Como transformar os desafios climáticos em receita de sucesso

Desenvolver um plantel adaptado ao semiárido, uma região inóspita que, de tempos em tempos, impõe desafios climáticos que incluem até restrições na oferta de alimento e água. Apesar das adversidades, o rebanho Sindi P, fundado em 1981 pelo pecuarista Pompeu Gouveia Borba, se mantém produtivo e em evolução.

Atualmente, o criatório, que no início era composto por um rebanho de 10 animais, sendo 9 fêmeas e 1 macho, chegou a 900 cabeças de gado Sindi PO. “Meu pai já selecionava ovelhas Santa Inês e cavalos Quarto de Milha quando se interessou pelo Sindi. A ideia era investir em um gado mais adaptado às condições climáticas da região. Por influência de outros selecionadores, ele estudou a raça e se convenceu de que ela era a melhor opção”, conta Álvaro Borba, titular da marca Sindi P, da Fazenda Riacho do Navio, localizada em Campina Grande, na Paraíba.

Ele explica que a base do rebanho foi formada com novilhas da criação de Cesário Castilho, genética de animais da Universidade Federal da Paraíba, do Sindi D, do amigo Manelito Dantas, e da Emepa (Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba). “Sempre usamos animais que nos agradam e que possam agregar e contribuir para o melhoramento genético do plantel”, informa o titular da marca.

“Nesse sentido, em 2012, também inserimos o Sindi P no Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ), da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) e, na melhor oportunidade, pretendemos fazer controle leiteiro”, relata Álvaro, que também é médico veterinário. “Uma raça de dupla aptidão precisa ter dados que comprovem a eficiência para a produção de carne e de leite”, acrescenta.

Evolução

De acordo com o criador, a principal atividade do criatório é a produção de matrizes e reprodutores provados, além de sêmens e embriões, que são comercializados para diversas regiões do Brasil. ”Nosso plantel se destaca tanto pelos animais diferenciados em caracterização, quanto pelo desempenho de vários indivíduos em torneios leiteiros e avaliações genéticas”, informa.
Os recursos financeiros, conforme lembra Borba, sempre foram muito limitados, já que os animais são criados em uma região semiárida, onde só chove 500 mm por ano. Com relação aos recursos técnicos, o criador explica que sempre busca utilizar as ferramentas de melhoramento genético, como PMGZ corte e PMGZ leite, além de utilizar técnicas de reprodução assistida, como Inseminação a Tempo Fixo (IATF), Transferência de Embriões (TE) e Fertilização in Vitro (FIV).

“O melhoramento genético é um trabalho dinâmico que sempre precisa ser atualizado em função das demandas do mercado. Nesse sentido, buscamos multiplicar as características produtivas de nossos animais, como fertilidade, precocidade, habilidade materna e produção de carne e leite, sem perder a essência da raça como o padrão racial e a rusticidade”, destaca o titular da Sindi P.

Adversidades

O pecuarista conta que, além das dificuldades impostas pelas condições climáticas da região, ainda há outras barreiras para conseguir deslanchar na atividade. “Sempre há dificuldades em qualquer negócio, porém, nós enfrentamos as maiores dificuldades quando a raça ainda era pouco aceita pelos criadores e não havia mercado para venda dos animais, o que nos obrigava a vender os tourinhos registrados para o abate”.

Segundo ele, para crescer e superar os obstáculos propostos pela atividade é necessário que se faça uma avaliação da viabilidade do negócio especificamente, falando e observando as particularidades de cada pessoa, de cada fazenda e da região, o que envolve clima, condições geográficas, acesso, mercado local e recursos humanos e financeiros.

“Essa avaliação bem feita é fundamental para minimizar os erros e potencializar os acertos. A capacitação das pessoas envolvidas no trabalho e a escolha de equipamentos adequados são sempre muito importantes no sucesso da atividade”, avalia. Atualmente, a equipe de trabalho do criatório conta com 1 gerente e 12 colaboradores efetivos, além de contratar serviços veterinários terceirizados. “Também utilizamos um programa de gerenciamento do rebanho e de administração financeira da fazenda”, acrescenta Borba.

Em relação às demais adversidades relacionadas ao segmento, o criador informa que, infelizmente, no Brasil, as instituições públicas mais atrapalham do que ajudam. “Meu conselho é cumprir com as exigências legais e nunca esperar pela ajuda do governo”, sugere. “Na contramão, eu acredito nas instituições de classe, pois elas representam, como o nome bem diz, os interesses das classes produtoras e defendem esses junto à política governamental e às leis do mercado”, pondera.

Dicas

Na visão do titular da Sindi P, para vencer os obstáculos é preciso sempre ter muita perseverança, gostar do que faz e acreditar no negócio. “Na pecuária seletiva nós só colhemos os resultados a médio e longo prazo, o que aumenta o grau de dificuldade do negócio”, aponta, acrescentando que a pecuária como um todo, e especialmente a raça Sindi, vivem um bom momento de expansão da atividade, com boa perspectiva de crescimento.

“Sempre cometemos alguns erros em nossas vidas e buscamos tirar alguma lição disso para superar as barreiras que vão surgindo no nosso cotidiano. A dica que eu sempre passo para os mais jovens ou para os iniciantes na atividade é que sempre devem fazer o que gostam, acreditar no que fazem e procurar fazer bem feito, com amor e perseverança, pois o resultado virá , é só uma questão de tempo”, arremata Borba.