Macho adulto de veado-campeiro no Parque Nacional da Serra da Canastra. (Agosto de 2016).

O veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), também conhecido por veado-branco, é uma das oito espécies de cervídeos reconhecidas no Brasil. São descritas cinco subespécies de veado-campeiro, sendo duas, Ozotoceros bezoarticus bezoarticus e Ozotocerus bezoarticus leucogaster, presentes no território brasileiro.

Sua distribuição geográfica é relatada desde o período de ocorrência de expedições naturalistas e se dava amplamente em ambientes abertos de países como Brasil, Bolívia, Uruguai e Paraguai. No entanto, hoje, como a maioria dos cervídeos, suas populações se encontram em declínio, isoladas e reunidas em poucas localidades ao longo da distribuição original da espécie.

De acordo com dados de pesquisas sobre a distribuição geográfica do veado-campeiro, a subespécie Ozotoceros bezoarticus bezoarticus , está presente em áreas da região centro-oeste brasileira, entre o sul da bacia amazônica e planalto mato-grossense, até as margens do Rio São Francisco e também  ao sul do Rio Grande do Sul. Já a subespécie Ozotocerus bezoarticus leucogaster  está distribuída na região sudoeste do Brasil, sul do Mato Grosso e no sudoeste da Bolívia e Paraguai.

A espécie foi incluída na lista nacional das espécies ameaçadas de extinção do ano de 2014, sendo classificada como vulnerável (VU) e, de acordo com a IUCN (International Union for Conservation of Nature) é classificada como quase ameaçada (NT). Está também incluída no apêndice I da CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção).

São animais que apresentam médio porte, machos adultos atingem 1,2 a 1,5 m de comprimento e 0,7 a 0,75m de altura, pesando entre 30 a 40 kg, sendo observadas variações entre indivíduos e entre populações. A pelagem, geralmente baia (que varia do amarelo até o bege escuro) apresenta diferenças nos tons conforme a subespécie.  Filhotes com menos de dois meses de idade apresentam linhas de manchas brancas dorsais e laterais. O focinho e parte superior da cauda são negros, enquanto a região interna das orelhas, região ventral, lateral do focinho, abaixo da mandíbula e ao redor dos olhos é de cor branca. Distingue-se de outras espécies de cervídeos pela presença de um par de chifres nos machos, com duas bifurcações em cada um nos adultos, e nos jovens com apenas uma bifurcação.

São animais sociais, que vivem em pequenos grupos compostos geralmente por cinco a seis indivíduos. São  ruminantes, classificados como pastadores-podadores, que alimentam-se continuamente, deslocando-se lentamente na busca por alimento, que inclui uma variedade de vegetais e suas partes, como arbustos, folhas e flores de rápida digestão.

Durante o período de acasalamento, os machos demarcam seu território através de secreções de glândulas presentes nos cascos dianteiros e chifres, que são esfregados no solo ou em arbustos e ainda, pela liberação de fezes e urina.  Para conquistar a fêmea, os machos travam uma pequena luta, onde encaixam seus chifres e empurram-se, tentando fazer com que seu adversário encoste a cabeça no solo. As fêmeas desta espécie são poliéstricas, ou seja, apresentam vários períodos de cio, com ciclos que duram cerca de 21 dias. Quando observam que a fêmea entrou em cio, os machos dominantes começam a aproximar-se delas, afastando-as do grupo para o acasalamento.


Fêmea de veado-campeiro em período gestacional no Parque Nacional da Serra da Canastra. (Agosto de 2016).

O período de gestação dura em torno de sete meses e a época dos nascimentos geralmente ocorre nos meses de agosto a outubro, exatamente no período onde há maior oferta de alimento, sendo este um fato importante, uma vez que a gestação e a lactação exigem grande gasto energético. Na fase que precede o nascimento do filhote, as fêmeas prenhes tendem a se isolar do grupo ao qual pertence, preparando o ninho em local discreto e permanecendo assim por vários dias após dar a luz. Para proteger seu filhote do ataque de predadores, que incluem animais como onças-pintadas, suçuaranas e até mesmo jaguatiricas, javalis e graxaim-do-campo, as fêmeas os mantêm escondidos. Com a aproximação do suposto perigo, a fêmea move-se para o lado oposto, enquanto o filhote permanece deitado, camuflado na vegetação, e eventualmente olha na direção onde o mesmo se encontra, em uma tentativa de despistar o predador.  Por volta dos quatro meses de idade ocorre o desmame do filhote, quando a fêmea pode novamente entrar no cio.

A troca anual dos chifres e seu crescimento é um aspecto fisiológico característico desta espécie, relacionado às variações nos níveis do hormônio testosterona. A troca ocorre de forma cíclica, observando-se que geralmente se dá entre os meses de abril a maio no Cerrado e entre julho a setembro no Pantanal. Um tecido aveludado chamado de velame recobre a galhada, sendo responsável pela nutrição e proteção do chifre em desenvolvimento. A perda da galhada ocorre a partir da fricção feita pelo animal em galhos e pedras, culminando no rompimento do velame e expondo o osso, sendo observado um pequeno sangramento na região. Dessa forma, a irrigação sanguínea dos chifres diminui e a união entre estes e o pedicelo do crânio se enfraquece. Forma-se uma cicatriz e a contratura da ferida permite o crescimento de um novo chifre, a partir do pedicelo. O processo de crescimento de um novo chifre dura cerca de 30 dias.


Veado-campeiro após possível tentativa de predação ou disputa por território com outro macho da espécie. Pode-se observar o osso dos chifres exposto e o velame rompido. Parque Nacional da Serra da Canastra (Agosto de 2016).

Muitas são as ameaças às quais o veado-campeiro está exposto, tais como a redução do habitat, devido à ação antrópica, a caça excessiva e ainda a ocorrência de doenças transmitidas pela proximidade com animais domésticos.

O crescimento populacional, desmatamento e avanço das fronteiras agrícolas, principalmente do cultivo de soja, cana-de-açúcar e eucalipto e expansão da pecuária, representam um dos principais fatores responsáveis pelo declínio e isolamento das populações desta espécie, por levar a fragmentação do habitat.

A caça excessiva é um fator de redução populacional, facilitada pelo fato do veado-campeiro apresentar padrão de atividade diurno e ocupar ambientes abertos, aumentando a chance de visualização e aproximação dos animais. A presença deste animal próximo a ambientes urbanos, seja pela busca por alimentos ou por perda do habitat, favorece ainda a ocorrência de atropelamentos.

Veados-campeiros são susceptíveis a diversas doenças que afetam animais domésticos, tanto aquelas causadas por ectoparasitos, como moscas e carrapatos, e endoparasitos, como helmintos causadores de verminoses. Podem ainda contrair doenças como Leptospirose, Toxoplasmose e Babesiose.

O fato de ser uma espécie com populações em declínio e ameaçada de extinção, aponta para uma especial atenção para sua preservação. O Plano de Ação Nacional para a conservação dos cervídeos ameaçados de extinção contempla um conjunto de ações para a preservação desta espécie e de outros cervídeos ameaçados. Dentre as ações, são propostas o incentivo à criação de novas unidades de conservação, pois atualmente as populações dessa espécie encontram-se em 21 destas unidades, pelos biomas do Cerrado e do Pantanal brasileiros. Propõem-se ainda o estímulo a pesquisas que auxiliem no maior conhecimento da espécie, fiscalização para coibir a caça, eliminação da presença de animais domésticos em áreas protegidas onde o animal vive, medidas de reintrodução, dentre outras. Tais medidas são fundamentais para assegurar que o veado-campeiro e outras espécies de cervídeos possam ser preservadas.


Casal de Ozotoceros bezoarticus alimentando-se das gramíneas que estão rebrotando após uma queimada local no Parque Nacional da Serra da Canastra, agosto de 2016.

Fotos: Daphnne Chelles Marins

Summary: Wild Animals – Pampas Deer. For more information contact: marciobarizoncepeda@yahoo.com.br or aline.sustentabilidade@gmail.com