Introdução
Com o avanço da tecnologia no agronegócio, a preocupação com o meio ambiente vem se tornando uma importante pauta entre os médios e grandes produtores rurais, ou seja, a Agroecologia está tomando espaço no setor agropecuário. Um dos principais pontos é a mitigação de emissão de metano entérico que os ruminantes produzem através do processo de ingestão e evacuação, que reduzem o espaço de oxigênio na atmosfera terrestre. Uma das soluções propostas é o uso de leguminosas, que são grãos produzidos em vagens, consorciada em pastagem reduzindo em até 70% da emissão do gás, podendo ajudar também o produtor em estações mais secas onde tal associação produzirá uma maior oferta de matéria proteica na dieta do animal, desencadeando assim, um pasto mais rentável sob o aspecto nutricional.
De acordo com a pesquisa desenvolvida entre a Embrapa Pecuária Sudeste e a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), a união entre a leguminosa Guandu BRS Mandarim (possui compostos em sua estrutura com poder de ação sobre microrganismos do rúmen interferindo na fermentação e reduzindo as populações de organismos que produzem metano) e as gramíneas (família de plantas que possuem as folhas em formato de lâminas), Marandu e Basilisk, desenvolveu um ganho de massa corporal dos bovinos e a emissão de gás por kg de ganho de peso diminuiu 70% comparado ao sistema pastoril degradado. Além de uma expressiva mudança no rebanho e no meio ambiente, o feijão guandu apresentou também a recuperação do pasto do experimento, ou seja, a inserção de leguminosas oferece a fixação do nitrogênio que em estações mais secas é escasso, recuperando pastagens degradadas através do nutriente para a melhoria do solo e para a melhora nutricional.
A adoção dessas soluções, como sistema integrado de pastagens e manejo intensivo, podem ser uma opção para diminuir as emissões de gases gerados pela pecuária.
Vantagens
Podemos citar diversas vantagens do consórcio de leguminosas nas dietas de ruminantes, principalmente em alternativas para produção animal sustentável. O feijão guandu pode substituir insumos fertilizantes nitrogenados por fixação simbiótica de nitrogênio (FBN), aumentando a qualidade e a produção da forragem, pois o maior aporte de proteína bruta minimiza efeitos negativos de sistemas de pastejo que se baseiam em monocultura, que durante o período seco apresentam baixa disponibilidade de proteína e menor digestibilidade (Poppi & McLennan, 2010).
A introdução de leguminosas contribui para mitigação de gases do efeito estufa, devido a sua composição conter taninos, nos quais possuem polímeros polifenólicos com elevado potencial antimetanogênico; dessa forma, a metanogênese irá diminuir, por via direta e indireta, inibindo o desenvolvimento de bactérias metanogênicas e suprimindo bactérias celulolíticas. A redução do metano em produções de bovinocultura ocorre pela consequência de sua ação na fibra, que reduz precursores de metano nesse ambiente. Além disso, reduzem a necessidade de utilização de fertilizantes químicos nitrogenados, o que resulta numa menor emissão de óxido nitroso. O uso de leguminosas também pode recuperar áreas degradadas através de uma melhor proteção e cobertura do solo, pela capacidade já citada de fixação biológica de nitrogênio no solo, por associações entre bactérias que fixam nitrogênio e as leguminosas; esse nitrogênio fixado pela leguminosa dará suporte a produtividade de forragem e ampliará a vida útil da pastagem dessa produção (Barcellos et al., 2008).
Limitações
No Brasil, ainda é limitada a utilização do uso de leguminosas em pastagens, por fatores limitantes à adoção dessa produção, como:
- o custo elevado para implantação;
- o estabelecimento lento, além do limitado portfólio de cultivares;
- a questão de que seu real papel de desempenho no sistema ainda não ser totalmente descrito.
Existe a questão da competição entre as gramíneas e as leguminosas, uma vez que a segunda apresenta uma menor eficiência no uso de recursos como água, temperatura e luz, o que cria uma desvantagem durante a rebrotação dos pastos onde existe esse consórcio, fazendo com que durante um período curto a gramínea domine todo a pastagem.
Outro fator limitante está na composição das leguminosas; como já citado, as mesmas possuem taninos e outros compostos secundários do metabolismo vegetal, o que faz com que o animal consuma mais gramíneas até mesmo pela palatabilidade. Ademais, o tanino dentro da dieta de um ruminante, se acima de 40g/kg da MS, torna oportuno efeitos indesejáveis em seu metabolismo.
O feijão guandu
A leguminosa em questão, é utilizada muitas vezes como adubação verde pela sua alta produção de fitomassa, pela boa taxa de mineralização do solo e elevado acúmulo de nutrientes. Pesquisas indicam boa aptidão dessa leguminosa em cultivo consorciado com capins Tifton 85 e Piatá, observando nos resultados um aumento da proteína bruta e da matéria seca total. Silva et al. (2018) avaliaram a possibilidade de recuperação de pastagem degradada com o consórcio de braquiária, milho e feijão guandu e o resultado foi que não houve perda na produtividade do milho nem para pastagem remanescente nem para produção de silagem, o que elevou a produtividade da forrageira e a disponibilidade de alimentos para os animais do rebanho.
Conclusão
Ainda há muito o que se pesquisar e trabalhar nesse tópico, mas muitos resultados já sugerem o uso de pastagens consorciadas de leguminosas e gramíneas como uma boa opção de estratégia para mitigar gases do efeito estufa pela redução da emissão de CH4, levando em consideração o desempenho do animal. O feijão guandu é uma leguminosa que auxilia na melhoria da qualidade de silagem e forragem, porém a capacidade de rebrota e produção total de Matéria Seca é baixa, ainda sendo necessário maiores estudos relacionados a densidade de semeadura e população de plantas.
Referências
RODRIGUES, Paulo Henrique Mazza et al. USO DE LEGUMINOSAS NA DIETA DE RUMINANTES: ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E MITIGAÇÃO DA EMISSÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA. EMBRAPA, [s. l.], 2021.
CABRAL, Beatriz Ligoski. PRODUÇÃO AGRÍCOLA E ANIMAL EM CONSÓRCIO TRIPLO COM MILHO, BRAQUIÁRIA E FEIJÃO GUANDU. 2021. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA GOIANO – CAMPUS RIO VERDE, [S. l.], 2021.
Poppi D. P., McLennan S. R. (2010) Nutritional research to meet future challenges. Animal Production Science 50, 329-338.
BARCELLOS, Alexandre de Oliveira et al. Sustentabilidade da produção animal baseada em pastagens consorciadas e no emprego de leguminosas exclusivas, na forma de banco de proteína, nos trópicos brasileiros. Revista Brasileira de Zootecnia, [s. l.], 2008.
Rodrigues, P. H. M., Oliveira, P. P. A., Berndt, A., Gerdes, L., MATTOS, W. D., Furtado, A. J., … & Andrade, W. R. (2021). Uso de leguminosas na dieta de ruminantes: adaptação às mudanças climáticas e mitigação da emissão de gases de efeito estufa.
ROSSO, Gisele. FEIJÃO GUANDU CONSORCIADO EM PASTAGEM REDUZ A EMISSÃO DE METANO EM ATÉ 70%. Embrapa, 2022. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/73561667/feijao-guandu-consorciado-em-pastagem-reduz-emissao-de-metano-em-ate-70?link=agencia.