Água de boa qualidade é fundamental para a produção de carne e leite de qualidade, além de garantir o bem-estar dos animais.

O Código Florestal estabelece regras para a preservação dos recursos hídricos. A exigência de manutenção e/ou recuperação da mata ciliar (Área de Preservação Permanente – APP) é a principal. Com esta regra os proprietários de terra são obrigados a preservar e recompor (em caso de necessidade) uma faixa predeterminada de vegetação no entorno dos rios, nascentes, lagos, lagoas e veredas.

O acesso às APP’s só é permitido para obtenção da água desde que não exija a supressão e não comprometa a regeneração e a manutenção a longo prazo da vegetação nativa.

Cerca de 20% da área do país (167 milhões de hectares) é ocupada por pastagens. A maior parte do rebanho brasileiro, de 210 milhões de cabeças (maior rebanho mundial), é criada em pasto, o chamado “boi verde” (ABIEC, 2016).

Atualmente, a maioria do rebanho bovino consome água através do acesso direto ao recurso hídrico, ou seja, em aguadas naturais como córregos, riachos, lagos, lagoas. Esta prática promove impactos negativos tanto para os cursos de água como para a saúde dos animais pelo baixo nível da qualidade da água, ou seja, alto nível de contaminação da água ingerida pelos bovinos.

O acesso do gado às margens do curso d ́água desencadeia processos erosivos do solo, promovendo o assoreamento e, consequentemente, a disponibilidade de água. Este processo ocorre principalmente através de dois fatores:

  • A ausência de vegetação nas margens dos cursos de água faz com que a força da chuva, diretamente sobre o solo, cause processos de erosão e assoreamento.
  • O pisoteio do gado quando presente em grande quantidade aumenta a compactação do solo, diminuindo a infiltração da água.

Quando o sistema para suprir a necessidade de água do gado é através de água represada (lagos, lagoas, etc), pode haver consequências diretas na produtividade, principalmente devido à qualidade da água.

A deposição de fezes e urina do gado, dependendo da quantidade de animais, pode aumentar consideravelmente os níveis de coliformes fecais e outros microrganismos malé cos ao animal. Com isso, os índices de enfermidade no rebanho aumentam consideravelmente, prejudicando a produtividade.

Alternativas de sistemas para o uso da água

As alternativas para o uso da água em sistemas de produção pecuária exigem a realização de um diagnóstico dos recursos hídricos da propriedade. Posteriormente a este diagnóstico, é necessário que seja realizado um planejamento prévio do melhor sistema de abastecimento e sua distribuição de água.

Podemos considerar como uma boa opção o uso de aguadas naturais com o conceito do açude vivo (onde a água entra e sai de forma constante), com direcionamento e acesso dos animais de forma controlada.

Há também os bebedouros artificiais que consistem na captação de água do córrego e canalização até um reservatório na pastagem. É importante salientar que para a captação, na maioria das vezes, é necessária autorização do órgão ambiental do município, através da outorga de água.

Insumos e serviços na cadeia da pecuária no Brasil

O setor de insumos e serviços na cadeia produtiva e agroindustrial da pecuária bovina no Brasil é representado pela movimentação de várias indústrias: veterinária, máquinas e equipamentos, adubos, sementes e agroquímicos, alimentos e suplementos, serviços de reprodução animal com as técnicas de inseminação artificial e transferência de embriões, empresas de feiras, leilões, exposições e comercialização de animais, e de outros diversos segmentos envolvidos direta ou indiretamente.

Segundo o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal, SINDAN, a entidade é responsável por 90% da movimentação dos laboratórios do mercado animal.

Esse mercado farmacêutico veterinário cresceu 13% em 2015, o faturamento foi de aproximadamente R$ 5 bilhões. Foram demandadas quase 350 milhões de doses de vacina contra febre aftosa no ano de 2016, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA.

A pecuária (de corte e de leite) é responsável por 55% de todo este mercado. Entretanto, nos últimos anos, devido ao grande abate de fêmeas e a estabilização do rebanho, as vendas para a pecuária não acompanharam o aumento das vendas na agricultura.

Já a indústria de suplementos minerais, forte indicador do setor, comercializou 2,7 milhões de toneladas em 2015 contra 2,6 milhões de toneladas em 2014. Com relação ao faturamento, houve um crescimento de mais de 19% entre um ano e outro, ultrapassando o valor de R$ 4 bilhões. (Fonte: ASBRAM, Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais)

Na indústria de rações e concentrados, a pecuária (de corte e de leite) foi responsável pelo consumiu 8,03 milhões de toneladas em 2015. (Fonte: Sindirações, 2015)

De acordo com os dados do Anuário de 2015 da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), a indústria de sementes de forrageiras representou uma participação no mercado nacional de 11%. Nesse mesmo ano, as forrageiras tropicais apresentaram uma produção de mais de 67 mil toneladas.

A indústria dos serviços de reprodução animal, segundo os dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA), que representa 95% do mercado brasileiro, indica que houve um crescimento de 4,7% em 2015. Foram comercializadas 12.606.703 doses de sêmen para gado de corte e leite.

O modelo de pecuária sustentável considera o uso de produtos homeopáticos como uma das alternativas de uso de insumos mais viáveis para os rebanhos brasileiros. Segundo a Embrapa, cerca de 18 milhões de cabeças, em 2007, utilizavam produtos homeopáticos (principalmente associados ao fornecimento de sal mineral), o que representa quase 10% do rebanho nacional.

Devemos também considerar que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, MAPA, através da Secretária de Defesa Agropecuária, tem realizado ações para desburocratizar o registro de insumos e produtos veterinários. A Secretaria, em 2017, já tem uma lista de 1,8 mil pedidos de registros, ou seja, signi ca que o segmento vem tendo uma dinâmica grande quanto ao número de produtos ofertados ao produtor.

Princípios do Bem-estar animal

No conceito do bem-estar animal, eles têm cinco direitos básicos: livre de sede, fome e subnutrição; livre de desconforto; livre de dor, injúria e doença; livre para expressar comportamento normal e livre de estresse e medo.

Segundo a Farm Animal Welfare Council, 1979, entidade que define os princípios do bem-estar animal, deve-se:

  1. Garantir condições que evitem fome, sede e desnutrição;
  2. Garantir condições que evitem desconforto físico e térmico;
  3. Garantir condições que evitem dor, injúrias e doenças;
  4. Garantir condições que permitam as expressões normais de comportamento;
  5. Garantir condições que evitem medo e angústia.

Segundo Stavros Platon Tzeimazides, especialista em bem-estar animal, devemos considerar o  uxo onde a influência do ambiente interage com o manejo dos animais. A ilustração apresenta estas relações e sua importância para o êxito da implantação dos princípios do bem-estar.

No manejo com os animais, os tratadores devem ter muita calma e paciência, caso contrário eles tendem a ficar assustados e dificilmente colaborarão com aquilo que se deseja deles.

Animais que tiveram pouco contato com humanos ou que em contatos anteriores tenham ocorrido situações traumáticas, têm menor tendência a colaborar. Nessas situações é que a calma e o cuidado devem ser redobrados no manejo.

A seleção genética por temperamento é de grande importância, pois é um fator transmissível entre gerações e que pode ser de grande valia, uma vez que animais mais dóceis se estressam e machucam menos e, como consequência disso, há menos perdas no abatedouro por lesões e manchas nas carcaças, além de se obter uma carne mais dura. Animais agressivos alcançam uma média de 10-14% menos no ganho de peso.

Os animais possuem o chamado Ponto de Balanço, que é um ponto que passa perpendicular à escápula, logo atrás do ombro, e que pode ser usado para estimular a sua movimentação na direção que se deseja.

Para estimular a locomoção do animal usando o ponto de balanço, temos que conhecer o conceito de Zona de Fuga, que é uma área em torno do animal que ele considera como uma extensão de seu próprio corpo. Se invadirmos essa região, ele se afasta e se essa invasão persistir, ele foge se for possível ou vira-se e encara quem o está ameaçando e se for necessário ataca, mesmo que seja maior do que ele.

Os animais destinados ao consumo humano devem ser abatidos seguindo procedimentos técnicos e científicos que garantam seu bem-estar desde o embarque na propriedade até a operação de sangria no matadouro. A estes cuidados nesta etapa da produção animal denomina-se Abate Humanitário.

A infraestrutura de apoio nos sistemas de produção pecuária deve ser adequada para o manejo nos princípios do bem-estar animal.

Existem modelos de currais adequados para o manejo animal, assim como as recomendações dos equipamentos que podem ser implantados, como os bebedouros nos currais de manejo.

O planejamento deve considerar os seguintes pontos relativos aos princípios do bem-estar animal:

  • Considerar o comportamento animal quando planejar a infraestrutura da propriedade e manejo do rebanho;
  • Garantir que os funcionários que manejam o rebanho tenham treinamento apropriado;
  • Utilizar instalações e equipamentos adequados para o manejo dos animais;

Alguns detalhes sobre instalações nos princípios do bem-estar animal podem ser vistos a seguir: