Os cães domesticados (Canis lupus familiaris) são descendentes dos lobos (Canis lupus) e coexistem com humanos por 10.000 a 30.000 anos.

Cães e lobos são canídeos (família Canidae de ordem Carnivora). Esta nomenclatura taxonômica deve ser bem entendida, porque a ordem Carnivora contém carnívoros obrigatórios como a família Felidae (por exemplo, gatos, chitas e leões), ou seja, dependem de alimentos estritamente de origem animal, e herbívoros como a família Ailuropodidae (por exemplo, pandas), logo, carnívoros podem ter uma alimentação variando de uma dieta consistindo quase completamente de animais ou presas a uma composição de até 50% de matéria vegetal, o que torna verdadeiros onívoros ou carnívoros facultativos.

Os lobos são naturalmente onívoros na natureza, e a domesticação de cães em co-evolução com humanos resultou em uma maior adaptação evolutiva para dietas com maior conteúdo de plantas ou vegetais.

Os antepassados ​​dos cães domesticados começaram a viver em íntima associação com humanos durante a primeira revolução agrícola, eles saqueavam lixos e resíduos dos assentamentos humanos, porém ainda ingeriam proporções elevadas de produtos animais.

Como os humanos adotaram um estilo de vida menos nômade e começaram a cultivar as plantações, seus despejos de restos de alimento e resíduos fecais teriam alimentos ricos em amidos. De fato, diferenças no genoma de cães domesticados e lobos indicam que os antepassados ​​do cão se adaptaram a partir de uma dieta principalmente carnívora a uma mais rica em amido, a partir do momento que começaram a utilizar os resíduos humanos como fontes de nutrição.

A compreensão atual das necessidades nutricionais dos cães foi determinada através de décadas de pesquisas, como estudos e relatórios publicados por pesquisadores. Com base nessas informações, perfis nutricionais foram usados na indústria de rações para animais de estimação, como os desenvolvidos pela Association of American Feed Control Officials/AAFCO e a European Pet FoodIndustryFederation/FEDIAF, são usados ​​para definir a adequação nutricional de dietas para animais de estimação apropriadas para várias fases da vida. Estas fases da vida incluem a alimentação e nutrição de cães adultos, de filhotes, reprodução e lactação. Em comparação com exigências de nutrição para cães adultos, os filhotes possuem exigências nutricionais específicas, muitos nutrientes são necessários para promover o desenvolvimento de órgãos, musculatura e crescimento ósseo. Filhotes em crescimento possuem maior risco de insuficiências nutricionais do que os cães adultos, e a nutrição adequada é fundamental para o desenvolvimento saudável. Em particular, os filhotes precisam de maiores concentrações de gorduras, proteínas e minerais essenciais, bem como fornecimento de cálcio e fósforo na relação correta.

O manejo dietético inadequado, particularmente nos cães de raças grandes e gigantes, pode resultar em deformidades irreversíveis e comprometer a qualidade de vida.

Provavelmente, é mais difícil cumprir as exigências nutricionais dos filhotes, comparadas com as exigências nutricionais de cães adultos.Quando se escolhe alimentar cães com dieta desprovida de ingredientes animais, principalmente devido as necessidades proteicas e dos aminoácidos essenciais (AAs), embora a proteína possa ser facilmente encontrada em muitos ingredientes vegetais, os teores de proteínas em dietas estritamente à base de plantas devem ser monitorados de perto. A proteína dietética fornece AAs não essenciais e essenciais. AA essenciais não podem ser sintetizados dentro do organismo e deve ser obtidos em quantidades adequadas para manter a saúde, promover crescimento, gestação e lactação. Em comparação, AAs não essenciais podem ser produzidos pelo corpo conforme necessário, desde que os precursores estejam disponíveis na dieta. AAs não essenciais e essenciais são usados para sintetizarem proteínas no organismo, agir como metabólitos funcionais, ou ser catabolizados em energia.

Os AA essenciais para cães são arginina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, triptofano e valina. A quantidade total de proteína em uma dieta é importante, mas a qualidade ou o valor biológico dessas proteínas também devem ser considerado um fator fundamental para uma boa nutrição. O valor biológico da proteína é considerado fator importante na função de digestibilidade e composição dos AAs e descreve a capacidade dos ingredientes proteicos em fornecer tais nutrientes.Outras características de um ingrediente poder afetar o valor biológico das proteínas, são com relação à fonte e as práticas de processamento.

Os tecidos animais contêm proteínas de alto valor biológico; muitas vezes todos os 10 AAs essenciais são fornecidos em quantidades suficientes com alta digestibilidade. Em contraste, o valor biológico das proteínas vegetais utilizadas como alimentos para animais tem sido questionado porque seus perfis de AAs podem estar incompletos, particularmente em relação a metionina ou lisina.

Quando comparadas com proteínas derivadas de animais, as proteínas derivadas de plantas podem ter menor digestibilidade pela presença de carboidratos poucos digeríveis. Além disso, proteínas derivadas de plantas podem exigir maior processamento para suavizar os efeitos que afetam a palatabilidade e digestibilidade.

A escolha em nutrir adequadamente seu cão, demanda orientação e trabalho. Para alguns donos de cães, fornecer refeições caseiras é uma ideia atraente e um sinal de carinho e amor ao cão. É necessário fazer compras, selecionar os ingredientes e preparar a refeição. Pode parecer  uma boa maneira de mostrar amor, porém a realidade é diferente e, a menos que você tenha elaborado um plano de refeições com um nutricionista veterinário, há um grande risco de não se fornecer a nutrição necessária. Um cão, por exemplo, precisa de cerca de 37 nutrientes em sua dieta diária para uma função corporal saudável. As necessidades nutricionais de cães e gatos são muito diferentes das dos seres humanos e qualquer erro na alimentação pode ter sérias consequências para a sua saúde. Uma dieta mal balanceada, composta de restos de comida e alimentos desqualificados, pode causar problemas de saúde, como obesidade, disfunção hepática, insuficiência renal, etc, e encurtar a vida do animal.

Para alcançar uma dieta equilibrada, os fabricantes de alimentos para animais de estimação misturam ingredientes como carne, peixe, cereais, vegetais, vitaminas e minerais, a fim de atender às necessidades nutricionais dos animais de estimação.

Entendemos que as necessidades nutricionais de um animal variam de acordo com seu tamanho, idade e atividade. Um cão de trabalho ou esporte não será alimentado da mesma forma que um animal de estimação, assim como um filhote não será alimentado da mesma forma que um cão que está envelhecendo.

O crescente conhecimento sobre nutrição animal e tecnologia transformou a indústria ao longo dos anos. É reconhecido que os animais de estimação estão vivendo mais com qualidade de vida e saudáveis, como resultado de uma melhor nutrição. A indústria fornece uma oferta de variedade de alimentos adaptados às necessidades dos diferentes tipos de animais de estimação. Se são utilizados como uma ração exclusiva diária (alimento completo) ou são usados ​​em conjunto com outros alimentos (alimentos complementares), os alimentos para animais industrialmente preparados contêm todos os componentes certos em proporções cuidadosamente prescritas para um animal de estimação levar uma vida saudável.

Procure sempre uma orientação profissional, com um médico veterinário nutricionista e ofereça a alimentação adequada conforme as características do cão, suas necessidades biológicas conforme a idade, sexo, raça e doenças presentes, independente se a composição é somente vegetariana ou não.

Paulo Daniel Sant’Anna Leal é médico veterinário, MSc, DScV, Pós-Doutorado, Membro da Academia de Medicina Veterinária no Estado do Rio de Janeiro/AMVERJ.