O Semiárido brasileiro se caracteriza por apresentar irregularidade na distribuição espacial e temporal das chuvas, com períodos prolongados de estiagens. Por consequência, ocorre a estacionalidade na produção quantitativa e qualitativa de alimentos volumosos para os rebanhos de animais ruminantes (bovinos, ovinos e caprinos). Dá-se então a busca por espécies forrageiras adaptadas a essas condições de produção e que possam atender às exigências de mantença e produção dos animais.

Vacas leiteiras consumindo palma forrageira.

A principal atividade desenvolvida nessas regiões é a pecuária com destaque para criação de bovinos, caprinos e ovinos, seja para produção de carne, leite ou seus derivados. Devido às oscilações na produção de forragens e à baixa disponibilidade de água principalmente na seca, a atividade pecuária sofre impactos negativos e oscilações de produção que podem resultar na inviabilidade econômica de alguns criatórios.

Opção

Assim a palma forrageira aparece como opção para o cultivo no Semiárido, por apresentar mecanismos siológicos vantajosos no que se refere a capacidade de absorção, uso e conservação de água. Por ser uma excelente fonte de reserva forrageira, sua importância na sustentabilidade regional da pecuária de ruminantes é significativa, seguimento este atingido pela irregularidade na oferta de alimentos para os rebanhos.

Principais espécies

As principais espécies de palma forrageira que contribuem signi cativamente na alimentação dos rebanhos é a Opuntia ficus-indica Mill com as variedades gigante, redonda e clone IPA-20 e Napolea cochenillifera Salm-Dyck, cuja variedade é a palma miúda ou doce.

A palma gigante apresenta porte bem desenvolvido, com caule com pouco rami cado, isso lhe confere um aspecto mais ereto. Em contrapartida, a palma miúda apresenta-se como uma planta de porte pequeno e com caule bastante ramificado (LOPES, 2012). A palma forrageira tem sido frequentemente utilizada como ingrediente alimentar dos rebanhos de ruminantes no Semiárido, principalmente, por apresentar alta produtividade, além de garantir o atendimento de parte signi cativa das exigências dietéticas de água pelos animais.

Composição química

A palma forrageira apresenta composição química variável, o que está intrinsicamente relacionada com a espécie, época do ano, tratos culturais, dentre outros fatores. Independente da espécie em questão, a palma forrageira apresenta baixo teor de matéria seca (11,69 ± 2,56%), proteína bruta (4,81 ± 1,16%), bra em detergente neutro (26,79 ± 5,07%), bra em detergente ácido (18,85 ± 3,17%), carboidratos totais (81,12 ± 5,9%), carboidratos não brosos (58,55 ± 8,13%), carboidratos não estruturais (49,9 ± 19%) e matéria mineral (12,04 ± 4,7%), (FEREIRA et al., 2012). Diversos estudos têm comprovado a varia- bilidade da composição da palma forrageira independente do gênero (Quadro 1).

Devido aos baixos teores de matéria seca, fibra em detergente neutro e proteína bruta, recomenda-se ofertar a palma forrageira associada a fontes de bra de alta efetividade e fontes proteicas. Assim, previne-se a ocorrência de distúrbios metabólicos que possam comprometer a saúde e a produção dos rebanhos.

Maneira de ofertar

Uma boa maneira de ofertar a palma forrageira para os animais é na forma de mistura completa, em que a palma previamente picada é disponibilizada junto a fontes de alimentos com maiores conteúdos de bra (silagens, fenos e capins picados) e ingredientes concentrados, quando for o caso. Em estudo realizado por Vanderley et al. (2002), avaliando o desempenho de vacas da raça Holandesa em lactação, alimentadas com rações contendo diferentes níveis (0, 12, 24 e 36%) de palma forrageira (Opuntia ficus indica Mill) em substituição à silagem de sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench), foi possível manter a gordura do leite em níveis normais e melhorar a conversão alimentar e o consumo de nutrientes, associando a palma com a silagem de sorgo forrageiro.

Em trabalho desenvolvido por Araújo et al. (2004), foi avaliada a substituição do milho por palma forrageira em dietas completas para vaca em lactação, onde não houve diferença no consumo de matéria seca das dietas preparadas com as diferentes cultivares de palma (gigante e miúda). No entanto, ocorreu maior consumo de matéria seca nas dietas contendo milho, as quais apresentaram maior teor de matéria seca, em relação às dietas sem milho. Em relação ao consumo de bra em detergente neutro, houve diferença entre as cultivares de palma, em que os animais alimentados com palma gigante apresentaram maior consumo (5,80 kg/dia e 1,18% do peso corporal) em relação aos alimentados com palma miúda (5,19 kg/dia e 1,05% do peso corporal), o que foi associado ao maior teor de FDN da palma gigante (27,7%) em relação à palma miúda (16,6%). Os autores concluíram que é possível substituir o milho por palma forrageira em dietas que contenham pelo menos 36% de palma, sem alteração dos coe cientes de digestibilidade, mantendo-se níveis de produção de leite e de gordura satisfatórios e com baixa utilização de concentrado na dieta.

Bispo et al. (2007) avaliaram os efeitos do uso da palma forrageira em substituição de feno de capim-elefante em dietas para ovinos sobre o consumo, digestibilidade e características de fermentação ruminal. Os autores verificaram que os consumos de matéria seca, matéria orgânica, carboidratos totais e nitrogênio digestíveis totais aumentaram linearmente com a substituição do feno de capim-elefante por palma forrageira na dieta. O consumo de água diminuiu linearmente e o de FDN apresentou efeito quadrático, com essa substituição. Os coe cientes de digestibilidade aparente de extrato etéreo, proteína bruta, carboidratos não brosos e bra em detergente neutro não foram influenciados, enquanto os de matéria seca, matéria orgânica e carboidratos totais aumentaram linearmente com a substituição do feno de capim-elefante. Concluiu-se que o uso de até 56,0% de palma forrageira em substituição ao feno de capim-elefante resultou em aumento do consumo e melhoria do aproveitamento dos nutrientes.

Goveia et al. (2016) avaliaram a substituição parcial do milho (Zea mays L.) pela palma forrageira miúda (Nopalea cochenillifera Salm-Dyck) em dietas para cabras em lactação, sobre o con- sumo de nutrientes, a produção e a composição do leite. Foram utilizados cinco níveis (20, 25, 30, 35 e 40%) de palma forrageira em substituição ao milho associado ao feno de gliricídia (Gliricidia Sepium (Jacq) Walp). Os consumos de matéria seca, proteína, bra em detergente neutro, e dos nutrientes digestíveis totais não foram in uenciados, apresentando médias iguais a 1,64; 0,26; 0,82 e 1,17 kg/dia, respectivamente. Também não houve in uência dos níveis na produção de leite (kg/dia) e nos teores (%) de gordura, proteína, lactose e sólidos totais do leite, com médias iguais a 1,18; 3,74; 3,34; 5,06 e 13,56, respectivamente. Concluiu-se que a substituição parcial do milho pela palma forrageira em rações para cabras leiteiras pode ser realizada, tendo sido recomendado o nível de 35% de palma em função do menor comprometimento da receita com alimentação dos animais.

Alimentação no Semiárido

Assim, o uso da palma forrageira na alimentação de ruminantes no Semiárido brasileiro deve ser mais difundido, pela sua adaptação ao cultivo e pela possibilidade de uso enquanto reserva alimentar estratégica para os rebanhos, em especial nos períodos secos. Além disso, a palma apresenta ainda boa palatabilidade, alto valor energético e boa digestibilidade.