Ana Cláudia Mendes Souza

Graduada em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-MG) , como analista de Cargos e Salários, a pecuarista Ana Cláudia Mendes Souza iniciou sua carreira profissional trabalhando na MBR (Minerações Brasileiras Reunidas). Dando continuidade à sua evolução de carreira, Ana especializou-se em Organizações e Métodos e, além de desenvolver atividades relacionadas à sua formação, ela dedica boa parte de seu tempo às “coisas do campo”, como proprietária e administradora da Fazenda Amar, de seleção das raças Guzerá e Nelore, em Uberaba, MG, e também como Diretora Internacional da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Conheça um pouco mais da história dessa Mulher no Agro.

– Qual e quando foi seu primeiro contato com o Agro? Conte um pouco de sua história no segmento.

Desde jovem, tenho a vivência e estima pela atividade agropecuária. Sou neta e filha de fazendeiros, portanto posso dizer que nasci dentro deste contexto. Pelo fato de Edilson Lamartine Mendes, uma das maiores referências da agropecuária nacional, ser meu querido pai e ter formação em Medicina Veterinária, tive a oportunidade de acompanhar seu trabalho em nossa fazenda já na infância. Gostava demais de ir para o curral, como também, de entrar no laboratório e ver toda aquela tecnologia de inseminações. No campo andávamos à cavalo, conferindo o plantio e projetos de armazenamento dos alimentos.

– Você é diretora internacional da ABCZ, já em sua segunda gestão. Fale um pouco sobre essa jornada e quais as ações realizadas durante este período.

Estou como Diretora Internacional da ABCZ , à frente do projeto Brazilian Cattle, que visa fortalecer a imagem da pecuária nacional e de seus parceiros, além de realizar estudos de prospecção de mercado, firmar acordos de cooperação em nível internacional, realizar eventos nacionais e internacionais que gerem negócios positivos para a cadeia pecuária brasileira, inserir novas empresas no mercado global, promover encontro de negócios com importadores e, principalmente, desenvolver articulações que permitam a abertura de novos protocolos sanitários para exportação da genética brasileira e animais vivos, promovendo assim a imagem de um Brasil produtivo e de uma pecuária segura e eficiente.  Em resumo, temos a missão de promover e difundir nossas raças zebuínas fora de nosso país , como também nossos produtos e tecnologias voltados para o Agronegócio .

 

Como o trabalho foi continuado durante a pandemia?

Ao longo destes anos podíamos ir até os eventos internacionais e receber as missões estrangeiras aqui. Conseguimos consolidar essas ações em diversos países. Tivemos uma Missão na Ásia em 2019, onde pudemos estar com nossos parceiros do projeto na Tailândia e Índia, prospectando novos mercados e depois tudo mudou. Junto a ABCZ e uma estrutura fantástica da equipe técnica e de colaboradores tudo teve prosseguimento em modelo virtual. As feiras acontecem, os negócios são realizados e o Zebu avança mundo afora pelas portas do digital. Já estamos retomando os eventos presenciais, mas acredito que a estrutura híbrida, com o presencial e o virtual no mesmo trilho será de grande valia para atingir um público maior.

Como você avalia a participação das mulheres no campo, tomando as decisões dentro e fora da porteira, e também na tomada de decisões em entidades ligadas ao setor, como no seu caso?

As mulheres vêm conquistando espaço já algum tempo dentro e fora das porteiras . Os desafios foram muitos, mas diante desta necessidade buscamos orientações, cursos e assessorias. Os núcleos femininos contribuem muito e cada vez com maior representatividade e fortalecimento nas ações. A realidade de remuneração no mercado de trabalho em geral ainda apresenta desigualdade, mas nos negócios e na liderança as mulheres trabalham em nível de igualdade e muitas vezes se destacam em todo o universo de profissionais de um segmento. O Brasil mesmo é um exemplo. Temos cientistas de ponta, empresárias muito bem sucedidas, fazendeiras pé de curral com talento para selecionar, onde me incluo e uma Ministra da Agricultura revolucionária que inspira e motiva muitas outras. Não podemos esquecer que o mundo rural também contempla esportes e entretenimento e nesse quesito nossas esportistas equestres e artistas são absolutamente admiráveis.

Quais, em sua opinião, são os principais benefícios que a presença feminina traz ao agronegócio brasileiro?

As decisões, geralmente, são tomadas de forma mais assertiva quando buscamos maior conhecimento e trazemos nosso olhar feminino, juntamente com nossa sensibilidade. Além disso, muitas vezes somos chamadas para esta posição de nos colocarmos à frente dos negócios do campo, mediante uma necessidade relacionada a sucessão familiar. Por conta disso, e também graças ao nosso comprometimento em desenvolvermos as atividades e ações necessárias no dia a dia, crescemos no mercado.

– Como você avalia o impacto da pandemia no desenvolvimento do agro brasileiro?

A pandemia está sendo uma realidade muito dura para todos nós. Por isso estamos, a cada dia, vencendo novos obstáculos e criando maior espaço no nosso Agro nacional. Sabemos o quanto nossos produtores trabalham e produzem para garantir que o alimento chegue à mesa dos brasileiros e de consumidores de todo o mundo, mas muitas vezes, não tínhamos a divulgação necessária ou o reconhecimento da dimensão deste negócio. A pandemia de alguma forma evidenciado e escancarou a importância do agronegócio e de todas as suas cadeias produtivas.

 

O que, em sua opinião, podemos esperar do Agro neste segundo semestre de 2021 e nos próximos anos, tanto no âmbito econômico quanto na própria atividade?

Já estamos chegando ao último trimestre do ano e com ótimos resultados. Para os próximos anos teremos sempre muitos desafios. A nossa capacidade de produção para abastecer o mundo é fato, mas temos que nos comunicar melhor com nosso novo cliente internacional e nacional e combater ações que comprometam nossa produção de forma sustentável.

Os resultados vêm nos mostrando que estamos mais que dobrando o faturamento. E isso tem acontecido porque, através da adoção de novas tecnologias e adoção de novas práticas de manejo e afins, estamos produzindo mais em áreas menores, o que também faz com que tenhamos uma produção muito mais sustentável.

 

Em sua visão, o Agro nacional tem sido divulgado como deveria? O que poderia ser melhorado neste sentido?

Atualmente, temos uma consciência maior da nossa responsabilidade. A comunicação vem ampliando esta divulgação. Neste sentido, nossa Ministra Tereza Cristina é um exemplo a ser seguido por nós e por todos envolvidos no agronegócio brasileiro.