Introdução 

A Clamidiose é uma doença causada pela bactéria intracelular obrigatória Chlamydophila psittaci, que pode ser altamente contagiosa tanto em animais como em humanos. Esse agente representa atualmente um dos principais problemas na clínica de aves de companhia, afetando principalmente os sistemas respiratório, digestório e geniturinário.

As aves podem apresentar prostração, anorexia, desidratação, secreção ocular, nasal ou conjuntival, conjuntivite, blefarite, dispneia, poliúria, biliverdinúria e diarreia. A sua importância em saúde pública se dá pelo convívio humano com aves ou com ambiente contaminado por seus excrementos. A doença em seres humanos pode variar desde uma pneumonia intersticial a uma encefalite, tendo, portanto, a infecção aviária, grande relevância sanitária.

A clamidiose e a saúde pública

A Clamidiose representa um grande risco zoonótico. O ser humano pode se infectar principalmente por inalação do agente, podendo também ocorrer por meio do contato com a urina, secreções respiratórias e oculares, fezes secas de aves infectadas que são dispersas no ar como aerossóis ou pela manipulação da plumagem e tecidos de aves infectadas.

A Clamidiose humana é mais comumente reportada entre pessoas com contato estreito com aves domésticas. Os indivíduos com ocupações associadas à aves de produção comercial e aqueles com contato de rotina com aves de companhia ou de aviários são considerados como aqueles com maior risco de infecção.

Estudos demonstraram que os indivíduos positivos para C. pisittaci, eram detentores de aves de companhia oriundos de diferentes criatórios. Deve-se atentar que são esperadas prevalências consideravelmente elevadas de casos em território nacional, visto que o Brasil é o país com maior número de espécies de psitacídeos no mundo, e que estes são o maior reservatório de Clamidiose. Acrescentam-se aos psitacídeos nativos, os exóticos importados, tais como Cacatua alba (cacatua) e Nymphicus hollandicus (calopsita), que pertencendo à ordem Psittaciformes, são potenciais carreadores de C. psittaci.

Foto: Papagaios interagindo

Diagnóstico e Tratamento

Os métodos diagnósticos de Clamidiose animal são baseados na detecção direta do agente ou por detecção de anticorpos contra o mesmo. Em aves, suabes de coana e orofaringe são mais eficazes para o diagnóstico em relação ao suabe fecal, particularmente durante estágios iniciais da infecção.

A coleta unicamente de amostras fecais pode impossibilitar a detecção de infecções em estágios iniciais, uma vez que a eliminação pelas fezes ocorre após a multiplicação bacteriana primária no trato respiratório e septicemia. Vale ainda salientar que, devido à eliminação fecal intermitente, animais carreadores saudáveis podem não eliminar o agente por mais de um ano por essa via.

Embora os protocolos terapêuticos geralmente sejam bem-sucedidos, o tratamento para Clamidiose aviária pode ser bem complicado devido a que o conhecimento sobre o assunto está em evolução, por ser uma doença que não existe condição segura que garanta a eliminação completa da Chlamydophila psittaci.

As medicações mais usadas no tratamento da doença pertencem ao grupo das tetraciclinas (antibióticos naturais ou semissintéticos), embora quinolonas (enflorxacina) e macrolídeos (azitromicina) também tenham sido usados.

Prevenção e controle

Pela ausência de um teste de triagem específico para detecção de Chlamydophila psittaci, a prevenção da Clamidiose em aves nos criatórios torna- se uma tarefa difícil. No Brasil, ela não é uma doença de notificação compulsória e não se encontra sob vigilância epidemiológica, sendo investigados apenas os surtos eventuais. Cuidados com relação às fronteiras, à quarentena, ao tratamento do plantel suspeito e ao movimento de aves migratórias estão entre as diversas medidas de controle e vigilância sanitária recomendadas.

Devido à ausência de vacina disponível, as aplicações adequadas de biossegurança são essenciais para controlar a introdução e o desenvolvimento do agente infeccioso numa população aviária. As medidas de limpeza e desinfecção do ambiente e isolamento são necessárias para o tratamento de aves infectadas. Utiliza-se também quarentena, manejos nutricional e sanitário adequados, efetuando a destinação correta de carcaças e objetos contaminados, além de realização de vazio sanitário, são medidas fundamentais para prevenir a disseminação do agente nos viveiros. O uso de EPI’s, (quipamento de proteção individual) são importantes para proteger os profissionais individualmente, reduzindo qualquer tipo de ameaça ou risco para manuseamento das gaiolas, ou de materiais contaminados com as bactérias.

A Chlamydophila psittaci é muito sensível à maioria dos desinfetantes e detergentes e outros desinfetantes. Exemplos de desinfetantes incluem compostos de amônia quaternária (1:1000), álcool a 70%, hipoclorito de sódio (1:100), peróxido de hidrogênio e formalina, álcool isopropílico a 80% e iodóforos (CAVALCANTE, 2008).

Foto: Arara se alimentando

Conclusão

Medidas sanitárias fazem-se necessárias para garantir a saúde de aves, cativas ou livres, e dos seres humanos suscetíveis à infecção pela proximidade com as mesmas, seja por risco ocupacional ou não. Sendo assim, deve-se evitar o contato direto com aves de vida livre, doentes ou mortas e seus excrementos, e utilizar luvas e máscaras quando esse contato for inevitável.

Ademais, os veterinários devem estar atentos não apenas a possíveis sinais clínicos, mas também ao conjunto epidemiológico que pode envolver o agente e seus hospedeiros e, portanto, suas condições assintomáticas, estando cientes de sua responsabilidade no que se refere às questões de saúde pública. Quanto aos médicos, devem buscar contínua atualização em relação a essa zoonose de forma a considera-la diante da avaliação clínico-epidemiológica dessas afecções em humanos.

Referências

CAVALCANTE, G. C. Clamidiose aviária: revisão de literatura. Trabalho monográfico de conclusão do curso de Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Animais Selvagens e Exóticos. Universidade Castelo Branco Brasília, p. 37, fev. 2008. Disponível em: http://www.qualittas.com.br/uploads/documentos/Clamidiose%20Aviaria%20- %20Georges%20Cavalcanti%20e%20Cavalcante.PDF.pdf. Acesso em: 14 fev. 2023.

GERLACH, H. Chlamydia. Capítulo 34, p.984–996. In: RITCHIE, B.W. et al. Avian Medicine: Principles and Application. Florida: Wingers, 1994.

GODOY, S.N. Psittaciformes. Capítulo 16, p. 222-251. In: CUBAS, Z.S.; SILVA, J.C.R.; CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de Animais Selvagens – Medicina Veterinária. São Paulo: Roca, 2007.

RASO, T. F. Tratado de animais selvagens. Cap. 47, p. 760-767. São Paulo: Roca, 2007.

SILVA, E. M. B. da; SANTOS, H. A. dos; SANTOS, H. L. dos. Chlamydophila psittaci em aves silvestres e exóticas: uma revisão com ênfase em saúde pública. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, v. 20, n. 1, p. 662-671, jan./abr. 2016. Disponível em: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/reget/article/view/9553. Acesso em: 14 fev. 2023.

Por Milena Soares Pinto Merat – Discente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Sob a supervisão de Clayton Bernardinelli Gitti – Docente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro