Taxonomia e Características Gerais

A caninana-marrom-listrada foi descrita pela primeira vez a partir de exemplares procedentes do Parque Nacional da Serra Canastra, MG, por Hamdan e Fernandes (2015). É um réptil da Ordem Squamata, Subordem Serpentes e Família Colubridae. Essa serpente pode ter de 25 centímetros a 1 metro de comprimento total (FIORILLO; MACIEL; MARTINS, 2021). Sua cauda é bastante comprida, possuindo mais da metade da medida do resto do corpo, e pode chegar a até 57 centímetros de comprimento (HAMDAN; FERNANDES, 2015). Esse grande tamanho da cauda em relação ao corpo permite que a caninana-marrom-listrada se agarre aos galhos das árvores, conferindo a ela um hábito semiarborícola (FIORILLO; MACIEL; MARTINS, 2021). Seus olhos são bastante grandes em relação ao resto do corpo, e ela possui uma língua bifurcada – assim como todas as serpentes – que é utilizada para detectar partículas odoríferas no ambiente, dando a ela um ótimo senso de olfato. Possui a cabeça amarronzada ou alaranjada, o ventre amarelo-claro, uma curta faixa preta em cada lado do corpo após a região da cabeça, uma faixa amarronzada na região vertebral, e a maior parte do corpo cinza escura, coloração essa que inicia após o término das faixas pretas laterais (HAMDAN; FERNANDES, 2015).

Assim como as demais serpentes do gênero Chironius, a Caninana-marrom-listrada possui uma dentição chamada áglifa, cuja característica é a ausência de presas inoculadoras de peçonha (MARQUES; ETEROVIC; SAZIMA, 2019). Portanto, essa serpente não é um tanatofídio, pertencendo a um grupo que se convencionou chamar de serpentes não peçonhentas.

Caninana-marrom-listrada (Chironius brazili) detectando o ambiente ao redor através de sua língua bifurcada. Foto: Sávio Freire Bruno. Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, março de 2018.

Distribuição Geográfica

A caninana-marrom-listrada é endêmica do Brasil, não ocorrendo naturalmente em nenhum outro país. Está distribuída por Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, abrangendo o Cerrado, parte da Mata Atlântica e parte dos Pampas (NOGUEIRA et. al, 2019).

Hábito Alimentar

Essa caninana se alimenta principalmente de anfíbios anuros da família Hylidae – popularmente conhecidos como pererecas – que estão associados ao meio aquático e arbóreo (MENEZES et. al, 2018), sendo habitats comuns também a essa serpente.

Hábitos

A caninana-marrom-listrada pode ser encontrada ao longo do dia na proximidade de fluxos de água, sobretudo em matas ciliares e de galeria, florestas ripárias e florestas ombrófilas densas. Além de florestas, também podem habitar áreas abertas e até mesmo perturbadas, ou seja, locais com boa parte da vegetação alterada por atividade antrópica.

Com relação aos microhabitats, é possível encontrar essa serpente tanto em árvores quanto no ambiente terrestre, sendo, portanto, de hábitos arborícola e terrícola (FIORILLO; MACIEL; MARTINS, 2021). Dentro desses respectivos habitats e microhabitats, a caninana-marrom-listrada tem preferência por áreas de altitude elevada, sendo geralmente encontrada de 700 a 900 metros acima do nível do mar (HAMDAN; FERNANDES, 2015). Entretanto, há registros de avistamento a 2030 metros acima do nível do mar (MENEZES et. al, 2018).

Quando se sente ameaçada, ela pode enrolar seu corpo formando um “S”, erguer a cabeça, mostrar o interior da boca e desferir botes (FIORILLO; MACIEL; MARTINS, 2021).

As caninanas-marrom-listradas (Chironius brazili) podem viver tanto em árvores quanto em terra, e podem se esconder em meio à vegetação. Foto: Sávio Freire Bruno. Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, março de 2017.

Reprodução

A caninana-marrom-listrada é uma espécie ainda pouco estudada, havendo lacunas quanto à descrição de seus hábitos reprodutivos. Entretanto, pode-se fazer uma comparação com as outras serpentes do gênero Chironius, e sabe-se que são todas ovíparas.

Principais ameaças

Dentre as principais ameaças antrópicas para a caninana-marrom-listrada estão a poluição em geral e a destruição de habitats naturais, principalmente pela supressão vegetacional. O atropelamento de fauna também consta entre as ameaças potenciais.  Embora protegida por lei – como toda a fauna nacional – e mesmo sendo uma serpente não peçonhenta, a perseguição e abate por humanos, principalmente pelo temor e a falta de conhecimento quanto às serpentes, somada à insensibilidade humana quanto à importância da conservação de toda biodiversidade, também afetam suas populações.

Com relação a predadores naturais, ainda não se flagrou uma predação desta espécie. Mas, dentre os potenciais predadores, incluem-se aqueles que comprovadamente predam serpentes e que habitam o Parque Nacional da Serra da Canastra. Enumeram-se gaviões e águias em geral, entre outras aves de menor potencial, mas reconhecidas por predar serpentes, como perdizes, saracuras e seriemas (FIEKER; REIS; BRUNO, 2014). Mamíferos da ordem Carnivora também devem ser contabilizados e, em menor proporção, certas serpentes ofiófagas. As caninanas-marrons-listradas quando jovens tendem a ser mais susceptíveis a predação por alguns desses potenciais predadores.

A caninana-marrom-listrada deve ser preservada como parte da grande biodiversidade que habita o território nacional.

As caninanas-marrom-listradas podem ser encontradas próximas a áreas perturbadas como, por exemplo, esta estrada, onde sofre risco de atropelamento. Foto: Sávio Freire Bruno. Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, março de 2017.

Referências Bibliográficas

FIEKER, C. Z.; REIS, M. G.; BRUNO, S. F. Guia de bolso: 100 Aves do Parque Nacional da Serra da Canastra. São Roque de Minas: ICMBio, 2014.

FIORILLO, B; MACIEL, J.; MARTINS, M. Composition and natural history of a snake community from the southern Cerrado, southeastern Brazil. Zookeys, v. 1056, p. 95–147, 19 ago. 2021. Disponível em : <https://zookeys.pensoft.net/article/63733/>. Acesso em: 21 maio 2023.

HAMDAN, B.; FERNANDES, D. S. Taxonomic revision of Chironius flavolineatus (Jan, 1863) with description of a new species (Serpentes, Colubridae). Zootaxa, v. 4012, n. 1 p. 97-119, 2 set. 2015. Disponível em: <https://www.biotaxa.org/Zootaxa/article/view/zootaxa.4012.1.5>. Acesso em: 21 maio 2023.

MARQUES, O. A. V.; ETEROVIC, A.; SAZIMA, I. Serpentes da Mata Atlântica: guia ilustrado para as florestas costeiras do Brasil. Cotia: Ponto A, 2019.

MENEZES F. A. et al. Composition and natural history of the snakes from the Parque Estadual da Serra do Papagaio, southern Minas Gerais, Serra da Mantiqueira, Brazil. Zookeys, v. 797, p. 117–160, 19 nov. 2018. Disponível em: <https://zookeys.pensoft.net/article/24549/>. Acesso em: 21 maio 2023.

NOGUEIRA C. C. et al. Atlas of Brazilian Snakes: Verified Point-Locality Maps to Mitigate the Wallacean Shortfall in a Megadiverse Snake Fauna. South American Journal of Herpetology, v. 14, n. 1 p. 1–274, 31 dez. 2019. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/338494729_Atlas_of_Brazilian_Snakes_Verified_Point-Locality_Maps_to_Mitigate_the_Wallacean_Shortfall_in_a_Megadiverse_Snake_Fauna>. Acesso em: 21 maio 2023.

Sávio Freire Bruno: Professor Titular do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense; Professor Colaborador do Curso de Ciências Biológicas e do Curso de Ciência Ambiental (UFF)

Arthur Gomes de Castro Moreira: Acadêmico do Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal Fluminense

Breno Hamdan: Biólogo do Laboratório de Coleções Biológicas e Biodiversidade, Instituto Vital Brazil, Niterói, RJ