- Histórico
Uma das maiores e exóticas aves da avifauna terrestre brasileira que habitava abundantemente o bioma da Mata Atlântica, na época do descobrimento do Brasil, desde Pernambuco até o Rio Grande do Sul, com ocorrência também em Goiás, o macuco (Tinamus solitarius) conhecido também por – ma`kuku – na língua tupi-guarani, (coisa boa para alimentação) está em vias de extinção na maioria do bioma brasileiro da Mata Atlântica.
Sendo o segundo maior representante da espécie (Tinamus solitarius) ficando atrás apenas do inhambu-de-cabeça-vermelha (Tinamus major), o maior de todos, os tinamídeos que têm aparência da galinha doméstica habitam a Região Zoogeográfica Neotropical que compreende a América Central, América do Sul (grande parte do Brasil), parte do sul do México, península Baixa Califórnia, e ilhas do Caribe.
Ocupando territórios continentais e insulares, nessa vasta região geográfica do continente americano, os tinamídeos possuem mais de 45 espécies, sendo que 90% dessas aves estão localizadas na Amazônia brasileira. Conhecidas pelos colecionadores de aves, ornitólogos e caçadores como: azulona, macuco, jaó, inhambu, perdiz, codorna, etc…, essas aves selvagens estão se tornando cada vez mais raras em virtude da caça predatória, diminuição de seus territórios e a procura de sua saborosa carne, consideradas iguarias, vendidas em comércio clandestino.
Enfatiza-se ainda que os tinamídeos com mais de cinco dezenas de espécies representantes, configuram a linhagem de aves selvagens mais antiga do Continente Sul-Americano. Os registros mais antigos datam do Terciário e são restritos à Argentina: uma espécie descrita por Geoffroy (1832), Eudromia indet. sp., datada do Mioceno Superior da província de La Pampa, e duas, Eudromia olsoni e Nothura parvula, do Plioceno Superior da província de Buenos Aires. (Wikipedia)
- O Macuco
Existem no Brasil quatro espécies ornitologicamente distintas de tinamídeos, assim identificadas, descritas e definidas:
O macuco preto (Tinamus osgoodi), macuco solitário (Tinamus solitarius), azulona (Tinamus tao) e macuco do pantanal, (Tinamus major) conhecido também como inhambu-serra.
Apesar dessas espécies de aves terem hábitos e habitats semelhantes, o enfoque desse artigo é sobre os macucos preto e o solitário que, em vias de extinção, habitam a Mata Atlântica, no nordeste, sudoeste e sul do Brasil, podendo chegar à Argentina.
Assim, estudados e observados em seus habitats naturais, por caçadores, ornitólogos e ambientalistas, se comportam essas aves:
2.1 Zoogeografia/Território
Habitando o litoral brasileiro acompanhando a cobertura florestal da Mata Atlântica de Pernambuco ao Rio Grande do Sul, vivem nas matas virgens de altitude em grotas e grotões fechados, encostas e contra-encostas íngremes onde existam riachos pedregosos e pouco visitados pelo homem. Esses sítios ecológicos são os preferidos das espécies.
2.2 Características Físicas
Com aparência física corpórea semelhante à galinha doméstica, sua silhueta é ovalada mais comprida no sentido cauda-cabeça que a altura pé-dorso. Plumagem amarronzada, cinza ou bronzeada com desenho em forma de grega nas asas e parte ventral do corpo. Tarsometatarso médio, robusto e munido de três dedos voltados para frente, e um mais curto voltado para trás. O metatarso pode ser marrom ou azulado, conforme a espécie. Pescoço curto e grosso e cabeça pequena em relação ao volume do corpo. Bico de tamanho médio, forte e próprio das aves que se alimentam de sementes, frutos, raízes e vermes terrestres. Cauda reduzida, volumosa, de forma oblonga, voltada para baixo. Quando a ave se espanta, a cauda se eriça para cima em atitude de defesa ou proteção.
Dimorfismo sexual: As fêmeas geralmente são maiores e mais pesadas que os machos. Atingem até 52 centímetros de comprimento, e entre 1,5 a 2,0 kg de peso médio.
3 Hábitos e Costumes
O macuco é uma ave terrestre solitária e tímida. Não é gregária e nem forma bandos. Na mata vive em casal, principalmente na época do acasalamento e reprodução. As fêmeas é que formam, defendem e protegem seus territórios. Os machos é que chocam os ovos, normalmente uma ninhada de três a cinco ovos na cor azul, e cuidam dos filhotes. A aproximação e encontro entre as aves adultas se faz através de vocalização (pios). Sua vocalização principal consiste em um único pio meio agudo e bem espaçado, sendo o pio do macho mais curto que o da fêmea. Os pios costumam acontecer pela manhã, muito espaçados durante o dia, e ao anoitecer, quando ao empoleirar, as aves emitem três piados longos seguidos. (Wikiaves)
A principal ameaça que contribui para o risco de extinção dessa espécie é a do desmatamento, pois a ave não se adapta à mata secundária, por essa apresentar densa vegetação rasteira, impedindo a visão e o deslocamento da ave. A pressão cinegética ainda existe, mas dadas as dificuldades em atrair essa arisca espécie no pio dos caçadores, não seria um fator decisivo de ameaça. (Wikiaves)
2.4 Reprodução
O macuco, no seu habitat natural, se reproduz nos meses de fevereiro e agosto. Nidifica no solo, escolhendo mais frequentemente um local próximo a um tronco de árvore, onde haja vegetação rasteira próxima, ou não de um caminho da floresta; é formado de uma pequena depressão, onde algumas folhas secas e outras murchas abrigam a postura de 4 a 5 ovos. Os ovos são de coloração verde-azulada, medindo 65 x 51, mm em seus eixos, e pesam 84g cada um. A incubação é feita em 22 dias, ficando o macho também encarregado de cuidar da prole; entretanto, na última postura do ano, a fêmea se encarrega desse trabalho. As posturas podem ser duas ou três, para uma mesma fêmea. (AmbienteBrasil)
Relacionada como ave nativa ameaçada de extinção no Brasil, felizmente sua reprodução em cativeiro é bem sucedida, devendo ser incentivada para o repovoamento dos Parques e Reservas Nacionais, garantindo sua preservação futura e o não desaparecimento da avifauna brasileira.
2.5 Alimentação
O macuco tem hábito alimentar diversificado. Prejudicado por não ter os dedos e unhas desenvolvidos, como a galinha doméstica, não tem o hábito de ciscar o solo à procura de alimentos. Alimenta-se de vegetação tenra, sementes, frutos, coquinhos de palmáceas, vermes aquáticos e terrestres.
3 O Macuco no Estado do Rio de Janeiro
Nem o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente – IBAMA – nem o Instituto Estadual do Ambiente – INEA -, órgãos federal e estadual oficiais, responsáveis pela conservação dos recursos naturais renováveis do Brasil e do Estado, sabem, através de censo, o número de exato dessas aves nas matas fluminenses. O que se sabe, oficialmente, é que está cada vez mais rara e ameaçada de extinção em cinco estados brasileiros. (BERTOLINO, CINTIA. A solidão do Macuco. Revista PIAUI. São Paulo: Ed. Alvinegra, 2015).
Felizmente, uma maravilhosa notícia vem de Cordeiro, região Serrana do Estado. Lá no sítio do criador e pesquisador rural Gilson Arruda, existe a maior criação de macuco em cativeiro do Estado, talvez até do Brasil. Por amor e paixão à ave, esse trabalho técnico de conservação e preservação da espécie, de iniciativa privada e bem sucedido, que dura há mais de dez anos, parece garantir a sobrevivência do macuco na avifauna brasileira.
Na verdade, o pesquisador Gilson Arruda não está sozinho nesse projeto. Existe como colaborador fiel, o Sr. Paulo de Abreu Lima. Foi a paixão incomum de ambos pela ave que os levou a lançar, no ano passado, uma iniciativa de preservação do bicho, o projeto Aves Nativas da Mata Atlântica – Avicultura, Valor Agregado e Gastronomia –, que recebeu apoio oficial e verba da FAPERJ, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.
Atualmente existem no viveiro em Cordeiro mais de duas dezenas de aves, machos e fêmeas, completamente adaptadas ao cativeiro, manejadas tecnicamente e reproduzindo-se muito bem.
Está nos planos da dupla construir um criadouro científico, capaz de abrigar um plantel de até 5 mil aves, muito maior do que o atual viveiro de Arruda. Além disso, prometem mapear a presença do animal na mata fluminense e, em algum momento, começar o processo de repovoamento. O macuco foi parar na lista de aves vulneráveis do IBAMA por causa da destruição de seu hábitat ao longo de cinco séculos de ocupação do país. Arruda e Lima estão confiantes de que podem reverter o processo e salvar a espécie.
Uma curiosidade sobre o macuco cuja carne é considerada uma iguaria: Na época do Império, existia em grande quantidade na floresta da Tijuca e no maciço da Pedra Branca. Durante o Império, a receita mais difundida foi a canja. Dom Pedro II adorava o prato preparado com macuco, conta o escritor J. A. Dias Lopes no livro A Canja do Imperador. Deduz-se, portanto, que grande parte da carne do macuco tenha vindo dessas duas reservas florestais.