A predileção dos consumidores de produtos lácteos por alimentos mais saudáveis e sustentáveis tornou-se uma nova tendência e tem sido notada não só nas gôndolas dos supermercados, mas também na cadeia produtiva do setor, que precisa se adequar a esse novo cenário, cada vez mais evidente, para manter-se na atividade.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, Kennya Siqueira, o fortalecimento do sistema imunológico e a perda de peso estão entre alguns dos fatores relacionados à escolha do consumidor. “A tendência em valorizar os lácteos com benefícios à saúde vem sendo observada nos últimos anos e, durante a pandemia, reforçou a preocupação do consumidor com o fortalecimento do sistema imunológico, além de oferecer mais benefícios nutricionais e funcionais por quilocaloria”, diz Kennya.

Um levantamento feito pelo Innova Consumer Survey, plataforma de tendências de mercado, aponta que seis de cada dez consumidores no mundo buscam alimentos e bebidas cuja finalidade é aumentar a imunidade. Isso tem levado as indústrias a desenvolverem produtos nutracêuticos, com compostos bioativos, que tragam benefícios à saúde, como vitaminas C e B6, além do ômega 3.

Segundo Kennya, atenta às necessidades dos consumidores, as empresas laticinistas têm inovado e oferecido cada vez mais opções de produtos que se adequam a essa nova realidade e essa tendência lança luz nos iogurtes, produto com alta densidade nutricional. “Os iogurtes, em especial, devem se beneficiar, visto que já são reconhecidos como alimentos que aumentam a imunidade do organismo”. A empresa de pesquisa de mercado Technavio estima que a taxa de crescimento no mercado anual de iogurtes supera 5%.

Outro ponto destacado pela pesquisadora é que a saúde intestinal sensibiliza os consumidores há mais tempo, tanto que a indústria de alimentos possui uma série de produtos direcionados à atuação na microbiota intestinal, que refletem em melhorias de problemas metabólicos, controle de peso, imunidade e bem-estar emocional. “Nesse sentido, os derivados lácteos apresentam vantagem pelo fato de alguns terem naturalmente atuação na microbiota intestinal, e outros por serem ótimos veículos para prebióticos, probióticos e simbióticos”, observa, acrescentando que, de acordo com dados da empresa de consultoria sobre mercado global, Global Marketing Insigths, os produtos lácteos destinados à promoção da saúde dos consumidores movimentarão, em 5 anos, cerca de U$ 21 bilhões.

A pesquisadora lembra que os impactos da pandemia sobre o setor fortaleceram outra tendência: a preocupação com a sustentabilidade ambiental. Segundo ela, estudos mostram que cerca de dois terços dos consumidores desejam impactar positivamente o meio ambiente, o que inclui o consumo de alimentos e bebidas. “Com o leite não é diferente, então, para este e para os próximos anos, é preciso que a cadeia produtiva de lácteos demonstre seu compromisso com a sustentabilidade em todo o ciclo produtivo”, ressalta. “Isso porque, num setor tão rotulado pela emissão de gases de efeito estufa e maus tratos com os animais, a chave para o sucesso estará na forma de comunicar os esforços de sustentabilidade para o consumidor final.”