Bothrops jararacussu. Foto: Sávio Freire Bruno

O nome jararacuçu tem origem na língua Tupi, na qual “jarara” significa “bote da cobra” e “uçu” significa “grande”.

O nome jararacuçu é popularmente atribuído às serpentes da espécie Bothrops jararacussu, que pertencem à Família Viperidae, a qual inclui outras espécies de importância médica, ditas tanatofídios, ou seja, as serpentes que podem ocasionar acidentes fatais. As viperídias neotropicais, representadas pela subfamília Crotalinae, marcadamente pela presença de fossetas loreais, incluem não só as jararacas e afins, a exemplo da jararacuçu e da urutu (Bothrops alternatus), mas também as cascavéis (Crotalus durissus) e as surucucus (Lachesis muta).

É uma serpente majestosa e vigorosa, considerada a segunda maior serpente peçonhenta do Brasil, ficando somente atrás das surucucus (Eunectes murinus). Na fase adulta, seu comprimento pode atingir até 2,20 metros. A coloração da jararacuçu exibe diferenças ao longo de seu desenvolvimento e entre os sexos, neste último, conhecido como dicromatismo sexual. Nas fêmeas jovens, o dorso apresenta coloração variando de amarelada a bege rosado, enquanto nos machos é escuro com manchas de amareladas a marrom-acinzentadas. Entre os adultos, as fêmeas exibem intensa divergência de cor entre as manchas pretas e o fundo amarelo, enquanto nos machos adultos o fundo apresenta cor castanha ou acinzentada. As fêmeas são maiores que os machos, o que é comumente observado na maioria dos membros da Família Viperidae. Devido à impecável camuflagem desta serpente, percebê-la em seu ambiente natural, notadamente envolta na serapilheira das áreas florestadas é um enorme desafio.

Assim como os demais viperídeos, sua dentição é do tipo solenóglifa, constituindo-se de presas retráteis, altamente especializadas na inoculação de peçonha e que atingem até 2,5 cm de comprimento.

A jararacuçu é uma serpente Sul-Americana, registrada no Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina. Em território nacional, habita a região Sul e Sudeste, além dos Estados da Bahia e do Mato Grosso do Sul.

Bothrops jararacussu. Foto: Sávio Freire Bruno

De hábitos florestais, esta viperídia tem preferência por áreas de floresta úmida e semi-decídua de Mata Atlântica, embora não só no interior da floresta, mas na sua periferia e até em áreas abertas. Sua distribuição avança em biomas interioranos e é comum ser encontrada junto a matas ciliares, próximas às rochas que margeiam riachos e córregos.

A jararacuçu não consta na lista oficial de espécies ameaçadas de extinção no Brasil (ICMBio) e, de acordo com a International Union for Conservation of Nature (IUCN), a espécie está classificada no status de ameaça pouco preocupante (LC), embora a perda de habitat, particularmente pelo desmatamento, o atropelamento de fauna e os incêndios florestais são exemplos de ameaças à espécie e a diversidade biológica como um todo.

Adultos e filhotes são considerados terrícolas, possuindo hábito diurno e noturno. Durante o dia costumam se expor ao sol e a noite caçam suas presas, no entanto, os jovens também são observados se alimentando durante o dia.

São animais generalistas quanto à seleção dos itens alimentares, que incluem mamíferos, anfíbios, lagartos e até mesmo outras serpentes. Diferenças ontogenéticas (que se relacionam à fase de desenvolvimento) são observadas em sua dieta. Os juvenis se alimentam de pequenas presas ectotérmicas, como anfíbios, enquanto adultos buscam preferencialmente mamíferos, como por exemplo, roedores e uma pequena parte de animais ectotérmicos. A estratégia de alimentação inclui técnicas como emboscada, caça por espreita e caça ativa para capturar suas presas. Nos jovens, a ponta da cauda levemente colorida é utilizada para atrair as presas, pois seu movimento simula uma pequena larva de inseto.

A reprodução ocorre no fim do verão, sendo uma espécie vivípara, ou seja, nesta espécie os filhotes se desenvolvem dentro do corpo da fêmea, onde ficam protegidos e aquecidos. Estudos mostram que, na natureza, a fêmea dá a luz entre 13 e 37 filhotes, o que está relacionado ao seu grande porte.

Assim como as demais serpentes peçonhentas, a jararacuçu está envolvida em grande parte dos acidentes registrados no país, denominados acidentes ofídicos. Estes acidentes resultam em envenenamento subsequente à inoculação de peçonha pelo aparelho inoculador dessas serpentes, atingindo animais e humanos.  Acidentes envolvendo esta serpente costumam ser graves, devido ao fato da espécie injetar cerca de 4 ml de peçonha na vítima, considerada uma grande quantidade. Dentre os sintomas associados aos acidentes por jararacuçu, observam-se edema e dor no local da picada, hemorragias, infecção, necrose e insuficiência renal.

A reconhecida gravidade dos acidentes relacionados às serpentes do grupo botrópico, particularmente por jararacuçu, lhe trás um estigma de perseguição e morte. No entanto, é preciso destacar a importância da diversidade biológica no equilíbrio dinâmico dos ecossistemas. Ademais, nem todas as serpentes são tanatofídios, ao contrário, a grande maioria das espécies não tem interesse médico, do ponto de vista dos acidentes com vítimas.

É importante lembrar que serpentes possuem importante papel ecológico no ecossistema, como predadoras de topo, controlando a população de roedores. Na saúde e pesquisa, seu veneno tem sido utilizado para estudos e produção de medicamentos, soros e vacinas. Por conta disso é fundamental a preservação destas espécies.

MSc. Aline Braga Moreno – Mestre em Ciências Veterinárias pela UFRRJ
M.Sc. Marcio Barizon Cepeda – Doutorando em Ciências Veterinárias – UFRRJ
Prof. D.Sc. Sávio Freire Bruno – Universidade Federal Fluminense.