A Associação Brasileira das Empresas de Certificação por Auditoria e Rastreabilidade (ABCAR) está idealizando um novo protocolo para a pecuária brasileira, a ser lançado no primeiro semestre deste ano. Trata-se da estruturação do IDBOV, um sistema de informações que antes era elaborado pela Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA).

O objetivo é reunir um conjunto de dados e números mais simples do que o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos (SISBOV), que, atualmente, garante a comercialização de carne bovina para mercados que exigem identificação individual dos animais.

“O protocolo, hoje com a CNA, será um dos focos da ABCAR e é uma aposta em suprir outros mercados que precisem de rastreabilidade, fora do âmbito do protocolo Europa”, esclarece Aécio Flores, vice-presidente da entidade. “O IDBOV é mais simples de ser executado pelo produtor, exigirá apenas uma vistoria anual, utiliza a numeração oficial que rege os nossos sistemas e dará as garantias de rastreabilidade que precisamos.”

O executivo destaca a importância de implementar outras ferramentas de controle, com base em dados públicos que fornecem transparência ao processo de avaliação, agregando valor ao produto, além de mostrar que a propriedade do criador não atua com desmatamento, não utiliza trabalho escravo, não produz carne bovina em área indígena e nem ilegal. “Isso significa que o ano de 2022 será desafiador, pois teremos muito trabalho pela frente, mas não é difícil entregar isso ao produtor”, prevê.

Flores ressalta o ânimo do setor pela volta da China às importações da carne bovina brasileira, depois de três meses de embargo, devido aos casos de ‘Mal da Vaca Louca’ atípica, em Minas Gerais e Mato Grosso.  Ele lembra que existe um acordo sanitário entre os dois países, que tem como base a exigência de animais com, no máximo, 30 meses. “Como o Brasil vai garantir a idade do bovino sem a identificação individual?”. questiona.

O mercado, segundo Flores, especula que os chineses podem baixar a idade mínima de bovinos abatidos comercializados para 24 meses, que é o prazo máximo da Guia de Trânsito Animal (GTA) nacional. Depois disso, a GTA só trata de bovinos com idade de 24 meses a 36 meses. “Temos que aguardar se haverá novas exigências para a retomada das importações. Eles podem não voltar com os mesmos volumes expressivos de antes, quando respondia pela metade dos embarques a cada mês, já que estão recuperando a produção de carne suína. aos poucos e ficando menos dependentes da proteína internacional”, acrescenta.

Ele alerta, ainda, sobre a necessidade urgente de a cadeia produtiva investir em identificar, rastrear e certificar o rebanho que dá origem ao alimento exportado. “O Brasil se esforçou bastante em conquistar novos mercados, nesses três meses sem os chineses, porém, sem muito sucesso. Os parceiros mais interessantes, Japão e Coreia do Sul, por exemplo, são bem fechados para a nossa proteína. A Rússia chegou a embargar nossa carne, os árabes compraram menos e a arroba teve queda expressiva no mercado interno”, observa. “Precisaríamos ter mais controle sanitário para conquistá-los”, alerta.

Nesse viés, o executivo aponta a importância da União Europeia, que aumentou as compras justamente por conta do Sisbov, com regras claras e definidas. “Os europeus são o nosso principal importador, justamente por causa de parâmetros estabelecidos, além de ser o terceiro maior mercado em receita, com um valor agregado expressivo”, destaca e acrescenta que, quando tinha a China na plenitude, as empresas de certificação eram muito questionadas sobre a rastreabilidade.

“Foi um momento difícil para as empresas, mas o embargo virou o jogo, já que a União Europeia, ao lado dos Estados Unidos, passou a comandar. Ganhamos importância na cabeça de alguns produtores, pelo menos daqueles que têm a gestão mais profissional, mas a lição que temos de aprender com o episódio chinês é que os europeus permaneceram navegando, mesmo no mar revolto”, analisa. “Portanto, devemos que proceder igualmente com os outros parceiros, pois é mais seguro e lucrativo para todos nós.”

A expectativa da ABCAR, para 2022, é uma procura maior por certificação, mas com exigências adicionais. “Grandes redes de varejo já estão atrelando a compra de nossa carne bovina a questões como desmatamento. Isso significa que também temos de ampliar nossa atuação para temas como o cuidado com a fazenda, as áreas protegidas, a situação social dos trabalhadores, a transparência dos dados”, avalia. “Estes assuntos estão na pauta da Câmara Setorial da Carne, mas isso ainda não encontrou eco entre os pecuaristas, como deveria. Essa situação precisa mudar”, observa Flores.

O executivo insiste na tecla de que a cadeia produtiva poderia oferecer mais segurança em relação ao produto que vende, principalmente, os criadores. “Rastreabilidade não é custo, é investimento com retorno garantido, um processo de maturidade do negócio, afinal, o pecuarista vai ser remunerado por isso”, argumenta. “É preciso entender que quando a indústria compra um animal rastreado e certificado há mais segurança para o negócio dele, para a propriedade dele. Esse é o grande aprendizado.”

Ele lembra que, no Sisbov, o setor contabilizou uma queda de 21% nas propriedades certificadas em 2021. “O que era pequeno, em nossa visão, ficou ainda menor. Assim o que estamos querendo passar à cadeia toda é que precisamos adotar ações para melhorar os processos, os resultados de negócio, com a ajuda do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para dar segurança aos produtores”, enfatiza. “Trata-se de um processo de capacitação, com o produtor no campo, atuando com entendimento pleno das regras, usando bem o protocolo, diminuindo os problemas que ocorrem durante o processo todo”, explica.

Já no segmento dos produtos orgânicos, segundo o executivo, o ano passado foi bastante positivo. “É uma área em que predominam os protocolos privados e o Mapa só monitora os processos, ou seja, o governo regula, mas não atua. Quando um comprador externo pede por auditoria, os protocolos de negócio ocorrem diretamente entre duas partes, por isso, é um setor que vem crescendo muito”, pondera Aécio Flores.

No geral, de acordo com o vice-presidente da entidade, os bons ventos de 2022 virão dos recados dados pela Conferência Mundial do Clima, a COP26, realizada no fim do ano, com destaque para a diminuição na emissão de metano, sustentabilidade da produção, recuperação de pastagens, controle do desmatamento para captura de carbono e rastreabilidade. “São os temas de casa que o Brasil trouxe de lá. E precisamos de rastreabilidade para dar mais segurança ao mercado externo. Temos que ficar de olho nas ações do Mapa, nesse sentido, e na atuação de todos os elos da cadeia produtiva”, arremata o executivo da ABCAR.

Com Informações da Assessoria de Imprensa