A operação Trapaça, deflagrada pela Polícia Federal no início de março para investigar fraudes na análise da presença da bactéria salmonela em cargas de carne de frango voltadas à exportação, teve reflexos negativos para a principal empresa envolvida, a BR, e para os embarques brasileiros em geral que até alteraram de vez as rotinas no porto de Roterdã, na Holanda, a principal porta de entrada de produtos agropecuários brasileiros na Europa.

Por causa das investigações da PF, no dia 19 de abril os países-membros da União Europeia decidiram embargar 20 plantas brasileiras que exportam carne de frango ao bloco, medida ainda em vigor. Do total, 12 plantas eram da BRF. “As avaliações ficaram mais rigorosas. E as entregas de carregamentos brasileiros caíram”, confirmou Patrick Van Dijk, inspetor sênior do Ministério da Agricultura da Holanda, ao Valor.

Nesse cenário, afirmou Jan Harthoorn, vice-presidente de desenvolvimento estratégico da Europa do Agro Merchants Group, empresa responsável pelo armazenamento a frio de carnes que entram na Europa por Roterdã, a Seara, divisão de carnes suína, de aves e produtos processados da JBS, ganhou espaço.

Desde abril, os carregamentos que chegam à Europa via Roterdã passam por uma avaliação bem mais criteriosa do que antes. Passaram a ser retiradas amostras aleatórias das cargas que, segundo Dijk, vão de 1% a 10% de cada lote, o “teto” é quando há suspeitas específicas de contaminação. As amostras passam por avaliação física, para checar se correspondem ao que está descrito nos respectivos documentos e por avaliações bacteriológicas.

Vinte e três veterinários cuidam dessas avaliações, além dos assistentes que auxiliam no processo. As amostras são pesadas, testadas em temperaturas elevadas e mesmo o sabor do produto é checado. As cargas vetadas no escrutínio são devolvidas ao país de origem, destruídas ou transformadas em alimentação destinada a animais de estimação.

Em 2017, Roterdã recebeu 11.618 carregamentos de alimentos provenientes do Brasil destinados ao consumo humano. Foram 9.361 cargas de carnes de frango e suína. “Roterdã recebe cerca de 40% da carne brasileira que é consumida na Europa”, disse Dijk.

Dentro das câmaras frigoríficas de Roterdã é possível armazenar de uma só vez 18.000 toneladas de produtos. A Agro Merchants planeja dobrar essa capacidade até 2020. Por ano, cerca de 25% do volume total que passa pelas câmaras do grupo é de carne de origem brasileira. Os produtos ficam armazenados a 19º C negativos por cerca de cinco semanas no porto, que funciona como uma espécie de “hub” de distribuição para o mercado europeu.

Dijk observou que, com o Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia, que poderá ser consumado em 29 de março de 2020, a tendência é que a Holanda veja seu papel de hub europeu diminuir já que muitas empresas deverão ser obrigadas a ter terminais na terra da rainha.

 

Fonte: Valor Econômico