O uso de animais não humanos com fins medicinais é chamado de zooterapia. Esse campo científico possui íntimas ligações com a etnofarmacologia, disciplina que investiga como plantas, animais e minerais podem ser úteis na criação de novos medicamentos (Alves, Dias, 2010). No documento Guidelines on Conservation of Medicinal Plants, publicado em 1993 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi estimado que entre 75 a 80% da população mundial dependia dessa terapêutica para a atenção à saúde. Dessa forma, cresceu nos últimos anos o investimento em pesquisas econômicas, educacionais, etnográficas, botânicas, farmacêuticas e ecológicas sobre os usos de biomateriais como alternativa à medicina alopática e suas implicações para a saúde pública no mundo contemporâneo (WHO, 1993).

A zooterapia integra as controvérsias acerca da origem do novo coronavírus Sars-Cov-2. Vale observar que as hipóteses a respeito da emergência da Covid-19 levam em consideração três dinâmicas nas quais a presença de animais não humanos portadores de coronavírus é notória. Essas dinâmicas são as seguintes: 1-a zooterapia praticada pela medicina tradicional chinesa; 2-as interações de manejo e venda da fauna em mercados atacadistas de animais vivos, 3- o constante tráfico internacional ilegal de múltiplas espécies. Desse modo, se, de um lado, é inegável o papel de animais em interações que estão na origem de emergências sanitárias recentes, também é relevante evidenciar a coparticipação dos animais não humanos na produção de medicamentos, sobretudo quando vislumbramos os possíveis empregos de biomateriais no tratamento futuro, inclusive, da própria Covid-19.