As doenças respiratórias acontecem com grande frequência na clínica de cães, tendo a tosse como um dos principais sinais manifestado.

A doença respiratória ou a síndrome que mais acomete os cães é a que conhecemos com o termo “Tosse dos Canis”, utilizado pela grande maioria dos médicos veterinários e conhecido por muitos proprietários. Esta doença ou síndrome, é definida como uma Infecção respiratória aguda contagiosa, ocasionando tosse seca sonora e frequente, com elevado grau de contagiosidade.

Todos os cães contactantes tendem a apresentar os sinais clínicos em maior ou menor grau, particularmente aqueles que coabitam em ambientes de alta densidade, como canis, abrigos de animais e lojas de petshop. Embora seja considerada de branda patogenicidade, a taxa de morbidade pode chegar a 50% entre animais susceptíveis ou portadores, dependentes de uma combinação de fatores de risco como idade, estado imunológico, tipo e número de microorganismos envolvidos, e ainda, a existência de doenças concomitantes, principalmente as respiratórias que contribuem para o agravamento dos sintomas das doenças respiratórias crônicas (bronquite, broncopatias).

Traqueobronquite

Os surtos de traqueobronquite infecciosa canina são considerados relativamente comuns, podendo representar um desafio para o manejo dos animais infectados, ocorrendo principalmente nas épocas mais frias do ano. Um dos principais agentes responsáveis por essa infecção é a Bordetellabronchiseptica, desempenhando papel fundamental na patogênese da infecção, pois na maioria das vezes está associada a outros agentes, caracterizando uma síndrome respiratória complexa.

Do ponto de vista dos sinais clínicos a traqueobronquite infecciosa canina pode se manifestar com vários graus de gravidade, variando de quadros isolados, brandos e autolimitantes a broncopneumonia fatal em ninhadas inteiras.

Infecções concomitantes

As infecções concomitantes respiratórias causadas por agentes virais são frequentemente caracterizadas por uma forma branda da doença e pelo surgimento de sintomas agudos de tosse seca e paroxística, com melhora clínica rápida.

A infecção por B. bronchiseptica, por sua vez, costuma levar a quadros graves da doença devido a uma lesão mais intensa do epitélio respiratório e predisposição do paciente a infecções secundárias, podendo causar agravamento do quadro em pacientes acometidos por vírus respiratórios relativamente benignos como o caso da parainfluenza. O local primário de infecção por B. bronchiseptica é o epitélio respiratório ciliado, levando a processo inflamatório com comprometimento da função, estase ciliar na fase inicial da infecção.

Estase ciliar

A estase ciliar aliada aos agentes tóxicos bacterianos compromete os mecanismos de defesa do epitélio respiratório, onde não ocorre a eliminação desse material, predispondo o paciente ao agravamento da doença respiratória por agentes oportunistas que colonizam e proporcionam maior lesão local, expandindo a área de agressão e piorando os sinais clínicos com repercussão na morbidade quando não há o tratamento adequado, através do uso de antibiótico. Recomenda-se o uso de fluidificantes para “quebra” dessas substâncias ou muco alojado sobre o epitélio, e hidratação adequada para favorecimento da fluidificação.

Diagnóstico

O diagnóstico é fundamental, principalmente nos casos graves, através de imagem (radiografia, tomografia) e o lavado broncoalveolar-LBA, permitindo o isolamento dos agentes bacterianos envolvidos, com a escolha correta do antibiótico. A transmissão de B. bronchiseptica ocorre através de aerossóis dos agentes infecciosos presentes nas vias respiratórias dos animais acometidos, também podem ser transmitidas diretamente por meio de contato direto e fômites (vasilhas, pelas mãos de criadores e tratadores e outras fontes).

Vacinação

Embora existam várias vacinas licenciadas para a profilaxia na prevenção dos sintomas associados à traqueobronquite infecciosa canina, nenhuma vacina é eficiente 100%, ou promove proteção contra todos os patógenos potenciais desta síndrome, porém é uma forma mais importante de se evitar ou amenizar os sinais clínicos, independentemente da via de administração (intranasal ou parenteral)

Cães vacinados tendem a demonstrar sensível diminuição na intensidade dos sintomas (tosse). As vacinas intranasais vivas atenuadas apresentam o benefício de induzir proteção com apenas uma dose após a primovacinação, apesar desta forma de aplicação ser considerada por muitos clínicos como mais trabalhosa e pouco tolerada por alguns animais. As vacinas inativadas parenterais necessitam de duas doses na primo vacinação de filhotes ou adultos que nunca tiveram contato com a vacina, mas apresentam o benefício da facilidade de administração e não parecem interferir com a revacinação anual dos adultos, possibilitando uma resposta anual de revacinação mais potente.

É importante ressaltar que animais vacinados podem desenvolver os sintomas da doença, independentemente da vacina utilizada, porém a evolução dos sintomas e sua gravidade tendem a ser benignas, porém com menor eliminação dos agentes infecciosos pelos animais afetados em caso do desenvolvimento dos sintomas.

Vacine seu Pet! Vacina também é carinho!

Paulo Daniel Leal é clínico de pequenos animais