O mel cai do céu, principalmente durante o nascimento das estrelas e quando o arco íris descansa sobre a terra (Aristóteles, século IV a.C.).

O mel de abelhas foi o primeiro produto doce utilizado pelo homem na alimentação por seu valor nutritivo e propriedades medicinais, sendo considerado sagrado por muitas das civilizações primitivas.  Vem dos egípcios as primeiras formas de criação de abelhas, mas foi Aristóteles quem iniciou os estudos das abelhas identificando nas colmeias a rainha, os zangãos e as operárias.

Na mitologia grega era considerado o néctar dos deuses e Zeus, o maior deles, foi alimentado com mel e leite de cabra. Homero em sua celebre obra Odisséia fez referência a uma bebida, mistura de leite e mel, de nome “melikraton”.

No Brasil até a introdução do colonizador português, as únicas abelhas existentes eram as sem ferrão e as primeiras 7 colônias das europeias pertencentes a espécie Apis melíferaforam trazidas de Portugal e da Espanha pelo Padre Antônio Carneiro, desembarcadas no Rio de Janeiro em 1839. Em 1845, imigrantes alemães introduziram no sul do País a abelha Apis mellifera melífera e entre os anos de 1870 a 1880, as abelhas italianas, Apis mellifera ligustica foram introduzidas na Bahia.

Em 1956, o professor Warwick Estevam Kerr, da Universidade Federal de Uberlândia, trouxe da África com apoio do Ministério da Agricultura, colônias de abelhas africanas produtivas e resistentes a doenças, sendo levadas para o apiário de Rio Claro no Estado de São Paulo com o objetivo de avaliar a produtividade e resistência, para a definição da espécie mais adequada às condições brasileiras. Por acidente no manejo, zangões das abelhas africanas cruzaram com as rainhas das abelhas europeias, gerando um híbrido extremante agressivo e produtivo, passando a ser chamado pela comunidade científica de abelhas Africanizadas.”

Produção de mel

Estima-se que a produção mundial de mel seja superior a 1.200.000 toneladas por ano sendo a China o maior produtor, seguido da Argentina, México, Estados Unidos e Canadá havendo nos últimos 20 anos uma tendência de crescimento atribuída ao aumento no número de colmeias e da produção por colónia influenciado pelo crescente interesse em produtos naturais e saudáveis.

Mel de abelhas e seus derivados

O Regulamento técnico de identidade e qualidade do mel o define como o produto alimentício produzido pelas abelhas melíferas a partir do néctar das flores ou das secreções procedentes de partes vivas das plantas ou de excreções de insetos sugadores de plantas, que ficam sobre as partes vivas de plantas que as abelhas recolhem, transformam, combinam com substâncias específicas próprias, armazenam e deixam maturar nos favos dacolmeia.

De acordo com a tecnologia de extração dos favos pode ser classificado em mel escorrido, o obtido por escorrimento dos favos, mel prensado, obtido por prensagem dos favos e mel centrifugado obtido por centrifugação dos favos.

Para venda direta ao consumidor pode apresentar-se, nas formas líquida, a mais comum, cristalizada ou parcialmente cristalizada, em favos inteiros ou em pedaços, cremosa ou filtrada.

Na natureza a geleia real é um líquido cremoso, branco e denso produzido pelas glândulas de abelhas operárias ainda jovens para alimentar as abelhas rainhas e suas larvas aumentando o seu tamanho e longevidade, pois enquanto uma abelha operária que é estéril vive em torno de 45 dias, a rainha é fértil e chega a viver 5 anos.

Própolis é o produto oriundo de substâncias resinosas, gomosas e balsâmicas, colhidas pelas abelhas de brotos, de flores e de exsudatos de plantas, as quais acrescentam secreções salivares, cera e pólen para a elaboração final do produto.Na colmeia é utilizado no preenchimento de espaços como falhas e rachaduras, para manter a temperatura no seu interior e impedir a entrada de predadores ou de outras abelhas intrusas, para recobrir as células que guardarão os ovos colocados pela rainha e servir ainda de barreira para eliminação de microrganismos e outros agentes infecciosos para a colmeia.

Valor nutritivo do mel

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o mel tem mais de 70 substâncias essenciais ao organismo, incluindo água, glicose (carboidratos), potássio, selênio, ferro, fósforo, proteínas, vitaminas do complexo B, vitamina C e sais minerais, sendo, portanto, considerado um dos alimentos mais ricos em nutrientes.

Constitui-se em uma solução concentrada de açúcares com predominância de glicose e frutose contendo uma mistura complexa de outros hidratos de carbono, enzimas, aminoácidos, ácidos orgânicos, minerais, substâncias aromáticas, pigmentos e grãos de pólen, com a cor variando desde incolor até parda escura dependendo da origem, que  pode ser unifloral ou monoflora, quando se origina de flores de uma mesma família, gênero ou espécie e multifloral ou polifloral quando obtido a partir de diferentes origens florais.

No trabalho intitulado Mel: Características e Propriedades, os pesquisadores da EMBRAPA MEIO-NORTE Ricardo Costa Rodrigues de Camargo Fábia de Mello Pereira Maria Teresa do Rêgo Lopes Luiz Fernando Wolff, abordam ser considerado como alimento de alta qualidade, rico em energia e em inúmeras outras substâncias benéficas ao equilíbrio dos processos biológicos humanos e de pronta absorção pelo organismo, em virtude de sua composição química, especificamente quanto aos principais tipos de açúcares presentes a frutose e glicose. Entretanto a par desta importância nutritiva o consumo pela população brasileira está principalmente voltado para a característica adoçante e o aspecto medicinal, como nos casos de gripes e resfriados, o que concorre para o seu aumento substancial nos meses mais frios do ano, época de maior incidência dessas enfermidades. Na medicina popular são inúmeras as receitas e “garrafadas”, que juntamente com diversas plantas medicinais, utilizam o mel como um de seus principais componentes.

Tipos de méis

Segundo a Associação Brasileira de Estudo das Abelhas – A.B.E.L.H.A, No Brasil existem muitas variedades de méis, entretanto 12 tipos se destacam por suas peculiaridades, características distintas variando de acordo com a planta de onde é extraído o néctar, a localização geográfica dessas vegetações e das espécies de abelha produtoras, podendo ainda apresentar consistências, sabores e cores diferentes, sendo alguns deles raros e difíceis de serem encontrados no mercado convencional.

O mel da abelha Apis melíferaé consistente em função de possuir entorno de 80% de açúcares ou mais. Como geralmente as abelhas africanizadas (Apis mellifera) são transportadas para áreas específicas durante floradas intensas de uma espécie de planta e assim visitam praticamente um único tipo de flor, as características do mel produzido nesse caso, depende da planta visitada. Laranjeira: mel claro, muito valorizado pelos consumidores brasileiros devido ao aroma e coloração, predominantemente produzido em São Paulo e Minas Gerais; Eucalipto: mel relativamente escuro, rico em minerais, geralmente utilizado como expectorante. Produzido nas regiões Sul e Sudeste; Cipó-uva: mel transparente, costuma agradar os consumidores por sua coloração e aroma, predominantemente produzido em áreas de cerrado, em Minas Gerais; Bracatinga: mel não-floral ou melato, produzido a partir de cochonilhas, insetos sugadores que secretam um líquido açucarado no tronco da bracatinga, árvore nativa das regiões mais frias do sul do Brasil. Sabor muito autêntico e peculiar, muito escuro e rico em minerais, podendo chegar a um sabor amargo quando produzido das flores.

Já o mel das abelhas sem ferrão é mais fluido porque, em geral, possui 70% de açúcares e como estas costumam visitar diversos tipos de plantas ao mesmo tempo, a característica do mel é influenciada mais pelo tipo de abelha produtora do que pela espécie de planta visitada. Uruçu: mel claro e amarelado, levemente ácido, produzido no nordeste brasileiro; Mandaçaia: mel claro, às vezes transparente, não ácido, com sabor característico do material de construção usado nas colônias, produzido no sul e sudeste; Jataí: mel claro, levemente ácido, muito usado na cultura popular por suas propriedades medicinais, produzido no Brasil todo; Uruçu-amarela: mel muito ácido, produzido no Pará e considerado o melhor mel do Brasil no concurso de mel organizado pela Ame-Rio; Tiúba ou uruçu cinzenta: mel muito doce, geralmente transparente, produzido no Maranhã e Pará; Borá: mel bastante peculiar, levemente salgado possuindo aroma que lembra o sabor de queijo, ótimo para temperar saladas. Produzido na região sudeste; Jandaíra: mel levemente ácido, usado na cultura nordestina como produto medicinal, produzido na região do semiárido do Rio Grande do Norte; Mandaguari: mel levemente amargo e mais viscoso, produzido no sul e sudeste;

O chamado mel élfico é conhecido oficialmente como o mais caro do mundo. É produzido na Turquia extraído de uma caverna com mais de 1.800 metros de profundidade no vale Saricayir, na cidade de Artvin, nordeste do país, que por ser riquíssima em minerais, melhora incrivelmente o sabor do mel, aumentando drasticamente seu valor. Atualmente o valor de 1kg está orçado pelo equivalente a R$ 16.000,00, portanto acessível a pouquíssimas pessoas.