Sobre a doença

A influenza aviária (IA) é uma doença infectocontagiosa causada pelo vírus da influenza tipo A, pertencente à família Orthomyxoviridae. É uma doença significativamente contagiosa e maléfica entre aves domésticas e silvestres, quando causada por cepas de alta patogenicidade do vírus. No Brasil é considerada uma doença de notificação obrigatória, por se tratar de uma enfermidade exótica, ou seja, nunca antes descrita no país, sendo o Brasil livre da mesma. A IA, além de transmissível entre as aves, é uma zoonose, isto significa que é capaz de ser transmitida para humanos, através do contato direto com secreções e excreções de aves infectadas. As manifestações clínicas em humanos tendem a ter elevada gravidade e letalidade, contudo podendo haver variações dependendo da cepa do vírus, enquanto nas aves o vírus provoca quadro respiratório grave e morte súbita, proporcionando um potencial altíssimo para a imposição de barreiras sanitárias e interrupção completa da produção avícola nacional e mundial.

Produção avícola brasileira

No que diz respeito à importância da produção avícola para a economia brasileira, o Brasil é o segundo maior produtor de frango no mundo e o maior exportador mundial. Em 2022, a exportação de carne de frango totalizou aproximadamente 4,822 milhões de toneladas, superando o ano de 2021, que alcançou exportações de 4,609 milhões de toneladas, segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

Além da produção e exportação dessa proteína, o Brasil é o sexto maior produtor de ovos, e teve ao longo do ano de 2022 exportações de 9,474 mil toneladas, também segundo a ABPA. Apesar das exportações desse produto serem menores que as de carne de frango, há um alto consumo de ovos dentro do país, tendo seu recorde sido alcançado em 2021, onde foram consumidas em média 257 unidades por cada brasileiro.

Visto a grandiosidade da atividade avícola nos últimos anos, ressalta-se que em questão de ganhos, a receita obtida com as exportações de frango no último ano foi de 9,762 bilhões de dólares (27,4% superior à receita de 2021), assim como a receita referente a exportação de ovos foi de 22,419 milhões de dólares (24,2% superior à receita de 2021). Assim, é possível de se ter a dimensão do impacto que uma doença como a Influenza Aviária provocaria à produção de frango e ovos, bem como ao mercado interno e externo e o prejuízo que isso levaria ao setor avícola e saúde pública.

Impactos da influenza na produção avícola mundial e nacional

No último ano, mais de 40 países foram atingidos pela Influenza Aviária, nos EUA no período entre dezembro de 2021 e abril de 2022 foram mais de 40 milhões de aves perdidas e na Europa aproximadamente 48 milhões de aves foram abatidas em 37 países. Além disso, segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH) até o dia 16 de fevereiro deste ano, a Influenza Aviária de alta patogenicidade foi relatada em 11 países da América Central e do Sul (Bolívia, Venezuela, Colômbia, Costa Rica, Honduras, Equador, Panamá, Peru, Chile, Argentina e Uruguai). Um dos focos da doença foi registrado na cidade de Acandí, Colômbia, que fica a aproximadamente 1.300km da fronteira com o Brasil, localizada no estado do Amazonas, destacando o risco para o país e o quão necessária é a manutenção de medidas de prevenção e monitoramento da doença. Dessa forma, evitaria que a IA atingisse o setor avícola no Brasil e, caso ocorresse, seria possível o controle da evolução e disseminação em território brasileiro.

De acordo com o alerta epidemiológico publicado pela OPS (Organização Pan-Americana de Saúde) no dia 11 de janeiro deste ano, os surtos da doença em aves domésticas e silvestres continuam ocorrendo nos continentes Americanos e, baseando-se no padrão sazonal da Influenza, tende a aumentar nos próximos meses. Neste alerta, reiteram aos países as orientações relacionadas a vigilância, monitoramento e investigação, não apenas da influenza aviária, mas de outras doenças respiratórias que acometam animais e humanos, bem como a preparação e planejamento para a possibilidade de uma pandemia de Influenza. Visto que em abril de 2022 e janeiro de 2023 houve a notificação dos primeiros casos de IA em humanos no Caribe e na América Latina (Equador), respectivamente.

Mapa com focos da Influenza Aviária – Embrapa Suínos e Aves

Se tratando de outro país latino-americano, no Peru foram registradas as mortes de aproximadamente 55 mil aves em oito áreas ambientais protegidas, segundo o Sernanp (Serviço Nacional de Áreas Naturais Protegidas pelo Estado), dentre as aves afetadas pela doença, as principais foram os pelicanos, gaivotas e pinguins. Ainda no Peru, além das aves, foram notificadas as mortes de 585 leões-marinhos pela influenza aviária, que motivaram a coleta de amostras dos animais afetados para posterior diagnóstico pela Universidade Nacional Mayor de San Marcos, constatando a ocorrência da doença.

Com os casos de IA em espécies normalmente não afetadas por ela, se torna imprescindível os cuidados não apenas com as aves, mas também com outras espécies animais e com os humanos. Sendo de extrema importância os cuidados por aqueles que diretamente ou indiretamente possam vir a ter contato com aves infectadas em países atualmente com surtos da doença, recomendando-se o uso de equipamentos de proteção individual que evitem a transmissão zoonótica nesses casos. Importante ressaltar que o deslocamento de pessoas e mercadorias pelo mundo aumenta significativamente o risco de dispersão de doenças como a Influenza Aviária, devendo haver ainda mais cuidado com viajantes e mercadorias que venham de países afetados pela influenza para países ainda ilesos como o Brasil.

Em terras brasileiras, o impacto causado caso a doença se instalasse é incalculável, podendo afetar os mais diversos setores que, juntos, compõem a cadeia produtiva da avicultura brasileira. Diante de um bloqueio nas exportações, a produção é totalmente utilizada pelo mercado interno, havendo inicialmente uma redução do preço dos produtos finais, devido a um excesso dos mesmos na produção e posteriormente no mercado. Contudo, a longo prazo, a possibilidade de escassez desses produtos poderia levar ao aumento do preço destes no comércio do país, afetando principalmente as classes sociais menos favorecidas que têm grande parte de sua alimentação baseada no consumo de ovos e carne de frango, por conta de seus valores mais acessíveis.

Além do prejuízo econômico já citado anteriormente, um surto da doença no Brasil provocaria um alto índice de desemprego, que afetaria não apenas aqueles que trabalham propriamente no setor avícola, mas também colaboradores dos mais diversos setores necessários para o pleno desenvolvimento da atividade. São eles: setores responsáveis por matéria-prima e rações, transporte, medicamentos, fornecimento de tecnologia e equipamentos e setores de pesquisa, entre vários outros que apesar de despercebidos em sua importância, são essenciais para que o Brasil permaneça em sua posição de grande produtor e exportador, bem como de nação livre da Influenza Aviária.

Vale ressaltar que o país permanece livre da doença graças a eficiência em relação a biosseguridade e vigilância implementadas no território, assim como as ações de prevenção e cuidados executados pelos órgãos estaduais de defesa agropecuária. Estes órgãos, fundamentados pelo PNSA (Programa Nacional de Sanidade Avícola) estabelecem as normas e regras que visam garantir uma avicultura bem estruturada e segura no que diz respeito ao risco de instalação de doenças avícolas no país, aquelas de importância não só para a produção animal como também para a saúde pública.

Referências

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Por: Giovana Côrtes Amorim e Rafael Moreira Ancora da Luz – Discentes do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Sob a supervisão de Clayton Bernardinelli Gitti – Docente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro