As dicas:

1- Estudo

A anestesiologia é uma especialidade que consta nas grades curriculares do curso de Medicina Veterinária, com diferentes cargas horárias, que não são suficientes para aprofundar conhecimento e sair da faculdade com conhecimento necessário para iniciar a carreira de anestesista veterinário. O profissional que desde a graduação escolher a área, irá beneficiar-se de oportunidades como a realização iniciações científicas e monitoria. Ambas incentivam um estudo mais aprofundado da área, através da necessidade de buscar conhecimento em artigos atualizados e livros. Nessa fase, o contato mais próximo com professores da área, mestrandos e doutorandos, também é fundamental para a aceleração do processo de aprendizado.

Voltando mais especificamente para a anestesiologia, o estudo básico inicial deverá envolver: anatomia, fisiologia e farmacologia. Esses pilares devem estar vivos e bem estabelecidos para qualquer anestesista. Alinhado a isso, tem-se o conhecimento mais aprimorado em diversas outras áreas (ex.: cardiologia, endocrinologia, patologia) uma vez que o profissional precisa conhecer cada doença, para então, entender como cada alteração irá implicar no paciente anestesiado, e assim escolher o melhor protocolo.

2- Estágio

A veterinária por si só é uma profissão que exige prática, seja qual for a área que o profissional optar por especializar-se. Portanto, o princípio básico para tornar-se especialista é acompanhar a rotina de quem já está atuando. No estágio, será possível ver na prática os conceitos teóricos sendo aplicados, bem como a maneira de diferentes profissionais trabalharem e se organizarem. No que tange propriamente a anestesiologia, essa etapa é fundamental, pois é nela que o profissional aprende a lidar com o tutor e o paciente, fazendo avaliação pré-anestésica adequada. Aprende também, a ter organização quanto à montagem dos equipamentos e fármacos, à fim de evitar intercorrências. E, principalmente, visualiza de perto as intercorrências que podem ocorrer, diante dos procedimentos e doenças variadas, se preparando para como se portar diante delas, visto que é um momento que exige conhecimento, alinhado ao extremo preparo de estar calmo para agir.

3- Pós graduação

Ao se formar em medicina veterinária, o próximo caminho fundamental para tornar-se anestesiologista é realizar uma pós graduação. Sabidamente há as modalidades strictu sensu e latu sensu. A primeira engloba mestrado, doutorado e pós-doutorado, e é voltada para aqueles que desejam seguir vida acadêmica, como pesquisador ou professor. A modalidade latu sensu engloba as especializações e residência, geralmente voltadas para os profissionais que irão atuar no mercado de trabalho.

Aqueles que optarem por seguir a área acadêmica ou realizar residência, devem acompanhar os editais das universidades, para estudar e se preparar para as provas a serem realizadas. Nesse momento trago a importância de ter realizados estágios, iniciações científicas, monitorias, cursos e congressos, uma vez que além de terem agregado conhecimento inquestionável, são fatores que contam pontos na análise de currículo nessas provas.

Para quem deseja especializar-se, existem inúmeros cursos de pós graduação disponíveis na área. Oriento entrar em contato com pessoas que passaram pelos mesmos, e se informar com profissionais já especializados para fazer a escolha daquele curso de pós graduação que de fato vai agregar conhecimento e tornar o profissional apto.

Como opinião pessoal, oriento quem deseja ir para o mercado de trabalho se possível realizar a residência. Ao meu ver, não há nenhuma pós que vai preparar o profissional tão bem no âmbito prático e teórico, para a especialidade que ele escolheu, quanto a residência.

4- Congressos, cursos e palestras

Como forma de atualização, temos variados artifícios disponíveis. E, com a tecnologia, encontramos excelentes cursos e congressos online também. Eles são excelentes formas de agregar conhecimento, tanto para o aluno de graduação, que está iniciando, se aprofundar na área, quanto ao médico já formado, que busca atualizar o conhecimento adquirido e realizar networking.

5- Networking

Falando em networking, esse é um ponto chave para o anestesiologista, uma vez que o cargo exige extrema confiança, pois o profissional precisa saber lidar com diversas alterações hemodinâmicas, sendo encarregado de garantir um despertar seguro, sem dor e assegurar que o procedimento anestésico tenha sido realizado de tal forma que não gere danos futuros à saúde do paciente. Através do networking o profissional garante uma rede de confiança e troca, para conseguir começar se inserir no mercado de trabalho, e mostrar seu bom serviço, possibilitando ampliar assim cada vez mais essa rede de contatos, e de fato conseguir uma rotina anestésica.

6- Cuidado com além do paciente

A clássica questão de “eu fiz veterinária porque gosto de animal, não de gente”, sabidamente não faz o menor sentido para a veterinária. Uma vez que é profissão de saúde pública, responsável por cuidar também dos seres humanos. E é extremamente comum veterinários formados optarem pela área de anestesiologia para não ter que lidar com o cliente. Engana-se quem acha que isso é real, ou pelo menos que conseguirá ser um bom anestesista assim.

O bom anestesista deve conversar sempre com o tutor do paciente, para fazer uma anamnese detalhada e entender o dia a dia do animal. Além disso, tão fundamental quanto, é explicar o que será feito, os riscos do procedimento em específico, o que é esperado e passar a tranquilidade, mostrando que está ali para fazer o melhor, embasado tecnicamente e sendo um ser empático.

7- Equilíbrio emocional

Anestesiar envolve tentar estar sempre atualizado em técnicas e conhecimentos novos, mas acima de tudo, saber que biologia não é matemática e estar preparado para intercorrências e eventos adversos é fundamental.

Quando se tem conhecimento do que está sendo feito, fica muito mais fácil manter a tranquilidade e estar preparado para possíveis intercorrências. Porém, além disso, é imprescindível ter equilíbrio emocional para manter a calma e agir da melhor forma possível diante dessas situações, bem como lidar com o emocional desestabilizado de tutores ansiosos e nervosos.

8- Trabalho em equipe

Por ser uma área que depende de diversas outras, como os clínicos, cardiologistas, patologistas, oncologistas, endocrinologistas, equipe de terapia intensiva, e principalmente, cirurgião, saber trabalhar em equipe não é uma qualidade, e sim uma característica extremamente necessária, para o melhor resultado possível para o paciente. Afinal, “quem manda” no centro cirúrgico não é o anestesista, nem o cirurgião, mas sim o paciente, e devemos toda dedicação conjunta pensando sempre nele e nas necessidades que o envolvem.

9- Especialista x especializado

Para ter o título de especialista, o anestesista deve realizar a prova do Colégio Brasileiro de Anestesiologia Veterinária, se encaixar nos pré-requisitos e ser aprovado. Os profissionais que não passaram por essa etapa são tidos como especializados em anestesiologia, não especialistas, fato que atualmente não impede a atuação nem que o profissional especializado não seja um bom profissional.

10- O anestesiologista, o bom anestesiologista e o excelente anestesiologista

Por fim, concluo que para se tornar um médico veterinário anestesiologista, além do conhecimento, que é indispensável, faz-se necessário ter diversas qualidades como: empatia, equilíbrio emocional, ética, trabalho em equipe e liderança.

“A medicina está em constante mudança, nunca pare de se atualizar e buscar ser melhor que ontem.”

Amanda Santorom da Motta é médica veterinária formada pela UFRRJ, residência em Anestesiologia e Medicina de Emergência Veterinária na mesma instituição
Foto de capa: Pixabay