A febre amarela (FA) é uma zoonose. Palavra que se destaca no conceito de uma única saúde: humana, animal e ambiental, evidenciando o papel dos veterinários neste importante aspecto da saúde pública.

As zoonoses são quase uma centena pelo mundo todo. Algumas são transmitidas diretamente entre o homem e animais domésticos ou silvestres, como a raiva, a tuberculose e a brucelose. Outras necessitam de um intermediário, quase sempre um artrópode (inseto, carrapato) como a peste (pulgas), febre amarela, dengue e Zika (mosquitos). Os agentes causais podem ser bactérias, vírus, protozoários ou fungos. As que são causadas por vírus e transmitidas por artrópodes (em geral mos- quitos), são denominadas arboviroses, ou seja, causadas por vírus transmitidos por artrópodes (arthoropode borne vírus).

FA na América Latina – Surtos periódicos da FA ocorrem aproximadamente de sete em sete anos iniciando-se ao Sul do México (até passado mais ou menos recente também no Caribe) e terminando ao Norte da Argentina e Sul do Brasil. Essa onda em macacos e humanos dura cerca de 2 anos.

Os últimos surtos no Rio Grande do Sul, por exemplo, ocorreram em 2001, 2008-2009 e 2016- 2017 (em curso). Eles foram bem estudados pelos técnicos da Secretaria Estadual de Saúde e vários outros.

Nem sempre a mortalidade de macacos é grande ou são afetadas todas as espécies. Entretanto, os bugios ou guaribas (de várias espécies) que ocorrem na grande região do continente, antes mencionada, são os mais atingidos. Também nem toda essa região é alcançada. No presente surto, a Mata Atlântica está sendo fortemente atingida na altura de Minas Gerais e Espírito Santo, com grande risco para espécies ameaçadas como o mico-leão e o muriqui.

FA silvestre – A FA que no momento está em progresso por grande parte do país, aparentemente, ainda é apenas da modalidade silvestre, ou seja, como zoonose ocorrendo entre macacos e passando destes ao homem pela picada de mosquitos também silvestres. A morte de macacos pela FA indica a possibilidade da doença atingir o homem nas áreas onde existam os macacos doentes e os mosquitos transmissores. Os macacos funcionam então como animais sentinelas: avisam que a doença está na região.

A explicação acima propositadamente simples, encerra conceitos científicos, mais complicados sob vários aspectos.

FA urbana – Até agora mencionou a FA silvestre, que ocorre entre macacos e é transmitida ao homem pela picada de mosquitos também silvestres, que picaram macacos doentes.

Mais perigosa, entretanto, é a FA urbana. Em princípio, transmitida de homem a homem pela picada de um mosquito também urbano: Aedes aegypti. Essa modalidade já foi um agelo da humanidade, inclusive no Brasil, desde meados do século XIX com seu auge no Rio de Janeiro no princípio do século XX e praticamente erradicada pelos trabalhos de Oswaldo Cruz e seus colaboradores no combate ao mosquito. Na época, não existia vacina.

Esse mosquito urbano: o Aedes aegypti, agora é citado por toda parte. Ao picar uma pessoa com FA pode transmitir a doença de homem a homem. Ele está onipresente por todo o país. Muito conhecido por ser também o transmissor de Dengue, Chikungunya e Zika. Por motivos ainda não esclarecidos, ele pode picar um indivíduo doente com FA silvestre mas não transmitir a doença para outra pessoa. Até quando? As explicações são variadas e sempre se lança mão da genética: do vírus, do mosquito ou do homem. O perigo é real.

A vacina – Logo depois do grande surto de Febre Amarela no Brasil, combatido por Oswal- do Cruz, muitas pesquisas foram desenvolvidas na busca de uma vacina. De uma delas resultou na vacina extremamente e ciente, usada até hoje, com efeito durante 10 anos. Foi desenvolvida por uma equipe liderada por cientistas da Fundação Rockefeller, em pavilhão especialmente construído para isso no Instituto Oswaldo Cruz (Rio de Janeiro) e testada em macacos rhesus importados da Índia a partir de 1928. No momento, ela está sendo aplicada em larga escala nas chamadas áreas de risco, onde existem macacos infectados. No dia 16 de março, as autoridades sanitárias do Estado do Rio de Janeiro decidiram vacinar toda a população do Estado, a grande maioria urbana, contra a FA. Uma sábia decisão prevendo a eventual e temida queda da espada de Damocles, considerando a onipresença do Aedes aegypti mais difícil de eliminar agora do que no tempo de Osvaldo Cruz, além da fácil chegada aos grandes centros urbanos de doentes de áreas atualmente afetadas.

Dados oficiais – O Ministério da Saúde (Secretaria de Vigilância em Saúde) divulga dados o ciais que mostram a rápida evolução do presente surto de FA humana no Brasil. Quanto aos macacos (primatas de várias espécies) a mortalidade por FA é estimada em milhares, mas os dados são imprecisos. A situação tende a car mais grave com a progressão da doença na direção Sul como antes mencionado.

Os dados o ciais atualizados podem ser facilmente obtidos acessando: http://portalsaude. saude.gov.br/index.php?option=com_content& view=article&id=9612&Itemid=504.

As tabelas 1 e 2 retratam a situação oficial da FA humana no Brasil até 15 e 16 de março de 2017. Por sua vez, vez informações sobre epizootias de primatas não-humanos com mapa (Fig. 1) e outras informações são encontradas no mesmo site. Além de um excelente glossário sobre FA, com informações sobre a doença. A parte de imunização, entretanto, mantém uma atitude demasiada cautelosa recomendando a vacinação somente em algumas áreas consideradas de risco, enquanto os macacos já estão morrendo até no Rio de Grande do Sul. Também sem levar em consideração a possibilidade da FA transformar-se em urbana transmitida pelo Aedes aegypti.

Resumo – A FA está em pleno desenvolvimento no Brasil aparentemente só silvestre, até agora. Os mosquitos transmissores de ambas modalidades existem. Assim, é imperioso vacinar toda a população brasileira como foi corretamente decidido pelas autoridades sanitárias do Estado do Rio de Janeiro, dentro ou fora de áreas de risco.