O empresário Victor Oliva, conta sua trajetória como criador de uma das mais nobres raças de cavalo. De um pequeno sítio no interior paulista a uma coudelaria, referência de campeões

Considerado um cavalo nobre, de “sangue quente”, porém dócil, ágil e corajoso, o Puro Sangue Lusitano conquista, cada vez mais, destaque nas competições equestres, principalmente no Brasil, onde muitos criadores vêm apostando na aptidão do animal para estas atividades. Entre eles, destaca-se o empresário da publicidade Victor Oliva, proprietário da Coudelaria Ilha Verde, localizada em Araçoiaba da Serra (SP), reconhecida mundialmente como grande criadora e formadora dos chamados “cavalos atletas”.

Além das habilidades esportivas, uma das características da raça que logo chama a atenção é a beleza, considerado um item importante entre os segmentos do mercado do Lusitano. “É um cavalo muito bonito e extremamente manso para montaria. Ao mesmo tempo é ótimo para as lidas da fazenda e para correr pasto. É um cavalo que, costumo dizer, bom para várias coisas. É preciso conhecer o Lusitano. Quando você o conhece, fica apaixonado”, diz Oliva.

Cobalto                                            foto: Terri Miller

Primeira raça de sela

É considerado por muitos pesquisadores como a primeira raça de sela do mundo, tendo sido utilizada em combates pelos exércitos de Esparta e do Império Romano, entre outros.

Raça milenar, com história comparada à dos cavalos Puro Sangue Inglês e o Puro Sangue Árabe, que por milênios mantiveram seu padrão básico: coragem, resistência e agilidade, entre outras características. Os animais Puro Sangue Lusitano encontram no mercado brasileiro e internacional uma valorização muito grande, comparável a poucas raças.

Mercado

Na opinião de Victor Oliva o mercado está num ótimo momento e destaca o trabalho realizado por Orfeu Ávila à frente da Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Puro Sangue Lusitano na divulgação e valorização da raça. “Tem potros, estou falando só de animais bons, avaliados em R$10 mil; tem cavalo montado com preço inicial em torno de R$ 25 mil. Já vi Lusitano ser vendido, na Europa, a 800 mil euros”, esclarece Oliva, destacando também o potencial do mercado de sêmen: “Vendo muitas doses de sêmen dos meus garanhões. O preço varia, de acordo com os animais, entre R$ 3 mil e R$ 10 mil”.

Os países com o maior número de animais e reprodutores atualmente são Portugal e Brasil, sendo os Estados Unidos um dos maiores compradores de cavalos dessa raça, que encontra a maioria de seus interessados na costa Oeste, no estado da Califórnia. Além desses países, existem plantéis expressivos no México, Canadá, França e Inglaterra, entre outros.

Para Oliva, o Puro Sangue Lusitano ainda não é conhecido como deveria, porque “para muitos ainda é o cavalo do circo, o cavalo da tourada e isso não é verdade. É um cavalo com muito mais potencial. Só quem monta um animal da raça passa a entender”.

Victor Oliva com Puros Sangue Lusitano
foto: Terri Miller

“Já vi Lusitano sendo vendido na Europa por 800 mil euros”

Paixão

Porte e marcha de rara beleza, o Puro Sangue Lusitano desperta a atenção logo no primeiro olhar. Daí para a paixão é um pulo. O relato de Oliva comprova isso: “Essa paixão começou quando eu vi o cavalo pela primeira vez e o achei muito bonito, muito dócil, um cavalo apaixonante. Foi amor à primeira vista”.

No início dos anos 1990, Oliva, à época casado com Hortência Marcari, heroína do basquete brasileiro, desfrutava do seu “rancho Ilha Verde”, em Araçoiaba da Serra, no interior paulista, como lugar de refúgio nos fins de semana. Criar animais não fazia parte dos planos até que Oliva ganhou de presente do publicitário Eduardo Fischer uma égua Puro Sangue Lusitano. A égua acabou morrendo, e com o dinheiro do seguro, Oliva, que já tinha se encantado pela raça, partiu para novas aquisições, no Brasil e em Portugal.

Aos poucos o rancho foi ganhando ares de haras. Pavilhões de cocheiras foram erguidos. Pastos divididos em piquetes; implantadas pastagens adequadas à criação de cavalos, iniciada

oficialmente em 1992. Cada etapa era acompanhada com entusiasmo, e em homenagem a Portugal, o empresário também adotou o nome coudelaria. Hoje, o plantel é formado por 80 animais.

“Era um pequeno sítio que eu tinha. E, aí, eu passei a gostar do cavalo, comprei umas éguas

e foi assim que tudo começou. Já faz 21 anos que estou criando essa raça. E a paixão só aumenta, só complica”, relembra Victor Oliva em tom de brincadeira.

Cinturão do cavalo

Localizada na privilegiada região de Sorocaba, conhecida como “cinturão do cavalo” no Estado de São Paulo, a Coudelaria Ilha Verde ocupa, hoje, uma área de 54 alqueires, 35 dos quais destinados ao pastoreio. São vinte os piquetes formados por Tifton 85 destinados aos animais do plantel, 95% deles “ferro VO”. A infra-estrutura conta com três pavilhões de cocheiras com 60 baias, três pistas de Adestramento (20m x 60m), uma pista coberta (20m x 40m), uma pista para treinos de Equitação de Trabalho e Salto (70m x 80m), e dois redondéis, um deles mecanizado. Também faz parte da área construída a sede e casas de funcionários, dez deles dedicados exclusivamente ao manejo e treinamento dos cavalos.

Nilo VO (cavalo que formou conjunto com Roger Clementino em várias conquistas, entre elas a medalha de bronze por equipe nos Jogos Panamericanos do Rio 2007 e membro da equipe nas Olimpíadas de Pequim 2008). O Antonio também competiu com esse animal que, hoje, está emprestado para a amazona Gabriela Fischer, filha do publicitário Eduardo Fischer.
foto: Terri Miller

Empolgação

Victor Oliva confessa que os responsáveis por essa empolgação com o Puro Sangue Lusitano, que o levou a investir na preparação de animais para competição, foram seus dois filhos, João Vitor e João Antonio e um funcionário da coudelaria, Roger, que começaram a montar e a fazer provas de adestramento. “E, aí, você quer mais, mais e mais resultados, melhor isso, melhor aquilo e o negócio andou. Eles começaram a participar de campeonatos brasileiros, nas hípicas, campeonatos nos clubes, em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre. Meu filho maior foi cinco vezes campeão brasileiro, o menor quatro vezes campeão brasileiro, o outro menino que trabalha comigo foi parar na Olimpíada com um cavalo meu e, aí, me apaixonei de uma vez. Havia talento, havia potencial”, conta orgulhoso.

Dois Lusitanos de pelagem “Isabel” da Coudelaria Ilha Verde
foto: Julia Entscher

Lusitanos “ferro VO”

Criando com rigor desde a primeira safra de animais, e incorporando a marca “ferro VO” para identificar sua criação, Victor Oliva se decidiu pela seleção de produtos que se destaquem pela elegância, mansidão e versatilidade atlética, sem abrir mão da milenar genética do Puro Sangue Lusitano, conhecido mundialmente por sua contribuição na formação de várias raças, inclusive as brasileiras.

Na base do plantel, a Coudelaria Ilha Verde contou com animais “garimpados” nos principais haras portugueses e brasileiros, e em 2006 ganhou reforço com a chegada da tropa selecionada pelo cineasta Jayme Monjardim.

O tripé da seleção se baseia na genética, aptidão e manejo. Oliva está em constante busca por animais diferenciados, moldados para o lazer, mas que revelem notória vocação atlética. Os cavalos com “ferro VO” são desenvolvidos para atender às necessidades da criação nacional e também o exigente mercado externo. Para tanto, cada animal é tratado como um “indivíduo”, de maneira que seu potencial possa ser observado e suas peculiaridades exploradas.

Desta “receita” têm nascido produtos excepcionais, com resultados nas pistas e na reprodução. Anualmente, eles são apresentados ao mercado no tradicional Leilão Internacional Luso-Brasileiro, realizado desde 1997.

Oliva optou pela seleção de animais que se destaquem pela elegância, mansidão e versatilidade atlética

Sede, foto: Terri Miller

Vista geral do pavilhão das cocheiras, foto: Terri Miller

Animais no pasto, foto: Julia Entscher

Competição

Em 2003, a Coudelaria Ilha Verde começou a marcar presença nas pistas de competição, inicialmente na Equitação de Trabalho, representada por Rogério Silva Clementino e Nilo VO, mas foi no Adestramento Clássico, a partir de 2006, que o conjunto levou o nome do criatório a ser conhecido internacionalmente pela conquista da medalha de bronze por equipe nos Jogos Pan-americanos do Rio 2007, e por integrar a equipe brasileira nas Olimpíadas de Pequim 2008. Nilo VO, aliás, foi o primeiro Lusitano nascido no Brasil a fazer parte de uma equipe pan-americana e olímpica.

Depois das Olimpíadas, Nilo VO foi destinado aos irmãos Marcari Oliva. João Victor estreou nas pistas em 2008, e Antonio Victor em 2009. Hoje, eles, Rogério Clementino, Everton Yale Cavalaro e Julia Nemr integram o Ilha Verde Team, a equipe mais premiada e bem estruturada de Adestramento no País. O sonho de produzir um novo conjunto olímpico tem sido o objetivo da Coudelaria Ilha Verde. A tarefa é árdua, e o trabalho de uma equipe multidisciplinar, com participação de profissionais de várias áreas, do Brasil e do exterior, tem sido uma constante.

Animais em liberdade, foto: Terri Miller

Roger Clementino e Nilo VO, foto: Ney Messi

Hortência ao lado dos dois filhos em 2009, quando Antonio (à esquerda), conquistou o primeiro título de seus três títulos de campeão brasileiro, foto: Ney Messi

Assessoria

Entusiasta, Victor Oliva coloca-se à disposição das pessoas interessadas em iniciar criação de Puro Sangue Lusitano, “para explicar como foi minha trajetória, tudo que fiz de besteira, tudo que fiz de certo. Criar cavalo é uma atividade para gente apaixonada e para gente que faz as coisas bem feitas.”