Introdução

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Brasil é o país com maior rebanho comercial de bovinos no mundo, com pouco mais de 224 milhões de animais. No sistema industrial de produção de leite e criação de bezerras, grande parte do manejo vem sendo realizado de maneira incorreta devido à maior atenção dos produtores destinada às vacas em lactação.

Cuidados Primordiais com Bezerras de Leiteiras

Durante os três primeiros meses de vida, a atenção com as bezerras leiteiras repercutirá diretamente no seu comportamento. O manejo nutricional incorreto, de acordo com suas necessidades e requerimento, pode resultar em crescimento tardio e influenciar diretamente no seu desenvolvimento após o desaleitamento, assim como elevação dos custos de produção. Assim, esse período deve ser visto com muita atenção, afinal esses jovens animais representam o seguimento do processo produtivo, vindo futuramente a substituir vacas velhas ou com problemas reprodutivos.

Considerando que a maior porcentagem de mortes de bovinos leiteiros ocorre ainda no primeiro mês de vida, a necessidade de se atentar à criação adequada das bezerras na fase de desmame se torna um ponto crucial no processo de produção leiteira. Os cuidados com as bezerras ocorrem antes mesmo de seu nascimento, com acompanhamento gestacional desses animais, observando índices de natalidade das vacas com escore corporal adequado, com condições adequadas de manejo sanitário e nutricional.

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Colostro e Sucedâneo

Então, teremos as crias leiteiras, cujo único e exclusivo alimento após o nascimento é o colostro, constituído de produtos sintetizados pela glândula mamária, principalmente imunoglobulinas. Sua função principal é oferecer proteção nutricional e imunológica ao animal recém-nascido. Contudo, reduzir a idade de desmame para antes de três semanas torna-se impossível, pois trará problemas que elevarão o custo na criação correta das bezerras leiteiras. Assim sendo, surge o uso de sucedâneos, que na maioria das vezes substitui o leite materno. A escolha do tipo de alimento impacta diretamente no crescimento, saúde e produtividade do bezerro. Somente os sucedâneos, muitas vezes com qualidade duvidosa e quantidade insuficiente de proteínas lácteas, não são suficientes como alternativa definitiva para a questão. Por esse fim, uma das alternativas na substituição do leite é o excedente do colostro, pois tem fácil disponibilidade, fácil armazenamento e baixo valor comercial.

É sabido que os pré-estômagos de bovinos possuem funções especializadas, o que os diferencia de herbívoros monogástricos. Porém, os animais lactentes ainda possuem tal sistema em desenvolvimento, onde a alimentação líquida passa diretamente para o abomaso, através do fechamento adequado da goteira esofágica. Dessa forma, o rúmen ainda passará por mudanças significativas para que seja capaz de digerir o alimento seco, dentre elas, o desenvolvimento em tamanho, musculatura, especialização do epitélio e o estabelecimento da microbiota ruminal.

Importância da dieta sólida

Acerca do fornecimento de alimentos volumosos, como forragens verdes picadas ou feno na dieta dos animais jovens, este se mostrou como um fator crucial para o desenvolvimento da musculatura ruminal, da atividade mastigatória e produção de saliva. Tal alimento deverá ser fornecido seguindo alguns cuidados, como o não fornecimento de forragens conservadas fermentadas, como silagem de milho antes dos 90 dias de vida, e o oferecimento de alimento de qualidade elevada e tamanho correto da fibra, gerando estímulo físico na parede ruminal. Outro importante efeito da inclusão de forragem na alimentação de bezerras é o controle de pH do rúmen pré e pós-desmame, podendo-se sugerir este como um fator que alivia a acidose ruminal neste período, além de induzir mudanças na diversidade da microbiota.

Alimentar os bezerros com carboidratos prontamente fermentáveis ​​aumenta a produção de AGV (Ácidos Graxos Voláteis) no rúmen, o que é necessário para estimular o desenvolvimento e crescimento das papilas ruminais que desempenham a função de absorção de nutrientes. É relatado em bibliografia que os efeitos estimulatórios dos AGV são diferentes, sendo o butirato o mais estimulador, seguido pelo propionato e depois pelo acetato. Resumidamente, o butirato pode fornecer a energia necessária para o espessamento, formação de papilas e estimulação de capilares no rúmen.

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Desaleitamento

Considerando os custos totais advindos da criação de bezerras leiteiras, a alimentação líquida representa grande porcentagem, devido ao seu alto valor de mercado e da mão-de-obra despendida no aleitamento. O desmame destes animais gera uma queda significativa nos custos de produção, podendo ser realizado de acordo com protocolos baseados na idade, geralmente 8 semanas, ou no consumo diário de matéria seca, cerca de 700g/animal/dia. Porém, o essencial é a garantia de oferecimento de excelente ambiente, manejo sanitário e nutricional, mantendo um bom escore de condição corporal nesta fase, por volta de 3,0 a 3,5, por ser um período de grande estresse para a lactente.

Conclui-se que o correto manejo alimentar na fase de desenvolvimento das bezerras leiteiras é considerado um fator de extrema importância para a garantia do bom desenvolvimento destas e da sua futura produção, bem como da rentabilidade do rebanho.

Referências

DIAO, Qiyu; ZHANG, Rong; FU, Tong. Review of strategies to promote rumen development in calves. Animals, v. 9, n. 8, p. 490, 2019.

IBGE. Em 2021, o rebanho bovino bateu recorde e chegou a 224,6 milhões de cabeças. 22 set. 2022. Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/34983-em-2021-o-rebanho-bovino-bateu-recorde-e-chegou-a-224-6-milhoes-de-cabecas>. Acesso em: 27 set. 2022.

LIZIEIRE, R. S; CAMPOS, O. F. Desaletamento precoce e alimentação de bezerras. Ver. Soc. Bras. Zootec., Viçosa, v. 15, nº 5, p. 432-438, 1997.

MEDEIROS, D. L. de; SARAIVA, C. A. S. Novas Estratégias no Manejo Alimentar de Bezerras Leiteiras. 2017. Trabalho de Conclusão do Curso (TCC). Areia, Paraíba. Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Autores:

Gabrielle Araujo Rodrigues dos Santos – Discente do Grupo de Estudos Liga de Bovinos – LiBovis Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ)
João Pedro Rangel Brito – Discente do Grupo de Estudos Liga de Bovinos – LiBovis Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ)
Ana Paula Lopes Marques – Orientadora do Grupo de Estudos Liga de Bovinos – LiBovis Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ)
Clayton Bernardinelli Gitti – Orientador do Grupo de Estudos Liga de Bovinos – LiBovis Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ)
Foto de capa: Pixabay