Natural de Goiânia, Ednira Gleida Marques é zootecnista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC Goiás. Além disso, possui mestrado em Ciência Animal pela Universidade Federal de Goiás – UFG e mestrado profissional em produção animal com ênfase em melhoramento genético animal pela Universidade Federal de Viçosa – UFV. Atualmente, ela ocupa o cargo de Superintendente Adjunta de Genealogia da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ). Em 100 anos de história da ABCZ, Gleida é a primeira mulher a assumir um cargo de superintendência na área técnica da entidade.

Quando foi seu primeiro contato com o Agro?

Meu contato com o Agro iniciou-se ainda na minha infância, quando passava finais de semana e férias em um sítio dos meus tios.

Você é a primeira mulher, em 100 anos de ABCZ, a ocupar um cargo de Superintendente na área Técnica da entidade. Fale um pouco sobre essa jornada.

Comecei a trabalhar na ABCZ em 2002 como gerente do Escritório Regional de Goiânia. Em setembro de 2011 iniciei minhas atividades na Superintendência Adjunta de Genealogia da ABCZ em Uberaba, um cargo que ainda não tinha sido ocupado por mulher na área técnica da Associação. Na superintendência, desempenho, juntamente com o Superintendente Técnico Luiz Antonio Josahkian, a coordenação e supervisão do Serviço de Registro Genealógico das raças zebuínas, atuo também na coordenação dos escritórios técnicos regionais da ABCZ, que são 24 unidades e coordenação e execução dos trabalhos dos técnicos de campo.

Qual a importância do registro genealógico para as raças zebuínas?

O Registro Genealógico das Raças zebuínas já foi utilizado como a única forma de seleção por muitos criadores de Zebu. O RGD, especificamente, torna-se a ferramenta ideal na complementação de um programa de melhoramento genético, na condição de avaliação fenotípica do rebanho, abrangendo o animal como um todo. Touros registrados permitem padronizar as crias e garantem a reposição dos animais descartados, produzindo fêmeas mais produtivas e machos superiores, pois a raça é atestada pelo técnico ao registrá-lo e pela garantia de sua genealogia.

Como você avalia a participação das mulheres no campo, tomando as decisões dentro e fora da porteira e na tomada de decisões em entidades ligadas ao setor, como no seu caso?

Vejo como muito positiva e acredito que cada vez mais teremos a participação ativa das mulheres na tomada de decisões, tanto no agro como nos demais setores da sociedade. Entendo que podemos contribuir muito para o crescimento do setor.

Quais, em sua opinião, são os principais benefícios que a presença feminina traz ao agronegócio brasileiro?

Não gosto de relacionar gênero com competência, mas acredito que algumas características inerentes às mulheres, como realização de multitarefas, dinamismo e o olhar na gestão com outra perspectiva, sempre ajudam em decisões mais assertivas.

Em sua opinião, o agro nacional tem sido divulgado como deveria? O que poderia ser melhorado neste sentido?

O Agro não tem sido divulgado como merece, acompanhamos muita ênfase em assuntos que não representam o trabalho do setor de forma geral. O agronegócio brasileiro é responsável, trabalha pela produtividade aliada à sustentabilidade. É necessário que o governo brasileiro e as mídias nacionais e internacionais ressaltem a importância do Agro na economia brasileira, seja na geração de renda ou de empregos e o fato de ser um dos poucos setores superavitários do país nos últimos anos.

Além disso, temos vários pontos positivos que podem ser explorados, como, por exemplo, o cooperativismo, que é um modelo forte dentro do nosso meio que permite que pequenos produtores possam se manter ativos dentro do mercado. Assim como a implantação de tecnologias, a integração das atividades e a reciclagem de resíduos, que se transformam em adubos, biocombustível e bioenergia.

Como você avalia o impacto da pandemia no desenvolvimento do agro brasileiro?

A pandemia evidenciou que o agronegócio brasileiro é um setor promissor, um dos poucos setores que continuou em ascendência. Mesmo com o isolamento, que desencadeou um maior consumo e estoque de alimentos, o setor continuou abastecendo o mercado sem nenhum colapso. Mas, por outro lado, existe ainda uma incerteza quanto à restrição de novos mercados e o nível de exigência de rastreamento da origem do alimento.

O que, em sua opinião, podemos esperar do Agro em 2021 e nos próximos anos, tanto no âmbito econômico quanto na própria atividade?

Com uma projeção de crescimento da população mundial, temos uma necessidade de aumento na produção de alimentos e o agronegócio brasileiro tem um papel fundamental nesse cenário, pois o Brasil é um dos maiores produtores mundiais no setor. E teremos que atender o desafio global que é produzir mais alimentos em menos tempo e com menos recursos, aumentando as nossas responsabilidades econômicas, ambientais e sociais. Neste contexto, o melhoramento genético é um instrumento de grande importância, pois os criadores podem aumentar a eficiência de produção e a lucratividade de seus rebanhos por meio de princípios genéticos. A criação de animais geneticamente superiores permite utilizar de maneira mais eficiente os recursos disponíveis.