dados, tivemos de fato aumento em 2017. Isso ocorreu porque as pessoas buscaram proteínas mais baratas para substituir outras mais caras, num ambiente de crise econômica, que gera perda de poder aquisitivo”, disse a analista do IBGE.

A pesquisa mostrou um novo “campeão” de produção de ovos de galinha no país: Santa Maria de Jetibá (ES), que superou Bastos (SP). De acordo com o instituto, o alto nível tecnológico empregado na produção e o apoio de cooperativas são fatores que influenciaram o avanço do município capixaba no ranking.

Já o total de galináceos (frangos, frangas, galinhas, galos, pintos), por sua vez, atingiu 1.4 bilhão de cabeças no ano passado no País, com crescimento de 6% na comparação ao ano anterior. Segundo Oliveira, o desempenho também reflete o aumento de demanda da população por proteínas mais acessíveis.

“Algo como 70% dos custos de produção vêm da ração. E a safra de milho, base da ração, foi recorde em 2017, reduzindo preços e estimulando a produção”, afirmou. A região Sul respondeu 47,1% da produção e abate de frangos. Santa Maria de Jetibá (ES) foi o município que apresentou os maiores efetivos tanto de galináceos quanto de galinhas, seguido por Bastos.

Já o efetivo de suínos atingiu a marca de 41.1 milhões de cabeças no país no ano passado, com crescimento de 3% na comparação com 2016. Os estados do Sul voltaram a liderar a atividade. Assim como na produção de ovos e aves, o segmento de suínos foi beneficiado pela crise econômica. Santa Catarina concentrou 19,7% do efetivo nacional de suínos. Logo em seguida, aparecem Paraná, com 16,8%, e Rio Grande do Sul com 14,6%. Do efetivo total de suínos, 11,5% correspondeu a matrizes.

A pesquisa do IBGE mostrou, também, que o Ceará perdeu a liderança na produção de camarões por causa da ocorrência do vírus da mancha branca. Com isso, a produção nacional de camarão apresentou queda de 21,4% no ano passado em relação a 2016, para 41.000 toneladas, e a produção cearense caiu 53,4%.

“Para se livrar do vírus, boa parte dos produtores precisou esvaziar tanques. As perdas foram grandes no Ceará em 2016 e em 2017”, ressaltou a analista do IBGE. O Rio de Grande do Norte, por sua vez, teve crescimento de 5,3% da produção de camarão em 2017. Assim, passou a liderar o ranking nacional do setor, respondendo por 37,7% do total nacional, superando o Ceará (28,9%).

Já a produção total da piscicultura brasileira foi de 485.200 toneladas em 2017, com queda de 2,6% em relação ao ano anterior. A produção aumentou nas regiões Nordeste, Sul e Centro-Oeste do país, enquanto houve forte queda no Norte. A tilápia permaneceu como a espécie mais cultivada no Brasil. E já passou a representar mais da metade do total da piscicultura: 58,4%.

Computados todos esses resultados, Santa Maria de Jetibá (ES), Bastos (SP) e Castro (PR) se destacaram no ano passado em valor de produção pecuária na pesquisa do IBGE. O município capixaba apresentou o maior valor de produção, R$ 931.3 milhões – 95,3% dos quais provenientes da venda de ovos de galinha. Bastos apareceu na segunda posição, com R$ 841.8 milhões, dos quais 96,2% corresponderam à venda de ovos de galinha. Em seguida veio Castro, a capital nacional do leite, com R$ 322.9 milhões.

 

Fonte: Valor Econômico