Inovação e uso da inteligência artificial devem nortear futuro do segmento
O futuro da pecuária tem na digitalização dos processos um dos principais diferenciais. Sendo assim, é preciso que o pecuarista tenha em mente que não basta ter eficiência no processo produtivo dos animais, no manejo, na nutrição, etc… Também é preciso ter gestão, já que a pecuária é uma atividade empresarial que exige planejamento, estratégia, controles financeiros, recursos humanos, como tantas outras, e o pecuarista precisa entender que ele é um empresário.
A inclusão da pecuária dentro de um modelo digital e mais automatizado permite o ganho em produtividade, eficiência e mais precisão em análises de dados de cada propriedade rural. As tomadas de decisão passam a ser mais assertivas. Os produtores evitam, assim, erros e garantem maior eficiência.
Para o médico veterinário e diretor geral da Biogénesis Bagó, Marcelo Bulman, ao analisarmos a nossa vida há algumas décadas, sem internet, sem celular, sem computador e traçarmos um paralelo dentro de um contexto social, essa mesma análise pode ser feita em relação ao campo.
Segundo ele, o agronegócio também deve acompanhar essa evolução, inclusive considerando a necessidade de qualificação profissional. “Qual o perfil do profissional que o campo precisará daqui a cinco ou dez anos? Essa é uma pergunta que precisa ser feita”, questiona. “Com certeza, ele deve também dominar diferentes ferramentas de gestão informatizadas e conectadas ao mundo digital”, completa.
De acordo com Bulman, é preciso encorajar o pecuarista brasileiro a melhorar seus índices de produtividade utilizando os recursos mais modernos disponíveis nos diversos elos da cadeia. “É necessário diminuir a lacuna existente entre o que há hoje de produção animal e o que se espera alcançar para atendermos a demanda do mercado mundial de proteína animal”, acrescenta.
Nesse viés, ele destaca que a pecuária se reinventa com novos pilares de sustentação e o que se resumia a um ‘tripé’ foi ampliado e passa a considerar sanidade, nutrição, genética, bem-estar animal, sustentabilidade e gestão para a evolução do setor
Segundo ele, foi-se o tempo em que apenas o “tripé” sanidade, genética e nutrição eram suficientes para sustentar a produção pecuária, que foi, por muitas décadas, a base da pecuária tradicional. “Porém, o mundo mudou e a necessidade de se obter a excelência operacional nos ganhos produtivos utilizando novos recursos e novas tecnologias fez com que a pecuária moderna passasse a exigir cada vez mais resultados em um menor espaço de tempo e território”, pondera.
Nova era
Para Bulman, novas conexões entre os pilares do bem-estar animal, da sustentabilidade e da gestão, juntamente com os tradicionais pilares da genética, da nutrição e da saúde animal, têm trazido à tona uma interface significativa entre os setores da pesquisa, da indústria e da produção pecuária. Como resultado dessa interface, explica, tem-se uma nova forma de atuação no campo, que vai além da implementação de tecnologia.
Na visão do médico veterinário, a sinergia e a conectividade entre as diversas empresas pelo lado da indústria que passam a atuar de forma integrada junto a instituições de pesquisas e biotecnologias, estão promovendo um verdadeiro extensionismo tecnológico no campo. “As nossas equipes levam tecnologia tanto para as revendas e cooperativas agropecuárias (essas fazem a distribuição das soluções ao campo), quanto diretamente aos produtores”, explica.
Segundo ele, uma das propostas é ajudar os produtores a enxergar que o tripé que sustentava a pecuária até então não é o que levará para o futuro da atividade tão exigida e pressionada pelo aumento do consumo de proteína animal no Brasil e no mundo. “Por isso, defendemos que a pecuária do futuro deve ser sustentada nesses seis pilares: sanidade, nutrição, genética, bem-estar animal, sustentabilidade e gestão. São esses pilares conectados que permitirão produzir o que estamos chamando de Boi Azul”, diz.
Intensificação dos processos
O especialista lembra que o Brasil tem por volta de 1,5 milhão de pecuaristas e é preciso toda ajuda disponível para que a tecnologia chegue a cada um deles. “No topo da pirâmide estão os grandes produtores, com mais facilidade de acesso à tecnologia. No meio e na base existem os médios e os pequenos, que têm mais dificuldades para conseguir acessar as soluções tecnológicas”, analisa.
Nesse sentido, ele acrescenta que é preciso integrar os diversos elos da cadeia produtiva para que cada um faça a sua parte para levar a tecnologia à ponta, discutindo como produzir cada vez mais e melhor utilizando os recursos e tecnologias disponíveis.
Bulman afirma que os produtores estão longe dos índices ideais, e a ‘chave’ para alcançar o desenvolvimento, em sua opinião, está em utilizar de forma eficiente os recursos, já que não é viável aumentar a quantidade de cabeças, pois áreas destinadas à pastagem dificilmente irão crescer.
“Queremos contribuir para que o produtor possa identificar seus atuais índices de produção e vislumbrar até onde pode chegar, estimulando a reflexão em como é possível poder avançar na brecha tecnológica e otimizar seus recursos dentro da fazenda”, destaca.
A medicina veterinária como aliada
Como parte da indústria veterinária, ele acredita que esta tem que cumprir com a obrigação de contribuir para o desenvolvimento da pecuária, já que ela é um dos elos responsáveis por levar ao pecuarista informações, novas tecnologias e recursos disponíveis para que ele possa otimizar sua atividade e produzir de maneira eficiente.
“É preciso trazer para o nosso lado profissionais sintonizados em fazer a gestão de pessoas no mercado veterinário. Não dá para fugir do binômio treinamento e desenvolvimento de pessoas, dentro de suas características e da sua realidade. Só a capacitação profissional fará com que as inovações tecnológicas sejam de fato utilizadas e assim possam contribuir cada vez mais para o desenvolvimento sustentável do setor”, diz.
Responsabilidades da cadeia produtiva
O veterinário evidencia que, além dos investimentos em inovação, tecnologia e digitalização dos processos, a gestão é o pilar direcionador de todos os outros cinco pilares. “Sem dúvida, a gestão operacionaliza todos os outros pilares. A tomada de decisão frente às oportunidades, ameaças, fortalezas e fraquezas do sistema produtivo é o fator decisivo para que se defina o sucesso ou o fracasso da produção”, aponta.
Conforme explica, a criação do projeto ‘Boi Azul’ tomou por base algumas projeções: A produção de carne deverá aumentar em 7%, segundo estimativas da FAO, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, em 2050, já que, até 2050, o mundo terá 35% a mais de pessoas.
“Os países da América Latina têm recursos naturais, profissionais e tecnológicos suficientes para abastecer grande parte da demanda mundial de proteína animal. Para isso, os produtores deverão intensificar seus sistemas e elevar os índices de produção de carne e leite”, comenta.
Ele destaca que é relevante considerar que 18% da produção de proteína animal do mundo está na América Latina, 31% do que se exporta de proteína animal provém daqui, assim como 10% da produção de leite mundial. E mais. De cada cinco pratos de comida no mundo, um é produzido pelo Brasil. Daí que vem a nossa responsabilidade”, enfatiza o veterinário..
Ele lembra que, atualmente, o Brasil alimenta 800 milhões de pessoas pelo mundo e esse número tende a crescer e, por isso, é necessário evoluir, ou seja, produzir mais e produzir melhor. “Nossa meta é ter a certeza da obtenção da marca ‘1 bezerro por vaca por ano’. A tecnologia para fazer isso já temos. O que estamos avançando é na forma de comunicar ao produtor as melhores maneiras para trabalhar dentro dos seis pilares acima citados”, explica.
Por fim, o especialista destaca que a missão é aproximar o produtor das ferramentas que vão se traduzir em resultados, no campo e na balança comercial, como parte de um conceito de produção, em uma estrutura que resulta em produtividade e desencadeia processos sustentáveis, fazendo a pecuária crescer cada vez melhor, levando ao produtor brasileiro a importância da gestão, do conhecimento, da inovação e da tecnologia. “Somente assim, o nosso boi será cada vez mais ‘azul’. Nossa pecuária não pode ficar no vermelho. O boi tem que estar sempre no azul”, arremata Bulman.