Decididamente, todas as ações relacionadas à sustentabilidade no ambiente de criação, bem como na circunvizinhança envolvida na atividade de produção animal, tem dependência direta com o clima local e com a adequação arquitetônica da estrutura concebida, além de depender do tipo de acondicionamento térmico adotado.

A condicionamento térmico é o processo por meio do qual são controlados, de
forma individual ou conjunta, por meios naturais ou artificiais, os níveis de variáveis do ambiente, tais como temperatura, umidade, movimento e pureza do ar, e radiação solar no interior de uma construção, com objetivo de se obter melhores condições de conforto. A condição térmica do meio é um dos fatores mais importantes a ser considerado na definição da solução arquitetônica apropriada de uma construção, para o alcance do nível ótimo de conforto ambiental, conjugado ao máximo de produção dos indivíduos que a ocupam. Outro item a ser considerado é a atividade desse indivíduo, que afeta a carga de calor gerada no ambiente, por meio do calor corporal e, consequentemente, as trocas térmicas que ali ocorrerão. Isso diferencia a concepção arquitetônica adotada para cada caso e pode resultar em construções mais simples ou mais complexas.

Nos trópicos

É importante frisar que, nos trópicos, construções muito elaboradas são raramente justificáveis, pois as mais simples, na maioria das vezes, têm boa qualidade ambiental. A consideração do aspecto econômico é relevante, uma vez que o custo das acomodações abrange boa porcentagem do total produzido. Considerando-se o aspecto custo no processo de produção animal, faz-se importante o uso dos meios naturais para ajuste das condições ambientais nas faixas desejadas para otimização do desempenho produtivo. O processo de acondicionamento térmico natural, tendo-se em vista atingir os objetivos mencionados acima, passa pela consideração acerca do clima, pela concepção arquitetônica da instalação, que envolve a escolha adequada de materiais de construção para os envoltórios, coberturas e pisos, adequação de inclinações das coberturas, correto dimensionamento de beirais e lanternins, bem como pela decisão acerca do uso ou não do forro, localização correta das aberturas de entrada e saída de ar na construção visando favorecer a ventilação natural, orientação e disposição das construções, adoção de paisagismo circundante e de sombreamentos naturais e artificiais, além de proteções específicas para as faces mais solicitadas da instalação, no que diz respeito à incidência de radiação.

Conhecimento do clima

O conhecimento sobre o clima do local de implantação do projeto é de extrema importância, tendo-se em vista a forma como o ambiente construído responderá às imposições climáticas mais importantes. Além disso, é necessário entender as trocas de energia entre os componentes construtivos e interações entre animal e ambiente gerado. Considerando-se que os animais de forma geral, portam-se como sistema termodinâmico, que continuamente trocam energia com o ambiente no qual estão inseridos, o conhecimento do clima local passa a desempenhar importante papel a balizar as decisões sobre o acondicionamento. O clima, conjunto de fenômenos meteorológicos que define a atmosfera de determinado lugar, pode ser de diversos tipos como o tropical úmido, tropical seco, subtropical, temperado e outros, que faz referência às características mais notáveis da região considerada para a implantação do projeto, apresentando muitas variações, ou seja, microclimas. As diferenças climáticas são motivadoras da concepção arquitetônica distinta, definida para cada região, e ocorrem devido a interações diferenciadas entre elementos e fatores climáticos, destacando-se a latitude, a temperatura e umidade do ar, a radiação solar, o relevo, cobertura de oceanos, etc. Para se ter melhor compreensão das variações da temperatura, torna-se necessário enfatizar os movimentos da Terra em relação ao Sol: o de rotação, em torno de seu próprio eixo, com inclinação de 23°27′, resultando em iluminação periódica e cíclica de um determinado ponto na superfície terrestre, diferenciando assim, o dia e a noite para tal ponto; e o de translação, ao redor do Sol, propiciando um aquecimento diferenciado ao longo do ano nos dois Hemisférios e, consequentemente, caracterizando as diferentes estações. Em decorrência desses dois movimentos, um observador, em qualquer ponto da Terra, aparentemente vê o Sol traçando trajetórias que variam diariamente e são características do local em que ele se encontra. Tomando como base o plano em que se encontra o observador, localizando-se este na linha do Equador, latitude 0°, o eixo da trajetória aparente do Sol coincidirá com o plano horizontal; consequentemente, a trajetória solar aparente será perpendicular a esse plano. À medida que o observador se desloca da latitude 0° até 90°, o eixo da trajetória aparente se inclina de um ângulo igual ao da latitude do local onde se encontra o observador com relação ao seu plano horizontal.   Esse passa a ver a trajetória solar aparente inclinada, característica da latitude do lugar em que se encontra.   Para um observador no Hemisfério Sul, a inclinação da trajetória aparente será sempre voltada para o Norte. Em consequência da inclinação de 23°27′ do eixo de rotação da Terra, o observador vê o Sol nascer a Leste e se pôr a Oeste exatamente nos dias 23 de setembro e 21 de março. O plano dessa trajetória se desloca paralelamente para o Norte até dia 22 de junho e, em seguida, retorna para o Sul, até o dia 22 de dezembro. Dessa forma, no Brasil, uma parede disposta no sentido Leste-Oeste terá a face voltada para o Norte sempre recebendo mais a ação dos raios solares do que a do Sul, com máxima condição em 22 de junho e mínima em 22 de dezembro. Esses conceitos serão importantes para definir a orientação e características construtivas das instalações, notadamente o beiral.

Os raios solares

A ação direta dos raios solares sobre as superfícies terrestres faz com que elas se aqueçam, ocorrendo o aquecimento do ar por convecção.   A temperatura do ar é função de um complexo balanço energético, incluindo a quantidade de energia incidente, o coeficiente de absorção, a condutividade e capacidade térmica da superfície receptora, que determinam a transmissão de calor por condução e as perdas por evaporação, radiação e convecção.   Como resultado desse processo, a temperatura do ar varia ciclicamente no transcorrer do dia e do ano.   No transcorrer do dia, normalmente atinge um valor máximo em torno de duas horas da tarde e um valor mínimo antes do sol nascer.

Nas regiões sobre a linha do Equador, praticamente não se têm variações de estação e as temperaturas máximas e mínimas são praticamente iguais. De forma geral, à medida em que se desloca da região Norte para a região Sul brasileira, as temperaturas máximas tendem a se elevar e as mínimas a abaixar, aumentando, assim, a amplitude térmica.

O certo é que, para determinado local e período considerados, podem ser definidas grandezas como a temperatura máxima absoluta, a temperatura máxima média, a temperatura mínima média, a temperatura mínima absoluta, a temperatura média diária e a amplitude térmica média.

De forma bem simplificada, uma delimitação regional ou local aproximado, para definição de características construtivas, pode ser feita comparando-se as temperaturas máximas e mínimas médias dos meses mais quentes e mais frios do ano.

As regiões

Sendo assim, com relação à temperatura, as regiões podem ser classificadas da seguinte forma: regiões sempre quentes, quando durante todo o ano as temperaturas médias ficam acima de 21°C; regiões sempre frias, quando as temperaturas médias ficam sempre abaixo de 21°C; e regiões quentes e frias, quando as temperaturas médias se distribuem em torno de 21°C.

Arquitetonicamente, nas regiões sempre quentes deve-se buscar, por todos os meios, a interceptação da radiação solar direta e indireta, bem como utilizar todas as técnicas de ventilação natural. Nas regiões sempre frias, as construções devem servir de verdadeiros coletores solares e a capacidade isolante térmica dos fechamentos é de fundamental importância na manutenção das condições térmicas ambientais internas. Por outro lado, nas regiões caracterizadas por serem quentes e frias, as concepções arquitetônicas devem conter soluções móveis (janelas, cortinas), convenientemente dispostas, que se adequem às condições de inverno e de verão.

No Brasil, as regiões Norte e parte da Nordeste se caracterizam como sempre quentes, destacando-se locais como Manaus e Teresina; e as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, como quentes e frias, destacando-se Porto Alegre. Algumas regiões da Argentina e do Chile são igualmente sempre frias.

Deve-se destacar que, à medida que se desloca da linha do Equador para o sul do País, a amplitude térmica anual cresce, aumentando a importância das soluções móveis para o acondicionamento térmico natural de inverno e de verão.

Outra maneira de verificar o tipo arquitetônico mais apropriado para determinada localidade consiste em fazer um levantamento dos dados de temperatura média local, observando-se o total de dias do ano em que esta temperatura esteve entre 21 e 24°C. Alguns trabalhos têm demonstrado que, em localidades da região Sudeste e Centro-Oeste, em mais da metade do ano as condições ambientais externas estão dentro dos limites especificados, considerados confortáveis para os animais. Essas informações vêm reforçar as colocações anteriores, de acordo com as quais, se a edificação for bem planejada, com soluções móveis que atendam às condições de verão e de inverno, o condicionamento térmico natural será suficiente para que essa desempenhe bem sua função no processo produtivo animal.

A arquitetura e construção

Numa construção, a envolvente ou divisória é o componente que separa o espaço interno do ambiente externo e geralmente é composto de materiais opacos, transparentes e, ou translúcidos, que permitem prevenir ou modificar o efeito direto das variáveis climáticas, dependendo das

suas dimensões e das suas propriedades termofísicas. Quando as condições térmicas da construção não são controladas por meios artificiais, os materiais podem afetar, de forma significativa, a temperatura do ar internamente e nas superfícies e consequentemente o conforto dos ocupantes.

Os materiais de construção, como qualquer outro corpo, sofrem processos de transferência de calor e fazem variar a carga de calor da construção. Os processos sensíveis de transferência de calor são: condução, convecção e radiação.

A condutividade (K) é uma importante característica térmica que define o fluxo de calor por condução através de um determinado material na unidade de tempo, por unidade de espessura, por unidade de área do material e por unidade de gradiente de temperatura, sendo usual expressá-la em kcal/(m°C h). A condutividade térmica da água, 0,50 kcal/(m°C h), é maior do que a do ar, 0,02 kcal/ (m°C h), significando que os materiais que contêm ar em seus interstícios funcionam como isolantes térmicos, isto é, são menos capazes de conduzir calor. Se a água ocupa os poros do material, desloca o ar e isto reduz o isolamento. A mesma comparação pode ser feita entre a madeira, com K variando de 0,04 a 0,14 kcal/(m°C h) e o concreto, entre 0,70 e 1,21 kcal/(m°C h).

Outra propriedade importante que influi no processo de transmissão de calor por condução é a capacidade térmica, que se refere ao total de calor requerido para elevar a temperatura de uma unidade de volume de um muro, ou unidade de área da superfície, em 1°C; expressa em kcal/m³ ou kcal/m². Indica que os materiais podem se aquecer de forma diferenciada para a mesma quantidade de calor recebida.

Quando o envelope da construção é composto por várias camadas, o fluxo de calor em cada camada causa uma elevação de temperatura com consequente transferência de calor para a próxima camada, porém, em quantidade menor, e assim sucessivamente. Dessa forma, cada camada recebe menos calor e é sujeita a um menor aumento de temperatura que a mais externa, adjacente. Isso significa que sempre ocorre armazenamento de calor na estrutura do envelope durante as horas de temperatura externa mais alta, o qual é transferido por condução, num processo inverso, durante as horas de temperatura externa mais baixa.

Avicultura de Corte – conjugação de paisagismo circundante, renques de vegetação, beirais e aberturas de ventilação como técnicas de acondicionamento natural. Granja de Integração da Empresa São Salvador Alimentos SSA/ Itaberaí- Goiás – Brasil.

 

Bovinocultura de Leite – Sala de Ordenha – acondicionamento natural. Portugal.

Do exposto anteriormente, pode-se afirmar que qualquer modificação ou diferença térmica produzida em uma das superfícies do fechamento, ou no meio imediato, não é notada instantaneamente na outra face. Isso caracteriza o retardo térmico do material, sendo expresso pelo tempo gasto para que uma diferença térmica ocorrida em um dos meios manifeste-se na superfície oposta.

Transferência de calor

No processo de transferência de calor por convecção, o calor é transferido de uma parte para outra de um fluido, em razão do movimento relativo de suas partículas, provocado por gradiente de pressão, os quais são gerados por diferenças de temperatura e de densidade na sua massa fluida, que originam as correntes convectivas que removem o calor. Neste processo, a característica térmica considerada é o coeficiente de convecção (h).

É importante mencionar que o processo de troca de calor por condução exige o contato de superfícies sólidas e o de convecção envolve um fluido (gás ou líquido) e uma superfície sólida, por exemplo, numa construção, uma parede e o ar circundante. Ainda é necessário frisar que, na maioria dos casos, os processos se interagem na transferência total de calor.

A transferência de calor por radiação ocorre por meio de ondas eletromagnéticas que fluem através de meio transparente entre dois pontos ou mais, que se encontram em diferentes temperaturas. Assim, pode-se dizer que as trocas de calor por radiação estão sempre ocorrendo entre os materiais e na construção como um todo. A característica física mais importante nesse processo é a emissividade, embora seja importante destacar o fator forma dos corpos que trocam calor.

A transferência de calor pode ainda ocorrer por meio de processos latentes de evaporação e de condensação, nos quais ocorre a mudança de estado da água, de líquido para vapor ou vice-versa. Ambos envolvem consideráveis quantidades de energia, por exemplo, a evaporação ou mudança de estado de um grama de água do estado líquido para vapor requer aproximadamente 2450 J (joules) ou 585 calorias, energia esta que é ganha pelo corpo no qual ocorre a condensação ou perdida pelo corpo a partir do qual ocorre a evaporação. Vários fatores podem afetar as trocas latentes de calor, entre eles o nível de pressão de vapor, que geralmente é mais alto no ambiente externo.

Pelo exposto, pode-se concluir que a tomada de decisão acerca dos materiais que comporão uma construção é um dos passos de projeto que poderá determinar o alcance dos níveis adequados de conforto térmico, sem que seja necessário lançar mão de meios artificiais.

A cobertura

A cobertura é a principal proteção da construção contra a incidência direta da radiação solar. Para a seleção de uma cobertura adequada para atender aos critérios de proteção do volume construído e garantia de ótimo ambiente térmico interno, deve-se levar em conta a escolha de materiais com propriedades térmicas específicas, o uso de complementos como lanternins, forros e beirais e além disso, a adoção de inclinações para os planos que a compõem.

Primariamente, o objetivo de se adotar as inclinações para os planos das coberturas das construções, tendo-se em vista que estes recebem as águas de chuva, é facilitar o escoamento dessas. Dessa forma, quanto maior a dificuldade para esse escoamento, maior deve ser a inclinação, dentro da lógica de se guardar um mínimo e um máximo para esse parâmetro, específico para cada tipo de telha adotada.

Porém, ao se considerar a incidência dos raios solares nos planos da cobertura, há também que se levar em conta que, ocorrerá aquecimento diferenciado dos mesmos em função da inclinação da cobertura associada à trajetória solar definida para o local específico e época do ano e também ao ângulo de incidência solar. Além disso, a mudança na inclinação da cobertura resulta em alteração no seu fator de forma, importante parâmetro na determinação das trocas de calor por radiação.  Isso gerará a transferência de cargas térmicas radiantes distintas para o interior da construção, podendo interferir desse modo, no fluxo de ar no interior da construção, motivado por essas diferenças térmicas.

Uma forma eficiente de direcionar o fluxo de ar e reduzir essas cargas térmicas é locar uma abertura de saída na cumeeira do telhado, denominada lanternim, muito utilizada em construções rurais. Assim, se uma edificação dispuser de aberturas próximas do piso e do teto e se o ar do interior estiver a uma temperatura mais elevada que o ar do exterior, o ar mais quente, menos denso, tenderá a escapar pelas aberturas superiores. Ao mesmo tempo, o ar do exterior, mais frio, e por isso mais denso, penetrará pelas aberturas inferiores, causando fluxo constante no interior do volume construído.

A largura da abertura do lanternim pode ser calculada com 0,025 m para cada 2 m de largura da construção ou a sua área com 1 a 1,5% da área do piso, procurando-se adotar soluções flexíveis (aberturas reguláveis) que possam ser ajustadas para atender às condições de inverno e de verão.  Ou seja, em regiões expostas à chuvas de vento ou sujeitas à grandes amplitudes térmicas (noites e dias ou invernos e verões termicamente muito diferenciados), os lanternins deverão ser equipados com sistema que permita fácil fechamento das aberturas.

Ademais, considerando-se coberturas mais inclinadas e dotadas de lanternim, devido à maior distância entre entrada e saída de ar, ocorrerá alteração no perfil de movimentação das correntes de ar, com consequente interferência nas condições do ambiente térmico no interior.

A faixa de inclinação normalmente adotada para os tipos mais comuns de materiais de cobertura, no Brasil, está entre 20 e 30°, sendo a máxima limitada por questões estruturais.

Se a construção tiver forro, o fluxo poderá ser direcionado para o lanternim por meio de aberturas feitas ao longo do beiral, o que criará um colchão de ar entre a cobertura e o forro, num processo chamado ventilação do ático, muito eficiente para reduzir a carga térmica da construção em épocas quentes.

O beiral, área de cobertura, expandida para além do perímetro do volume construído, tem a função prioritária de proteger os envoltórios da construção contra chuvas e incidência de radiação solar direta, o que pode interferir na condição de conforto e bem-estar dos animais, uma vez que pode atuar na redução da carga de calor no interior da construção. Assim, pode-se adotar diferentes prolongamentos de beirais, nas diferentes faces da construção, com base no conhecimento das trajetórias do sol para um determinado local e época do ano.

A cobertura ideal para instalações de produção animal no Brasil deve ser de material com grande capacidade de refletir a radiação solar, bem como de isolamento e de retardo térmico, objetivando a redução da absorção da radiação, de forma que a quantidade que consiga atravessar seja mínima e que ao atingir o interior, tenha se passado pelo menos 12 horas.

Para compor a cobertura, considerando-se as telhas, a conjugação de materiais, tais como lâminas metálicas ou até de madeira, intercaladas com materiais isolantes como isopor, poliuretano, lã de vidro, etc, resulta na obtenção das melhores características térmicas, porém são soluções de alto custo. Assim, as telhas comuns de cerâmica são as mais utilizadas, pois atendem grande parte dos critérios. Mas, telhas metálicas simples, devido à durabilidade, podem ser utilizadas, desde que outras características da construção, como largura, altura do pé-direito e beiral sejam adaptadas para que se obtenha o ambiente adequado. Algumas técnicas, como pinturas nas superfícies da cobertura ou aspersão de água sobre a mesma, podem ser aplicadas com o objetivo de melhoria das condições do microambiente no interior da construção.

A ventilação

Devido à necessidade de amenizar o desconforto dos ocupantes de um determinado espaço construído, causado por aquecimento resultante da incidência de raios solares ou por presença de gases e poeiras em concentrações nocivas, é importante que seja promovido o deslocamento das massas de ar, ou seja, que se faça a renovação do ar por meio da ventilação.

Em um espaço construído, o ar também pode se apresentar com concentração de vapor d’água acima do desejado, que provém, em grande parte, da transpiração dos ocupantes e causa grande desconforto.

É importante lembrar ainda que máquinas e equipamentos presentes podem acrescer sobremaneira a carga de calor no interior de um espaço construído, o que agrava o desconforto.

Ademais, pode ser considerado, que, caso nenhuma dessas ocorrências anteriores seja verificada, a ventilação se aplica no sentido de eliminar odores, ou seja, é apenas higiênica ou mínima.

A excelência da ventilação está no fato de que, se aplicada de forma correta, permite abaixar a temperatura de interiores em épocas quentes do ano, quando o desconforto térmico é bem acentuado.

No caso do acondicionamento térmico natural, a ventilação também é dita natural, pois forças naturais fazem o ar se mover. Por exemplo, a movimentação do ar pode se dar em razão de diferenças entre pressões positivas e negativas causadas pela ação dinâmica dos ventos, quando estes incidem sobre as faces distintas de um volume construído. É a chamada ventilação natural dinâmica. A taxa na qual ocorre a ventilação natural depende da velocidade do vento e da sua direção, da proximidade e dimensões de obstáculos e se há meios de fuga para a corrente de ar, ou seja, aberturas para entrada e saída de ar, convenientemente posicionadas.

Na ventilação natural denominada térmica, o movimento do ar ocorre em razão de diferenças de temperatura entre dois meios considerados, as quais geram as diferenças de pressão e resultam no efeito de tiragem ou termossifão (chaminé).

Em ambos os tipos citados, tanto a localização acertada das aberturas de entrada e saída de ar, quanto o emprego de dimensões adequadas são de suma importância. Associando-se isso à orientação adequada, certamente se conseguirá variação positiva no grau de conforto térmico da construção. A abertura de entrada, por exemplo, deve, sempre que possível, facear diretamente a direção predominante do vento. As aberturas de entrada e saída devem ser localizadas em planos opostos. O lanternim, citado anteriormente, é uma estrutura complementar, utilizada para acentuar o movimento das massas de ar dentro das construções, devido às diferenças de pressão geradas pelas diferenças de temperatura das massas de ar, localizadas em diferentes pontos no interior da construção. O fluxo de ar através do lanternim é diretamente proporcional à sua área de abertura, à diferença de altura entre as aberturas de entrada e saída de ar, à área das aberturas de entrada e à diferença entre temperaturas interna e externa.

No caso da produção animal, a falta ou a inadequada ventilação pode levar à baixa renovação do ar com consequente aumento da concentração de gases tóxicos, tais como amônia, monóxido e dióxido de carbono, aumento na concentração de poeiras e baixa concentração de oxigênio disponível. O uso incorreto da ventilação, seja por localização ineficiente das aberturas ou falha no sistema, resulta em prejuízo na produção animal. A incidência direta de vento sobre o dorso dos animais pode causar desde mudança de comportamento, até problemas fisiológicos, como perda de apetite e consequente queda na produtividade.

Em determinadas regiões, onde a temperatura geralmente se mantém acima da requerida para o conforto térmico, deve prevalecer uma ventilação baseada em razões térmicas, e as instalações devem ser projetadas para atender a essa necessidade. Para regiões frias, com baixas temperaturas, a ventilação se deve a razões exclusivamente higiênicas, ligadas à renovação e à qualidade do ar interior.

Avicultura de Corte – Uso de forro e cortinas para controle de aberturas de ventilação, como técnicas de acondicionamento natural. Granja de Integração da Empresa São Salvador Alimentos SSA/ ItaberaíGoiás Brasil.

O duplo objetivo da ventilação, necessária nas instalações animais do clima tropical brasileiro, deve atender exigências térmicas e higiênicas, se consegue com a localização e orientação da construção, área e formas das entradas e saídas de ar, manejo das cortinas, de maneira que nas regiões com invernos rigorosos, o fluxo se desloque naturalmente pela zona superior da construção, para evitar o efeito direto sobre os animais, enquanto que no verão a massa de ar se movimentará por todo o espaço inferior e superior, exercendo influência direta sobre o conforto e simultaneamente eliminando parte do calor acumulado em paredes laterais, piso, teto e equipamentos de alimentação. A quantidade de ar a ser renovado durante o inverno, por razões higiênicas, é pequena, sendo necessárias apenas superfícies reduzidas de entrada e saída de ar.

A ventilação mínima não deve causar a queda da temperatura dentro da instalação nas primeiras semanas de vida do animal, atendendo apenas aos requisitos de adequada qualidade do ar.

Um sistema de ventilação mínima deve apresentar capacidade de exaustão de aproximadamente 12,5% do volume cúbico da instalação, com o ciclo de funcionamento a cada 1 minuto em períodos de 5 minutos. A taxa de renovação ou número de trocas de ar num ambiente é o número de vezes que o volume de ar desse ambiente é trocado por unidade de tempo.

A orientação das construções

A orientação da construção refere-se ao posicionamento do volume construído, com relação ao deslocamento do Sol. O objetivo da orientação pode ser evitar ou aproveitar a ação dos raios solares sobre as faces da construção e sobre as coberturas. Em se tratando de produção animal, o que se pretende com a orientação adequada das instalações é evitar que haja incidência direta de radiação solar no interior das instalações, o que aumentaria sobremaneira o grau de desconforto térmico de animais adultos e principalmente, em fase de produção. A decisão acerca da orientação adequada a ser adotada para a instalação deve ser balizada pela informação compilada no item sobre o clima, quando se tratou das trajetórias aparentes do Sol. Para o Hemisfério Sul, considerando-se os climas tropicais e subtropicais, orientações no sentido Leste-Oeste geram condições tais como: evita-se o sobreaquecimento da face da construção exposta a oeste pela forte insolação nas longas tardes de verão; ao se dispor de uma fachada orientada totalmente para o Norte, o sol de inverno, que sobe pouco no horizonte penetrará no interior da edificação em decorrência do deslocamento paralelo do plano da trajetória aparente do sol para o Norte, o que é desejável (no verão, o próprio beiral atuará como proteção.); ademais, tendo-se duas fachadas, uma permanentemente quente e outra permanentemente fria, favorece-se, também, a ventilação natural térmica, em instalações nas quais não se pode utilizar outro meio de acondicionamento. Para orientações no sentido Norte-Sul, as fachadas leste e oeste devem ser sombreadas por meio de árvores de folhas caducas, mantidas com a copa preservada e o tronco desgalhado, de forma que permitam a insolação no interior da construção nas primeiras horas da manhã e nas últimas da tarde, o que pode ser desejável em regiões com invernos muito rigorosos, e que permitam ainda o sombreamento da cobertura nos períodos quentes.

O microclima local é também afetado quando se constrói ao invés de uma edificação, um conjunto de edificações. Em geral, quanto maior o número de edificações e a proximidade entre elas maior será a temperatura média nas proximidades. Para atenuação dessa condição, pode-se utilizar vegetação entre as mesmas, além de se atentar para disposição no que se refere ao afastamento entre elas, que deve ser tal que não ocorra interferência significativa na ventilação natural. Recomenda-se afastamento de 10 vezes a altura da construção, entre os dois primeiros galpões à barlavento de um conjunto de galpões. Do segundo em diante, o afastamento seria de 20 a 25 vezes essa altura. Para atender a esses requisitos, é necessário ter área disponível e topografia amena, o que nem sempre é possível. Dessa forma, em geral, o afastamento mínimo recomendado entre galpões para a produção animal, é em torno de 35 a 40 m.

Em condições de calor é imprescindível a presença de grama cobrindo o solo do exterior de um ambiente construído para reduzir a temperatura.

Paisagismo circundante

Ainda, em condições de calor, é imprescindível a presença de vegetação (grama) cobrindo o solo no exterior de um ambiente construído, o que resultará em redução da temperatura superficial e consequentemente, da carga térmica radiante, devido à sua característica reflexiva de radiação.

Quebra-vento

São anteparos naturais (renques de vegetação) ou artificiais, destinados a atenuar a ação de ventos fortes e/ou muito frios sobre as construções, sendo dispostos perpendicularmente a esses. Além disso, podem atuar tornando o microclima mais ameno na circunvizinhança, principalmente devido à retenção de umidade. Pinus e eucalipto são bastante utilizados com essa finalidade.