Jaritataca (Conepatus semistriatus). Foto: Sávio Freire Bruno. Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, agosto de 2009.

Taxonomia e características gerais

A jaritataca (Conepatus semistriatus) é um mamífero da Ordem Carnívora que pertence à Família Mephitidae. É conhecido no idioma inglês como Striped hog-nosed skunk e na nomenclatura vernacular é também reconhecido como jaratataca ou jatitataca.

As jaritatacas possuem corpo compacto com uma cabeça arredondada, focinho longo e patas dianteiras com garras longas e negras. Seu peso varia entre 1,4 a 4 kg e o comprimento, entre 30 a 52 centímetros; e sua cauda, grande e volumosa, tem entre 16 e 31 centímetros. A pelagem flutua entre o preto e o marrom escuro, com uma lista branca que sai da cabeça, se divide em duas e estas seguem paralelas até a base da cauda. Uma característica muito marcante para essa espécie é a produção, por meio das glândulas perianais, de uma substância volátil e de odor marcante, utilizada como mecanismo de defesa. Esta substância pode ser lançada por até 2 metros de distância.

As jaritatacas (Conepatus semistriatus) possuem glândulas perianais capazes de produzir uma substância de forte odor, a qual está associada a sua defesa. Foto: Sávio Freire Bruno. Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, agosto de 2009.

Distribuição geográfica

É uma espécie amplamente distribuída em território brasileiro, sendo encontrada em campos, no Cerrado e Caatinga. Além do Brasil, possui ocorrência no sul do México, norte da Colômbia, Venezuela e Peru. Costuma habitar vegetações mais abertas, evitando matas densas.
O bioma Mata Atlântica pode ser considerado certo limite entre a jaritataca e outra espécie do gênero Conepatus que possui distribuição no sul do país, conhecida como zorrilho (Conepatus chinga), que vive nos pampas, litoral e Campos de Cima da Serra (Campos de Vacaria), no extremo no nordeste do RS e divisa com SC. Entretanto, há registros da jaritataca (Conepatus semistriatus) em ambientes modificados de Mata Atlântica, o que possivelmente foi facilitado em decorrência da fragmentação de habitat e do desmatamento.

Dieta

A jaritataca possui uma dieta bem variada, se alimentando principalmente de insetos, incluindo formigas, e outros invertebrados. Além disso, consome frutos e, por vezes, pequenos vertebrados, a exemplo de roedores e anuros. A jaritataca é, portanto, considerada onívora e generalista.

Jaritataca forrageando formigas no período noturno. Foto: Sávio Freire Bruno. Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, agosto de 2021.

Hábitos

Jaritatacas possuem o olfato como sentido mais aguçado, sendo a visão e audição nem tão acuradas. Manifestam suas atividades quando o sol se põe e é a partir do crepúsculo e durante a noite que são efetivamente ativas. De hábitos terrestres, é possível encontrar exemplares dividindo a mesma área. Entretanto, são animais solitários e devido a isso, machos e fêmeas se aproximam predominantemente na época reprodutiva.

Para abrigo e repouso, utilizam tocas cavadas tanto por outras espécies como por eles mesmos. Fazem uso de buracos de cupinzeiros, touceiras de capim e tocas de tatus para tais fins. Forrageiam com frequência em áreas de campo sujo e beiras de estradas. Também rondam residências rurais.

Estudos realizados na Venezuela estimaram a área de vida das jaritatacas entre 0,18 a 0,53 km². Já no Cerrado brasileiro esta estimativa foi superior, alcançando aproximadamente 0,66 km².

Ao se sentirem ameaçadas as jaritatacas costumam fugir, afastando-se do perigo. Dependendo do contexto, podem eriçar o pelo e levantar a cauda, numa tentativa de intimidar a eventual ameaça, como já observado em encontro com o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), obtendo o resultado esperado. As jaritatacas também podem efetuar tanatose, ou seja, exibir um comportamento no qual a mesma seja considerada em estado de óbito.

Ao se deparar com um exemplar de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), a jaritataca assumiu uma postura de defesa e não houve confronto. Foto: Felipe Queiroz. Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, maio de 2019.

Reprodução

Devido ao hábito solitário, os pares têm sido observados somente durante a época reprodutiva. As fêmeas possuem uma gestação de cerca de 60 dias, dando à luz 4 ou 5 filhotes por gestação. Entretanto, informações sobre o comportamento reprodutivo desta espécie ainda são escassas.

Conservação e ameaças

Na lista oficial do ICMBio, a jaritataca ainda não está classificada como ameaçada de extinção. Igualmente, a IUCN a categoriza como Menos Preocupante (LC). Entretanto, este mefitídeo é vítima de ameaças como a perda de habitat, incêndios florestais, atropelamentos e outras ações antrópicas diretas, como a caça.

As jaritatacas, assim como uma grande diversidade de animais, são vítimas de atropelamento no Brasil. Foto: Sávio Freire Bruno, MG, 2008.

A jaritataca é um animal que costuma ser observado próximo às residências, o que pode aumentar o risco de conflitos com animais domésticos, bem como ser abatida, por razões que vão desde a obtenção de sua carne, sua pele ou até mesmo pela ignorância humana e o desprezo por representantes de nossa fauna.

A conservação do habitat da jaritataca é imprescindível para a sua sobrevivência e dos demais seres que ali coexistem.

Referências

ALVES, D. P. S. Comportamento de Conepatus semistriatus (Carnivora, Mephitidae) em cativeiro: Respostas ao enriquecimento ambiental. Petrolina, 2013. 42 f. Monografia (Bacharelado em Ciências Biológicas) – Universidade Federal do Vale do São Francisco, 2013. Disponível em: <http://www.cemafauna.univasf.edu.br/arquivos/files/00000495.pdf>.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBio). Jaritataca. Disponível em: <https://www.icmbio.gov.br/cenap/carnivoros-brasileiros/37-jaritataca.html>.

CAVALCANTI, G. N. et al. Avaliação do risco de extinção da Jaritataca: Conepatus semistriatus (Boddaert, 1785) no Brasil. Biodiversidade Brasileira, Brasília: 2013, n. 1, out. 2013. Disponível em: <https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/biodiversidade/fauna-brasileira/avaliacao-do-risco/carnivoros/jaritataca_conepatus_senistriatus.pdf
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-8MTLN9/1/disserta__o_gitana_nunes_cavalcanti.pdf>.

REIS, N. R.; PERACCHI, A. L.; PEDRO, W. A.; LIMA, I. P. Mamíferos do Brasil. Londrina: 2006. 439 p.

Sávio Freire Bruno: Professor Titular do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense; Professor Colaborador do Curso de Ciências Biológicas e do Curso de Ciência Ambiental (UFF)
Fernanda da Silva Lopes: Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal Fluminense
Revisão de texto: Clarice Villac