Conhecendo: Integração passado, presente e futuro
A avicultura nacional teve início com a chegada das aves a partir dos porões dos navios portugueses no período colonial. Inicialmente voltada à subsistência, prevendo a comercialização apenas dos excedentes, a avicultura tornou-se rapidamente comercial pouco antes de 1930. Sua intensificação se deu em meados da década de 40 e ganhou robustez durante a Segunda Guerra Mundial, uma vez que havia grande necessidade de enviar carne aos soldados que estavam na guerra. Nesse período, o setor já se fortalecia com iniciativas privadas originadas principalmente da região Sudeste, tendo como berço da avicultura brasileira o pequeno município de São José do Vale do Rio Preto (até então distrito da cidade de Petrópolis). As transformações econômicas e territoriais que transcorriam no Estado de São Paulo, em especial com a aceleração do desenvolvimento da atividade durante a chegada dos imigrantes japoneses, fizeram com que a avicultura ganhasse destaque naquela região (TEIXEIRA et al., 2011; CALIXTO; OLIVEIRA, 2012; ZEN et al., 2014).
As novas demandas do mercado estimularam o investimento em pesquisas nacionais e internacionais com o objetivo de desenvolver novas linhagens de frango, fórmulas de rações e alimentos que atendessem às necessidades nutricionais das aves. Neste contexto, destacam-se também os investimentos na construção de instalações adequadas e o estabelecimento de parcerias entre os produtores e as indústrias, por meio de contratos de integração vertical. Nesse novo modelo, que se perpetua nos dias atuais, o avicultor integrado conta com o apoio da indústria no que se refere ao fornecimento dos principais insumos da atividade, como ração e medicamentos, além de assistência técnica e reposição de lotes (pintainhos). Neste modelo, a produção é repassada à indústria, e a partir desta se dá a remuneração do avicultor (TEIXEIRA et al., 2011; CALIXTO; OLIVEIRA, 2012).
Os investimentos para se garantir a qualidade dos produtos, a redução do custo da produção e do preço do produto para o consumidor final, proporcionaram maior produção, oferta e consumo da carne de frango, culminando no avanço do setor em diversos mercados internacionais (TEIXEIRA et al., 2011; CALIXTO; OLIVEIRA, 2012).
Destaca-se o papel das tecnologias neste contexto, estas tornaram possível melhorar significativamente os principais índices técnicos (conversão alimentar, velocidade de crescimento, produção de ovos e mortalidade das aves), o que está diretamente relacionado ao desenvolvimento das áreas de nutrição, manejo, sanidade e ambiência, que são áreas de interesse do médico veterinário que visa o mercado do agronegócio ao qual vamos nos direcionar nas seções que seguem (SILVEIRA, 2012; SILVEIRA et al., 2014).
Mercado: Quais as grandes áreas onde o médico veterinário pode atuar na avicultura industrial?
Para se obter o sucesso e eficiência produtiva do lote, o MANEJO ADEQUADO é indispensável. Dessa forma, as empresas integradoras buscam cada dia mais qualificar e treinar seus integrados e oferecer o acompanhamento técnico dos lotes. Para tanto, o médico veterinário tem a oportunidade de atuar como extensionista, tornando-se responsável regional pelos acompanhamentos, treinamentos e investimentos em melhoria contínua que a empresa investe no trabalho a campo.
Outra oportunidade muito procurada é a atuação como sanitarista, onde o médico veterinário é responsável pela sanidade dos lotes, monitoramento dos índices sanitários, coleta de materiais para análise em laboratório e gerenciamento da intervenção medicamentosa quando necessário. Além disso, este tem a função de atuar na prevenção das doenças, na criação de procedimentos operacionais padrão que visem a redução das doenças, obedecendo a legislação nacional e orientações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Ademais, deve buscar atualização no que tange o surgimento de novas tecnologias e vacinas que busquem preservar a saúde das aves e a saúde do consumidor.
A área da nutrição deve ser objeto de atenção do médico veterinário, uma vez que na criação de frangos de corte, é fundamental que se tenham cuidado e atenção à nutrição dos animais. A alimentação das aves deve ser balanceada e incluir ingredientes de alta qualidade e com níveis nutricionais que atendam totalmente as necessidades de nutrientes que elas necessitam, de forma sincronizada com o crescimento dos tecidos (nervoso, ósseo, muscular e adiposo). A água fornecida ao plantel também faz parte da alimentação e é fornecida com qualidade, livre de contaminações.
Por fim, destacamos alguns outros setores que podem ter o médico veterinário como membro fundamental, sendo eles: incubatórios, abatedouros, laboratórios de análises clínicas, fábricas de ração, laboratório de pesquisa, bem como em órgãos públicos onde podemos citar as secretárias de agricultura e o próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, fiscalizando os estabelecimentos de produção de aves de corte, postura ou reprodução através do Plano Nacional de Sanidade Avícola (PNSA).
Dica de ouro: Fique atento!
Não se esqueça de que por mais vultuosos que sejam os números da produção avícola brasileira, tanto em termos financeiros quanto em volume de produção, são poucos os profissionais que atuam na área e o mercado é totalmente integrado, com uma comunicação eficiente. Portanto, ao jovem médico veterinário que se dispõe a trabalhar na área, orientamos que busque identificar seus valores inegociáveis antes de ingressar no mercado, e tenha clareza de valores como honestidade, integridade, justiça e transparência. O despojamento para se trabalhar com avicultura também é fundamental, há que se ter consciência de que o ciclo de vida das aves é indiscutivelmente muito rápido, o que faz com que cada chamado do integrado seja prioridade, mesmo nos dias de folga (que basicamente não existem). O investimento em educação, aprimoramento e as oportunidade de estágios e intercâmbios também são muito bem vistas pelo setor.
Entendi, mas e agora?
O médico veterinário que decidir fazer carreira na grande área da avicultura industrial deve fazer uma análise em relação ao seu perfil pessoal e profissional, e deve identificar suas potencialidades e aptidões para tanto. Temos um roteiro para isso:
– Dica 1: Analise o mercado, faça a sua matriz FOFA
Já ouviu falar da Matriz FOFA ou SWOT? Ela significa forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, derivada do inglês, strengths, weaknesses, opportunities e threats. É uma ferramenta utilizada no mundo dos negócios, mas pode ser utilizada de forma pessoal. O médico veterinário que quer começar no ramo deve se perguntar se a região onde está tem oportunidades (se existem empresas que demandem o profissional), se seu perfil lhe favorece (forças), deve se perguntar também como está a concorrência e se existem grande oferta de mão-de-obra que pode influenciar nos honorários a serem recebidos.
– Dica 2: Comece a praticar
Buscar estágio para confirmar suas aptidões é uma excelente estratégia. Prepara-se financeiramente para isso. Muitas vezes você terá que arcar com as despesas para esta experiência, mas acredite, vale a pena, vale o risco de conseguir ser efetivado ou também, antes de se formar, mudar a rota se o cenário não for como você imaginou.
– Dica 3: Comunique-se bem
Esteja no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas. Conforme dito anteriormente, todos se conhecem na avicultura. Os profissionais se reúnem e se reencontram nos eventos e congressos pelo país afora. Sendo assim, os laços de amizade são construídos e deles que saem as indicações, as oportunidades e, claro, a troca de experiências.
– Dica 4: Invista em educação
Sentimos lhe dizer, mas apenas o diploma universitário não será suficiente. Logo depois de realizar sua matriz FOFA, identificando suas aptidões e demandas do mercado, defina para qual seguimento irá (extensão, sanidade, nutrição entre outros). Tendo feito isso, procure o centro universitário mais próximo de você para intensificar seu conhecimento. As universidades federais e estaduais, e algumas privadas, são referências quando se trata de formação continuada. Assim, procure um centro de confiança com profissionais renomados no mercado, que lhe ofereça atividades práticas e conhecimento atualizado. Realmente pesquise para investir bem seu tempo e recursos financeiros.
Por fim, é gratificante fazer parte de uma equipe estruturada, que preza pelos colaboradores, que busca gerar riqueza, oportunidade e desenvolvimento para uma região e para todos que nele vivem. Sucesso!
Referências
CALIXTO, L; OLIVEIRA, L. T. D. A avicultura como atividade satisfatória para pequenos produtores com o sistema integrado de produção em um município do norte do Paraná. 2012. 84f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Administração) – Universidade Estadual do Norte do Paraná, Paraná, 2012.
SILVEIRA, M. A. Energia renovável: biogás e biodiesel. Monografia (Engenheira Agrônoma). Florianópolis. 2012. Disponível em: <http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/100132>.
M. A.; KRETZER, S. G.; NAGAOKA, A. K.; ARROYO, N. A. R.; BAUER, F. C. Produção de biogás em biodigestores de tamanho reduzido abastecido com cama de aviário. Acta Tecnológica, v. 9, n. 2, p. 9-15, 2014.
TEIXEIRA, V. C. M.; BRANDÃO, M. D. M.; SANTOS, F. F.; ABREU, D. L. C.; ALMEIDA, J. F.; PEREIRA, V. L. A.; NASCIMENTO, E. R. Consumo, produção e potencial de desenvolvimento da avicultura de corte no estado do Rio de Janeiro. In: Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária, 38. 2011, Florianópolis. Anais… SOVERGS: Porto Alegre, 2011. p.1-3.
ZEN et al. Evolução da avicultura no Brasil. Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Disponível em: <http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/100132>.