O pioneiro é o veterinário José Freire de Faria (94) membro-titular da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, e por duas vezes presidente do Continente Americano da OIE – Organização Mundial de Saúde Animal, fundada em 1924, em Paris, para combater as enfermidades dos animais.

A partir de 1950 os países da América do Sul começaram a desenvolver, isoladamente, mas com a colaboração do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa) os primeiros trabalhos de controle da Febre Aftosa. “Encontramos a necessidade de maior participação dos países vizinhos, e as negociações com tais países resultaram na formação da COTESA – Comissão Técnica de Saúde Animal” – conta Faria. Ele continua: “Existiam técnicos de elevado conhecimento, tais como os doutores Ivo Torturela, Ubiratan Mendes Serrão, Raimundo Cunha e outros luminares, além do apoio do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa”.

A campanha

O embrião da estrutura do combate à Febre Aftosa no Brasil foi o programa criado pelo veterinário Ivo Torturela sob encomenda do colega Freire de Faria e que teve a colaboração, entre outros, dos doutores Miguel Cione Pardi e Sinval Coube Bogado.

A campanha foi institucionalizada pelo Decreto 52.344 de nove de agosto de 1963.

Duas doses de vacina

Faria enfrentou uma grande batalha dos laboratórios – por razões óbvias – quando defendeu a tese de que em vez das três doses de vacinas anuais contra a Febre Aftosa bastavam duas, de vacinas oleosas, o que prevalece até hoje. Isso foi extremamente importante para o controle dessa doença no Brasil e o sucesso das nossas exportações e sua significativa contribuição para o PIB.

No início do programa para controle da Febre Aftosa, que todos sabemos ser uma virose altamente cotagiosa, o Brasil doou vacinas para o Paraguai, a Bolívia e o Peru.

Deve-se em grande parte ao trabalho do colega Freire de Faria, ao tempo em que ocupou cargos de direção no Ministério da Agricultura, o fato do Brasil estar hoje na posição privilegiada de um dos maiores fabricantes de produtos veterinários do mundo.

Uruguai

Naquela época, o Uruguai era um país avançado em termos de tecnologia para o combate à Febre Aftosa, mas carecia de recursos materiais. A solução encontrada pelo colega Faria foi oferecer ao Ministro da Agricultura daquele país vizinho trocar 100 reprodutores leiteiros da raça Holandesa PB por veículos, indispensáveis para os trabalhos de campo. E assim foi feito: o Brasil mandou para lá 29 caminhonetes Aero-Willis e uma Kombi.

Modéstia

Modestamente, esse grande pioneiro no combate à Febre Aftosa, que foi o médico vete- rinário José Freire de Faria, tanto no Brasil como em todo o Continente Americano – do Canadá, à Argentina – faz questão de a rmar que apenas foi o seguidor dos trabalhos do colega Altamir Gonçalves de Oliveira.

Currículo

Formado pela Escola Nacional de Veterinária da atual UFRRJ, onde antes de concluir o curso e depois professor-adjunto do famoso anatomo-patologista Paulo Dacorso Filho, trabalhou no serviço de limpeza como faxineiro.

Esse maranhense de Buriti, onde nasceu em 21 de abril de 1922 e que continua ativo na profissão, sempre pautou sua vida pela vontade de “ir além” e foi mesmo muito além, frequentando diversos cursos, exercendo cargos de direção que lhe permitiram fortalecer a veterinária brasileira e trabalhando em muitos países, como: Argentina, Espanha, Equador, México, Paraguai, Estados Unidos, Portugal, Santo Domingo e São José da Costa Rica.