Desenvolvida pelo Instituto de Pesca (IP-APTA), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, pesquisa demonstrou que trutas mantidas em temperaturas ligeiramente superiores às habituais, durante a fase de desenvolvimento sexual, foram capazes de transmitir tolerância térmica à próxima geração de peixes.
No entanto, a mudança causou prejuízos reprodutivos aos machos, levando a uma diminuição no número total de descendentes viáveis. “Esse trabalho procurou emular os efeitos do aquecimento global em trutas arco-íris, sob condições climáticas do Brasil”, explica Neuza Takahashi, pesquisadora do IP. Segundo ela, isso foi feito mantendo os peixes por três meses em um habitat 4ºC mais quente que o habitual, enquanto ainda eram juvenis – fase central na formação dos órgãos sexuais dos indivíduos.
Após esse período, os peixes voltaram às condições normais de temperatura por mais 15 meses, até completarem sua maturação sexual. “Como a reprodução é uma das etapas essenciais para a perpetuação das espécies, testamos o efeito da elevação de temperatura sobre os parâmetros reprodutivos”, relata a pesquisadora.
Porém, os resultados encontrados chamaram a atenção – e preocuparam os cientistas. “Esse estudo demonstrou, de forma inédita, que o estresse térmico em juvenis machos de truta arco-íris causa efeitos deletérios nas células germinativas que persistem até a fase adulta”, relata o pesquisador Arno Butzge, que conduziu os experimentos no IP.
Deste modo, se, por um lado, o trabalho do IP acende um sinal de alerta, por outro, traz alguma esperança. “Esses resultados têm implicações tanto para a aquicultura, uma vez que essa estratégia pode ser usada para melhorar a tolerância a altas temperaturas em um período muito mais curto, quanto do ponto de vista ecológico”, acredita Butzge.
De acordo com o especialista, se os peixes com tolerância térmica adquirida encontrarem condições de se reproduzir e gerar descendentes viáveis, este processo poderá ser extremamente benéfico para aprimorar sua capacidade adaptativa e suportar as mudanças climáticas globais.
– Com informações da Assessoria de Comunicação da Secretaria de Agricultura/SP