O jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris) também conhecido popularmente por jacaré-mariposa e jacaré-verde, pertence à Ordem Crocodylia, Família Alligatoridae e Gênero Caiman, no qual também estão presentes a jacaretinga (Caimancrocodilus) e jacaré-do-pantanal (Caiman yacare).

Geograficamente, a espécie possui uma ampla distribuição na região sudeste da América do Sul, sendo que 70% dessa distribuição se concentra no Brasil. Pode ser encontrado no nordeste da Argentina, norte do Uruguai, sul do Paraguai, sudoeste da Bolívia, sul, sudeste e nordeste do Brasil. Em nosso país, a espécie ocupa os biomas cerrado, caatinga, mata atlântica e pampas.

De acordo com a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), a espécie classifica-se na categoria de ameaça Menos Preocupante (LC) e desde o ano de 2003 deixou de ser considerada como uma espécie ameaçada no Brasil pela classificação do Ministério do Meio Ambiente. Está ainda incluída no apêndice I da Convenção Internacional para o comércio de espécies ameaçadas (CITES), exceto as populações da Argentina, que foram incluídas no apêndice II.

Apresenta coloração que varia do verde-oliva ao marrom escuro e ventre amarelado. Seu rostro é largo, característica que deu origem ao nome latirostris, derivada do latim. O jacaré-do-papo-amarelo possui o menor e mais compacto focinho dentre todos os crocodilianos, capaz de produzir uma forte mordida. Suas pernas são curtas e as patas possuem unhas grandes. A espécie apresenta dimorfismo sexual (diferença morfológica entre machos e fêmeas), sendo os machos, em geral, maiores que as fêmeas. Machos podem alcançar até 3 metros de comprimento, enquanto fêmeas, raramente alcançam 2 metros de comprimento. Como os demais membros da família, os dentes da mandíbula inferior encaixam-se dentro do limite dos dentes da mandíbula superior. Não apresentam glândula de sal (órgão que elimina do organismo o excesso de sal) e a superfície de sua língua é revestida por queratina.

A espécie habita ambientes onde há água parada ou com pouco movimento, conhecido como ambientes lênticos, tais como manguezais, charcos, reservatórios, brejos e pântanos de água doce e salgada. Podem ainda ser encontrados em locais antropizados, ou seja, aqueles modificados pelo homem, tais como estações de efluentes, reservatórios de água para gado e usinas hidrelétricas.

A temperatura do corpo interfere no metabolismo normal dos animais, influenciando em seu comportamento alimentar, social e termorregulatório. Observa-se em fêmeas reprodutivas que a temperatura corporal apresenta-se mais elevada que nas fêmeas não reprodutivas.

Quando jovens, sua dieta inclui invertebrados e pequenos vertebrados, como peixes e anfíbios, enquanto os adultos consomem invertebrados e vertebrados maiores, como peixes, répteis, aves e mamíferos de pequeno e médio porte.

O acasalamento ocorre entre os meses de agosto e janeiro, notadamente quando ocorrem as temperaturas mais elevadas. Os ninhos são construídos entre 1 e 15 dias que antecedem à desova. Na sua construção, são utilizados materiais como folhas, ramos e terra, que são amontoados, durante o período das chuvas. Para montagem dos ninhos, são selecionados três tipos de ambientes: as savanas, os embalsados (áreas úmidas muito vegetadas) e as florestas. A incubação dos ovos ocorre em um período de 65 a 90 dias.  A postura varia de 14 a 50 ovos, geralmente ocorrendo entre a tarde e a noite, e uma característica marcante, que também é observada nos demais crocodilianos é a ocorrência do cuidado parental. A fêmea permanece junto ao ninho durante todo o período de incubação e ao redor dos filhotes durante seu primeiro ano de vida, de forma a garantir a proteção do ninho contra o ataque de predadores, que incluem porcos selvagens, canídeos, carcarás e procionídeos.

Assim como nos demais membros da Ordem Crocodylia, a determinação sexual dos embriões ocorre por influência da temperatura de incubação, cuja faixa varia entre 29°C e 34,5°C. Exclusivamente fêmeas são produzidas quando os ovos são incubados entre as temperaturas de 29°C a 31°C, enquanto machos são produzidos quando a temperatura atinge 33°C. No entanto, em uma mesma ninhada, tanto machos quanto fêmeas podem ser produzidos quando a temperatura atinge 34,5°C. Observa-se ainda que em ninhos construídos em savanas, são produzidas predominantemente fêmeas, enquanto machos são produzidos predominantemente em ninhos construídos em embalsados e florestas.

No Brasil é considerada a espécie que apresenta as maiores dificuldades para garantia de sua preservação, uma vez que suas populações naturais ocorrem em ambientes altamente antropizados, nos quais há intensa atividade humana. Devido a esse fato, as populações do jacaré-de-papo-amarelo sofrem ameaças diretas do desmatamento, da redução do habitat, da poluição, da expansão urbana e especulação imobiliária, uso intenso de agrotóxicos e, ainda, da caça intensiva e imagem negativa associada ao animal em algumas regiões. De acordo com pesquisas, a caça intensiva representa o motivo da reduzida dispersão destes animais em algumas áreas.

Jacarés possuem importante papel ecológico como predadores de topo, controlando a população de indivíduos de outras espécies, portanto, sua presença é imprescindível no equilíbrio da comunidade local. A criação de Unidades de Conservação em áreas de ocorrência natural de suas populações tem sido fundamental para a garantia de sua preservação, assim como a fiscalização e aplicação das leis ambientais em áreas de ocorrência externas a estas. Como o animal pode ser explorado comercialmente, é fundamental a legalização dos criadores comerciais junto ao IBAMA. Para sua preservação, são também importantes projetos de educação ambiental que tenham por objetivo ressaltar a importância ecológica dos jacarés-de-papo-amarelo, de forma a modificar a imagem negativa associada ao animal.

Fotografias: Felipe Silva Lima Queiroz

Summary: Wild Animals – Broad-snouted caiman.
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