A Ariramba-de-cauda-ruiva (Galbula ruficauda) é também conhecida como bico-de-agulha, fura-barreira e beija-flor-da-mata-virgem. Embora um olhar pouco acurado lhe confunda com um beija-flor, as arirambas em geral pertencem à família Galbulidae (Galbuliformes) e esta espécie tem sido considerada a mais comum de seu gênero no Brasil.

Portando um bico longo, em forma de agulha, a ariramba-de-cauda-ruiva mede em torno de 24 cm. O macho apresenta coloração verde dourado nas porções superiores e no peito, tem a plumagem branca sobre a garganta e demais partes inferiores ferrugíneas e a cauda, acompanhando a tendência, é também verde na porção superior e ferrugínea na porção inferior. Já as fêmeas, se diferenciam apresentando a garganta parda além do ventre e crisso (coberturas infra-caudais na região terminal do abdômen) mais claros.

Ariramba-de-cauda-ruiva (Galbula ruficauda), destaque para o macho e seu dorso de coloração verde dourada. Serra da Canastra, 2021. Foto: Sávio F. Bruno

Distribuição geográfica

A ariramba-de-cauda-ruiva tem ampla distribuição, com populações desde o México até a Argentina. No estado de Minas Gerais, na região da Serra da Canastra, área de ocorrência do bioma Cerrado, a espécie é mais facilmente avistada em áreas relativamente próximas a corpos hídricos, quase sempre na borda de trilhas e estradas não pavimentadas, onde ocorre vegetação mais densa, florestada. Na Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro, sua presença também acompanha este padrão.

Conforme relato de outros autores, a ariramba-de-cauda-ruiva é encontrada também em capoeiras, áreas campestres, brejos, caatingas e até mesmo no pantanal do Mato Grosso, nas matas de galeria, matas de terra firme e matas secundárias, sendo mais comum em suas bordas, nos estratos de baixo a médio.

A ariramba-de-cauda-ruiva captura insetos em geral, incluindo as mariposas. Foto: Santa Maria de Madalena, RJ, 2015. Foto: Sávio F. Bruno.

Alimentação e hábitos de vida

Os itens alimentares da ariramba-de-cauda-ruiva variam de pequenos insetos, como abelhas sem ferrão, até insetos maiores como borboletas e mariposas.
Empoleirados em galhos e cipós localizados na borda de matas, a uma altura média de um a quatro metros, os indivíduos acompanham com movimentos parcialmente rotatórios de sua cabeça, a presença de insetos que voam ao redor.

Escolhida sua presa, a ariramba então voa em sua direção e a captura com seu eficiente bico, retornando, normalmente, ao ponto em que estava empoleirada. Em seguida, costuma bater o inseto repetidamente sobre o galho, retirando-lhe as forças e, muitas vezes, rompendo a estrutura das asas e do exoesqueleto, facilitando assim, sua ingestão.

A espécie possui vocalização bem característica, reproduzindo um assobio límpido e repetido, de sequência acelerada e finalizado por um trino descendente. É um animal avistado frequentemente em solitude.

Destaque para o bico da ariramba-de-cauda-ruiva, eficiente na captura de insetos. Indivíduo macho. Foto: Entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, 2008. Foto: Sávio F. Bruno.

Reprodução

Ao iniciar-se o período reprodutivo, é comum que o macho alimente a fêmea durante o período da corte. Bem sucedido este período, os casais escavam túneis em barrancos e em cupinzeiros arbóreos ou terrestres de até três metros de altura. Com os ninhos devidamente estabelecidos, chocam de dois a quatro ovos de coloração branco-amarelados.

Os filhotes nascem com densa penugem esbranquiçada e abandonam o ninho com 21-26 dias, conquistando logo a plumagem dos adultos e se diferenciando, principalmente, por apresentarem o bico mais curto.

Ameaças

Apesar de possuir ampla distribuição e não ser considerada ameaçada de extinção, tanto na lista oficial de espécies ameaçadas de extinção no Brasil (MMA) quanto na IUCN (International Union for Conservation of Nature), a ariramba-de-cauda-ruiva sofre declínio de suas populações.

Dentre as principais causas deste declínio, destacam-se a perda ou alteração de habitat, a supressão das matas e alterações antrópicas em geral, devido ao avanço das cidades e sua pressão sobre os campos e florestas, mas, também, devido aos empreendimentos agropecuários desprovidos dos conceitos voltados a sustentabilidade, que suprimem a natureza local em prol da ilusória e temporária eficiência produtiva das monoatividades no campo. Neste contexto, o uso de pesticidas influencia diretamente na cadeia ecológica, propiciando, de pronto, a queda da população de insetos, essenciais como fonte de alimento para a ariramba-de-cauda-ruiva.

Somam-se ainda a estas ameaças, os incêndios florestais, as alterações nos cursos hídricos, associadas à destruição das matas ciliares e de galeria e suas consequências, como o desbarrancamento das margens dos rios, o assoreamento e a alta concentração de sedimentos e outras formas de poluição físico-química das águas em geral. Relembremos que a ariramba-de-cauda-ruiva nidifica frequentemente nos “barrancos”, ou seja, nas margens do rio e toda alteração na estrutura e dinâmica do mesmo é uma potencial ameaça à espécie e à biodiversidade em geral. Nesta condição, as usinas hidrelétricas assumem um papel relevante, quando impactam negativamente os rios, sua estrutura e sua biota.

Inseto capturado em voo por um macho de ariramba-de-cauda-ruiva. A ave, com seu forte bico, o capturou sustentando-lhe pela região do abdomen. Foto: Entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, 2007. Foto: Sávio F. Bruno.

Conservação

Para garantir a sobrevivência da ariramba-de-cauda-ruiva, assim como o equilíbrio dinâmico dos ecossistemas em geral, tornam-se necessárias medidas urgentes de conservação, como a proteção de habitats naturais. Neste contexto, áreas protegidas como o Parque Nacional da Serra da Canastra (MG), Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ), Parque Estadual do Desengano (RJ), Parque Estadual Encontro das Águas (MT) e a Reserva Particular do Patrimônio Natural do SESC Pantanal são de grande importância para contribuir na preservação desta espécie.

Além da instituição de Unidades de Conservação, se faz também necessária adoção de políticas que considerem a importância dos rios, das matas e da diversidade biológica como um todo, imprescindíveis para a manutenção da saúde ecossistêmica e da Saúde Única e, para além, da saúde planetária, como também a adoção de ações fiscalizatórias e de educação ambiental.

Obras consultadas

ANTAS, P. T. Z . 2009. Pantanal: Guia de Aves – Espécies da Reserva Particular do Patrimônio Natural do SESC – Pantanal disponível em: <http://www.avespantanal.com.br/paginas/index.htm>. Acesso em: 07 de abril de 2021.

BIRDLIFE INTERNATIONAL. 2020. Galbula ruficauda. The IUCN Red List of Threatened Species 2020:.T22682200A163585918. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.20203.RLTS.T2268220A163585918.en. Acesso em: 07 de abril de 2021.

GWYNNE, J. A. et al. Aves do Brasil: Pantanal & Cerrado. São Paulo: Wildlife Conservation Society, Ed. Horizonte, 2010.

ICMBio/MMA – Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume I / — 1. ed. — Brasília, DF: ICMBio/MMA, 2018.

MELLO, G. J. M; MELLO, D. J. M; RODRIGUES, F. M. Aves da Serra dos Órgãos e adjacências: guia de campo. Rio de Janeiro: 2015.

SICK, H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

SIGRIST, T. Guia de Campo Avis Brasilis: Avifauna brasileira. São Paulo: Avis brasilis, 2013.

Autores
Sávio Freire Bruno, Professor Titular do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense e integrante dos Cursos de Ciências Biológicas e Ciência Ambiental (UFF)
Rafael Carvalho de Mattos, Graduando em Ciência Ambiental, Universidade Federal Fluminense
Aline Braga Moreno, MSc, Bióloga, Médica Veterinária – Mestre em Ciências Veterinárias, UFRRJ.

Imagem da capa
Filhote de ariramba-de-cauda-ruiva na abertura do ninho. Brasília, DF.

Foto
Amaro Alves