Mulheres no Agro  – Bruna Drummond de Azeredo Coutinho Danella

A atual diretora de relacionamento da Agrocria Nutrição Animal e idealizadora do Projeto Mulheres de Raça do Agro, Bruna Drummond de Azeredo Coutinho Danella, mesmo com suas raízes fincadas no Agro, não deu início à sua carreira profissional “da porteira para dentro”. Mas, quem é do campo, volta para o campo. E com ela não foi diferente.

Conheça a história dessa mãe, esposa, pecuarista e atleta de maratonas aquáticas. Ela traz na bagagem experiências como speaker em eventos do agronegócio com foco em mulheres, colunista em revistas do segmento, apresentadora do especial Momentos Agrocria 2020 no Programa Empresários de Sucesso no Canal Terraviva, especialista em Gestão de Negócios pela FDC, mentora do Sebrae, integrante do #DreamTeam do canal Agro+, além de membro da Alma| Abag.

Quando foi seu primeiro contato com o Agro? Conte sua história no segmento.
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asci nos balcões da Agrocria, indústria goiana de nutrição animal e sementes forrageiras, presente no mercado há mais de 40 anos. Cresci junto com a empresa, mas ainda assim não pude participar mais ativamente dos negócios da família. Segui meu coração, tornei-me fisioterapeuta e acupunturista, só que, dia a dia, percebia que meu coração batia pelo campo. Estudei, me aperfeiçoei. Hoje eu sou diretora de relacionamento da Agrocria e casada há 20 anos com um médico e pecuarista.

Você está à frente do grupo Mulheres de Raça do Agro. Como idealizadora, fale sobre essa jornada.

O projeto Mulheres de Raça do Agro nasceu em 2018. Ele reúne um seleto grupo de 500 pecuaristas com o propósito de promover a troca de experiências, a união e o crescimento das mulheres do agronegócio.  Nossa missão é levar informação de qualidade, promover o desenvolvimento profissional e o crescimento da mulher do agro no mercado através do conhecimento tecnológico. Isso tem sido feito de várias formas. Antes da pandemia do novo Coronavírus, o grupo se reunia esporadicamente em encontros presenciais, realizados na capital goiana e nas cidades de Cuiabá e Barra do Garças, importantes praças pecuárias do Estado do Mato Grosso, além de São Paulo. Temos também um canal no YouTube com conteúdo sobre o agronegócio. Durante a pandemia, focamos em educação financeira junto à instituições como XP e BTG Pactual, além de  marketing e branding, junto ao Sebrae.

Qual a estrutura do grupo, atualmente?
O grupo é formado por mais de 500 mulheres e tem uma história interessante. A marca foi criada em 2003, para a realização de uma sequência de leilões, durante três anos consecutivos. As edições dos remates foram batizadas de “Leilão Mulheres de Raça” e tinham por trás 40 criadoras de Nelore PO, capitaneadas pela produtora Teia Fava Marques. À época, o Mulheres de Raça fez parte do seleto grupo de leilões a superarem o faturamento de R$ 1.000.000,00. Teia tornou-se amiga da família e propôs a Bruna reativar a marca, que passou a se chamar Mulheres de Raça do Agro, projeto lançado em 2018, durante o Congresso Nacional das Mulheres do Agro, em que ela teve intensa participação. Sucessão, liderança, responsabilidade social e gestão são alguns dos temas trabalhados e toda a comunicação é feita via Telegram. Nossa ideia, e que acredito ser o legado que o projeto pretende deixar, é ajudar as mulheres do agro a conquistarem melhor qualidade de vida, bem-estar para elas e seus colaboradores, além de orientá-las para uma governança bem implantada dentro de suas empresas, o que envolve responsabilidade econômica, social e ambiental.

Como você avalia a participação das mulheres no campo, tomando as decisões dentro e fora da porteira?

O século XXI trouxe muitas surpresas e quebras de paradigmas e, talvez, o maior exemplo tenha sido o fortalecimento da mulher no mundo dos negócios. No agro não foi diferente. Segundo pesquisa realizada pelo IBGE, em parceria com a Embrapa, com base nos dados do Censo de 2017, elas já ocupam a cadeira de comando em 30% das propriedades rurais no Brasil. Metade delas dedicadas à pecuária. Hoje, mais de 50% das famílias brasileiras são sustentadas pelas mulheres. Todos os anos, mais e mais mulheres tomam as rédeas do negócio da família ou estão em vias de assumir, principalmente devido ao intenso processo de sucessão registrado no setor. Nessa empreitada, os desafios são inúmeros, principalmente o fato de terem de enfrentar três jornadas de trabalho: a casa, a família e a fazenda (ou empresa). Não bastasse, também necessitam constantemente provar seu valor. A solução para lidar com isso tudo é estudar, capacitar, entender o negócio e o mercado. Não podemos deixar de mencionar nossa querida Marilia Mendonça, que tão bravamente trouxe a bandeira de luta pela presença das mulheres na cultura da música sertaneja, e, hoje, ocupa a posição entre as dez cantoras mais assistidas no canal do YouTube no mundo.

Qual a importância da capacitação para quem pretende desenvolver atividades do agro?

A capacitação é algo essencial na vida. Seja para desenvolver atividades relacionadas ao agro ou a qualquer outro seguimento. Ela nos proporciona discernimento, capacidade de questionar o mercado e também de compreender ações essenciais para a perenidade do negócio, a médio e longo prazo. Em um mundo repleto de fake news e também de informações sem embasamento científico, é essencial estarmos sempre atualizados junto a fontes sérias de pesquisa e estudo. Conhecimento é tudo. É liberdade na tomada de decisões.

Quais são os principais benefícios que a presença feminina traz ao agronegócio brasileiro?

Acredito que o principal benefício da presença feminina no agronegócio brasileiro seja a presença e a união da família, dentro ou fora da porteira. Uma família que trabalha junto, com regras e papéis claros, só tende a se fortalecer. Seja no quesito união afetiva, como também em lucratividade. Isso porque homens e mulheres têm habilidades diferentes, e isso, trabalhado junto, fortalece resultados e relacionamentos. Juntos podem conduzir também os filhos para uma sucessão saudável, para que se tornem verdadeiros sucessores no negócio, e não somente herdeiros.

Em sua opinião, o agro nacional tem sido divulgado como deveria?

Temos grandes nomes dando espaço e visibilidade ao nosso agronegócio. Uma caminhada longa, mas que já ganhou muita visibilidade no mundo. O segredo é mantermos constância nesse movimento. Isso porque temos grandes mentes à frente, como nossa querida ministra Tereza Cristina, a presidente da Sociedade Rural Brasileira Teka Vendramini e o grande mestre Tejon Megido. Regionalmente, temos em todo o País grandes movimentos com o propósito de levar informação baseada em evidências para a sociedade. Em Goiás, o destaque vai para Pedro Maia, do Canal Estrada de Chão, que promove discussões sobre a atualidade, análises de mercado, informações técnicas e muito mais.

Como você avalia o impacto da pandemia no agro brasileiro?

O impacto foi muito forte. Com os governos oferecendo auxílios emergenciais e promovendo o lockdown ao redor do planeta, aumentou muito a demanda por alimentos e o numerário disponível para adquiri-los. Isso fez com que o agro fosse incitado a suprir essa demanda.

O que podemos esperar do Agro neste último bimestre de 2021 e nos próximos anos, tanto no âmbito econômico quanto na própria atividade?

Vai depender muito da capacidade dos governos lidarem com a nova ordem mundial, a inflação. A demanda continuará crescendo, mas o combate à inflação irá ou não proporcionar a capacidade e o poder aquisitivo das populações.