A indústria brasileira de carne suína espera para breve a reabertura do mercado russo, responsável por 40% das exportações do Brasil no ano passado.

A abertura poderá vir, mas o mercado da Rússia será bem diferente do que já foi. O fechamento das portas para a carne brasileira, no final do ano passado, ocorreu após a interrupção das compras também de outros grandes mercados, como o da União Europeia.

Os russos vêm se preparando nos últimos anos para uma autossuficiência, que deverá ser conquistada até 2020. Atualmente está próxima de 90%.

Na busca pela autossuficiência, o governo deu crédito subsidiado e incentivo fiscal ao setor, administrou cotas de importação e promoveu a pesquisa. O resultado foi a melhora na genética, aumento de produtividade e crescimento da produção.

Apenas nos primeiros anos da década 2010, os investimentos atingiram US$ 2 bilhões. Com tecnologia, crédito e demanda interna forte, devido à melhora na renda, a suinocultura mudou de patamar na Rússia.

A produção, que era de 1.5 milhão de toneladas em 2000, deverá atingir 3.1 milhões de toneladas neste ano. Com isso, as importações, que chegaram a um milhão de toneladas, deverão recuar para 200.00 toneladas em 2018, segundo estimativas do USDA.

O consumo, que é crescente, já atinge 3.2 milhões de toneladas, mas os russos já se preocupam com um eventual excedente de produção. Grandes projetos em execução, com investimentos próximos de US$ 2.5 bilhões, deverão estar prontos nos próximos anos, elevando ainda mais a oferta interna dessa proteína.

A Rússia ainda precisa buscar mercados para esse futuro excedente, o que não será fácil, principalmente porque Estados Unidos, Canadá, União Europeia e Brasil aumentam produção.

A proximidade do país com os mercados asiáticos, no entanto, dá uma vantagem para os russos, o que já ocorre com o pouco que exportam atualmente. Hong Kong e Ucrânia são os dois principais mercados.

O Brasil não só vai encontrar uma Rússia menos dependente da carne suína, quando os russos reabrirem as portas, como também vai ter um concorrente nos próximos anos.

Como diz Ricardo Santin, da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), a Rússia foi um bom parceiro, mas deverá, a partir de agora, se tornar um mercado comum. (Mauro Zafalon)

 

Fonte: Folha de São Paulo