Precedentes históricos

Para se entender o que foi a Missão Militar Francesa no Brasil – MMFB e sua importância para o Serviço de Veterinária Militar do Exército Brasileiro, temos que nos reportar às Guerras que aconteceram no Sul do Brasil, ininterruptas, no período de 1816 a 1870, que envolveram tropas brasileiras e da Argentina, Uruguai e Paraguai, pela conquista territorial e fixação das fronteiras do Sul do Continente Sul-Americano, denominadas: Invasão Portuguesa (1816 a 1820 ); Guerra da Cisplatina (1825-1828) e Guerra do Paraguai (1864-1870). Conflitos complexos que envolveram Teatros de Operações terrestres, oceânicos e fluviais, e o emprego da Armada Imperial, com papel decisivo nas Campanhas da Cisplatina e Paraguai, com seus aguerridos marinheiros, armamentos, barcos e navios de guerra.

Não resta dúvida, pelos relatórios e registros dos fatos históricos desses entreveros bélicos, que a Força Motriz maior que impulsionaram os Exércitos nas Operações terrestres foi a hipo ( cavalo e muares ), não só empregada na Cavalaria, mas, também na Artilharia e Infantaria como elemento de mobilidade, transporte, combate e persuasão. O cavalo como elemento de Guerra foi o fator decisivo para os combates e conquistas terrestres de nosso exército.

Nesse período de governo e administração imperial ( D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II ) o Exército Imperial, chamado de 1ª Linha, era constituído: da Guarda Nacional, Exército Regular e Voluntários da Pátria. A Guarda Nacional, conforme a sua reorganização de 1850, é que tinha maior prestígio e competia: “ defender a constituição, a liberdade, a independência e a integridade do Império; manter a obediência às Leis, conservar ou estabelecer a ordem e a tranquilidade pública, e auxiliar o Exército de Linha na defesa das fronteiras e costa “.

Já na Guerra de 1816, também chamada de Banda Oriental, na sua principal Batalha de Passo do Rosário, conhecida também como Ituzaingó, no Relatório do Marques de Barbacena, Felisberto Caldeira Brant Pontes, mostrava as dificuldades do Exército Imperial, em provimentos de alimentação, equipamentos, reposição do efetivo militar e hipo, fardamento e munição. Os militares em face à drástica situação de combate enfrentada, desertava ou morriam pela inanição e incidências de doenças. O exército empregado era de 7 200 homens e a Força Hipo de 2 600 animais. Essa situação foi relatada no Relatório do Marques de Barbacena, assim, em uma das partes:

“Vendo-me com 1500 homens de menos por deserção, em cujo número entram muitos oficiais, e as tropas fatigadas de 6 horas de contínuo fogo, forçoso foi retirar-me ……..
Estando com a Cavalaria a pé, e com a Infantaria cansadíssima, procuro algum ponto seguro menos exposto em que possa receber socorros indispensáveis de calçados, fardamento, munições de guerra, e cavalos e quanto a mim, só penso ser no Rio São Lourenço, no vale do Jacuí.” ( Marques de Barbacena )

Com relação à cavalhada, esta era desassistida de alimentação regular, assistência veterinária, e descanso regulamentar, visto que os animais empregados na Guerra eram os arrebanhados dos fazendeiros locais e dos prisioneiros de guerra, muitos velhos, feridos, caquéticos e doentes.

Nas Guerras que se seguiram Cisplatina ( 1825-1828) e Paraguai ( 1864-1870 ), o cenário, estado e constituição da tropa não melhorou, teve uma piora bastante significativa, principalmente na Grande Guerra, cujo Teatro de Operações terrestre tinha cerca de 2 130 km, de Montevidéu ao Forte Príncipe da Beira, RO.

Com relação ao estado de saúde e sanitário da tropa ( 43 000 ) soldados e da cavalhada empenhada ( 14 700 ), em relatórios bastantes reais e convincentes, assim relatam, alguns historiadores:
Na verdade, o Exército Brasileiro Imperial em 1864, no deflagrar da grande guerra, não gozava de prestigio junto ao governo imperial. Constituído de 24 000 militares e mal organizado, aparelhado e equipado, deixava a desejar em instrução militar, víveres e forragens, serviço sanitário, saúde, fardamento, meios de transporte e armamentos e equipamentos adequados. ( Ferrer, Francisca. FURG,RS, 2005 ).

Nesse cenário belicoso o mais temível pelos comandantes e combatentes não era o inimigo e sim a fome, as epidemias, o sanitarismo e a insalubridade do ambiente de combate. Esses inimigos invisíveis, mas presentes, que se abatiam sobre humanos e animais, nas diversas frentes de batalha, eram ameaças constantes mais que canhões, rifles, espingardas, revólveres, lanças e espadas usadas na guerra, assim relatadas:

Quanto a fome humana: Sem a provisão regular de víveres e forragens pelo governo Imperial, os soldados passaram fome em grande parte da Campanha assim descrita por José Luiz Rodrigues da Silva, veterano da Guerra ” Os soldados espalhavam-se em várias direções em busca de alguma fruta silvestre ou raiz tuberosa,capazes de alimentação, e regressavam ainda mais enfraquecidos por não encontrarem coisa alguma. As baixas às enfermarias, por debilidade penetrante, tomavam vulto inquietador e multiplicando-se todos os dias. Os óbitos subiam a grande número; a contingência angustiosa invadia a Divisão, que se desfalcava sensivelmente”

Quanto a fome animal: Os animais utilizados na guerra, habituados à ração de alfafa e milho, sofriam além da peste, o excessivo calor e grande quantidade de vermes e parasitas do campo. Passavam fome devido à falta de forragens, que era indispensáveis, por causa das longas marchas da cavalaria feitas com frequência, que os deixavam doentes, magros e enfraquecidos.

Quanto as epidemias. As principais doenças que incidiam sobre os efetivos militares nos campos de batalha e que causaram mortes ( 13% ) no Exército foram: Cólera, Varíola, Tifo, Tuberculose, Tétano, Malária e Sarampo, agravadas pela falta de vacinas e medicamentos para tratá-las. Além disso, a precariedade da falta de médicos e enfermeiros preparados para atuarem no campo de batalha.

Em relação as epizootias. Além da caquexia por falta de ração, as maiores mortalidades, cerca de 40 % do efetivo hipo empregado pela cavalaria e artilharia morreram de: peste equina, cólica, garrotilho, mormo, raiva e tétano, além de doenças parasitárias. Não havia veterinários para diagnóstico e tratamento das doenças. Quanto aos bovinos, a mortalidade maior eram tuberculose e febre aftosa.

D Pedro II, como seu genro o Conde D`Eu, Luís Filipe Maria Fernando Gastão, estiveram presentes na Guerra do Paraguai, e puderam constatar o deplorável estado sanitário da tropa. Face ao grande contingente de militares das tropas aliadas empregadas nas batalhas somando-se, também, marinheiros, índios, escravos, mulheres e crianças, cerca de 262 mil pessoas, e efetivos de animais equinos, bovinos e asininos, essa promiscuidade de humanos e animais, em constante movimentação entre essas nações beligerantes, transformou a Região Sul da America Latina, do ponto de vista epidemiológico, no maior Centro Irradiador de Zoonoses do Continente para os demais países, de difícil controle sanitário e incalculáveis perdas econômicas para as nações participantes da Grande Guerra.

Face ao Relatório Sanitário do médico cirurgião Brigadeiro ( Gen Bda ) Dr. Maciel Feliciano Pereira de Carvalho – Patriarca da Cirurgia Brasileira – primeiro militar a chefiar o Corpo de Saúde do Exército, do pós Guerra do Paraguai; e também do Dr. Belisário Penna, a respeito da situação sanitária do Rio de Janeiro, capital do Império, que relatava: “as grandes epidemias e epizootias grassavam por todo o Brasil: cólera, febre amarela, malária, varíola, tuberculose, mormo, tétano, peste equina, febre aftosa etc, vitimando milhares de pessoas e animais. No Rio de Janeiro e demais províncias, o sanitarismo era precário e a higiene individual e coletiva prejudicava a prevenção e controle de doenças contagiosas e infectocontagiosas. Não havia um Código Sanitário para a produção, controle e fiscalização de alimentos comercializados e vendidos à população. Estes relatórios técnicos urgia gestões dos governantes para solucionar a dantesca situação e calamidade pública.

Missão militar francesa no Brasil e no Exército Brasileiro

Imperador D.Pedro II. Mentor da Veterinária no Brasil.

Pressionado pela grave situação sanitária e de saúde pública que se abatia nas populações brasileiras, capital e províncias, com elevados índices de morbidade e letalidade, e também, sobre os equinos, cavalhada militar e civil, que servia como meio de transporte e mobilidade no meio urbano e rural, e ainda, dos Relatórios Militares do após Guerra do Paraguai do Dr Cel Med Feliciano Pereira de Carvalho, D. Pedro II, sensibilizado também pelo seu genro o Conde D`Eu, em 1877, viaja à França, para visitar a Escola de Veterinária de Alfort, que apresentava um dos melhores cursos de Veterinária de abrangência civil e militar. Além da Escola de Veterinária de Alfort, visitou também o Instituto Pasteur, consagrada instituição internacional, especializada na produção de Soros e Vacinas. Nessa ocasião teve oportunidade de conversar com o Diretor do Instituto Dr. Paul Emile Roux e assistir a uma aula de Fisiologia proferida pelo professor Dr. Gabriel-Constant Colin. D Pedro II era amigo pessoal de Louis Pasteur, membro da Academia de Ciência da França e benemérito do Instituto Pasteur que ajudou a construir, doando 100 mil libras esterlinas para sua construção. Tinha grande interesse que Pasteur viesse ao Brasil para produzir vacina contra a Febre Amarela e a Cólera, não conseguindo seu intento.

Em 1907, após decisão presidencial, o Diretor de Saúde do Exército, Dr.Gen Ismael da Rocha, credenciado pelo Ministro da Guerra, Mal Hermes Rodrigues da Fonseca, segue para a Europa, a fim de contratar na França, uma Missão Militar Francesa, para implantar o Serviço de Veterinária Militar no Brasil. Este contrato emergencial era para atender ao Exército e a Higiene e Saúde Pública da Corte e das Províncias.

1ª missão militar francesa no Brasil – 1ª MMFB (1908 – 1912)

A primeira Missão Militar Francesa chegou ao Brasil em 10 de maio de 1908 composta pelos oficiais veterinários Ten Cel Antoine Dupuy e o Cap Paul Ferret, laureados hipiatras de Alfort e pesquisadores do Instituto Pasteur. No Brasil, e no Laboratório de Microscopia Clínica e Bacteriologia, atual IBEx, teve contato com o Dr. João Muniz Barreto de Aragão, que já vinha se dedicando aos estudos das doenças animais, sobretudo o mormo, a tuberculose e a febre aftosa.

Provisoriamente, o Curso Prático, com instalações improvisadas e uma pequena biblioteca, trazida da França, foi estabelecido numa dependência do Quartel de Artilharia, Tipo Obus, São Cristovão-RJ, constando as instalações de dois gabinetes. O Curso com grade de ensino, baseado na Escola de Alfort, tinha a duração de 3 anos com as seguintes matérias, denominadas cadeiras:

Dr. João Muniz Barreto de Aragão

Cadeira 1 – Pathologia médica e respectiva clínica, arte de ferrador;
Cadeira 2 – Pathologia cirúrgica e respectiva clínica. Inspeção de carnes e conservas. Serviço Veterinário no tempo de guerra e de paz;
Cadeira 3 – Microbiologia e Doenças Contagiosas;
Cadeira 4 – Anatomia comparada dos Animais domésticos;
Cadeira 5 – Anatomia pathologica . Teratologia. Histologia normal;
Cadeira 6 – Physiologia comparadas dos animais domésticos;
Cadeira 7 – História Natural (especialmente zoologia). Hygiene e zootechnia. Forragens.
Cadeira 8 – Physica e Chimica. Therapeutica . Legislação sanitária militar.
Cadeira 9 – Exterior do cavallo. Hoppologia.
Cadeira 10. Toxicologia. Pharmacologia. Arte de formular. Analyses.

Assim, estruturado, as matérias correspondentes as cadeiras eram assim lecionadas:

Primeiro anno – Anatomia comparada dos animais domésticos, physica, chimica, história natural (especialmente zoologia ), histologia normal, exterior do cavalo, hypologia e physiologia.

Segundo anno. Anatomia comparada ( continuação e fim ), anatomia pathologica, therapeutica, toxicologia, pharmacologia, anlyses, pathologia médica e clínica respectiva, pathologia cirurgica e clinica respectiva, hygiene, zootecnia, forragens e arte de ferrador, podologia.

Terceiro anno. Pathologia médica e respectiva clínica (cont e fim), pathologia cirur gica e respectiva clinica ( cont e fim ), microbiologia, doenças contagiosas, inspeção de carnes e conservas, serviço veterinário em tempo de paz e guerra e legislação militar ( especialmente sobre saúde e veterinária ).

O Curso tinha a Direção do TC Antoine Dupuy, tendo o cap med Muniz de Aragão a incumbência de Supervisor. Os alunos matriculados foram quatro militares compulsados e dois civis. As dificuldades maiores eram, de início, o idioma e os materiais para as aulas práticas. A veterinária no Brasil e na Europa eram rejeitadas pela sociedade por lidar com animais doentes e cadáveres, coisas consideradas imundices abominadas pela aristocracia.

Obs – Antes da oficialização do Curso Prático em 17 de julho de 1914, o Curso já era reconhecido pelo Exército e sua instalação a partir de 1908.

A missão maior da 1ªMMFB foi estruturar e implantar o ensino oficial da Veterinária no Brasil, com bases científicas modernas.

Em função da participação da França na 1ª Grande Guerra Mundial, o curso foi suspenso, em virtude da aliança da França com os EEUU, Inglaterra e Rússia.

2ª missão militar francesa no Brasil – 2ª MMFB (1913 – 1914)

Em 2013, conforme novos acordos feitos entre o Brasil e a França, chegou a 2ª MMFB, composta pelos Maj André Vantillard e o Cap Henri Marliangeas para dar prosseguimento ao Curso e confeccionar com cap Moniz de Aragão, a planta da nova Escola de Veterinária do Exército, que deveria ter no prédio principal: Auditório, Salas de Aula, Sala de Estudos, Sala dos Professores, Gabinete do Diretor, Secretaria, Biblioteca, Arquivo, Banheiros , entre as principais edificações.

Ainda, um Pavilhão para ferradoria, um Hospital Escola para pequenos animais, Laboratórios de Inspeção de Alimentos, Laboratório de Produtos medicamentosos, Quadra de Esportes e pátio para formaturas.

Foi durante a 2ª MMFB que foi declarado oficialmente o Curso Prático que já vinha funcionando, desde 1908. No ato cerimonial compareceram o Presidente da República – Mal Hermes Rodrigues da Fonseca, o Ministro da Guerra Vespaziano de Albuquerque e o Chefe do Gabinete Presidencial. Assumiu, na época, a direção do curso o Cap Med Muniz de Aragão.

Em 1914, novamente o Curso é interrompido com o regresso da 2ª MMFB, à França. O Curso foi entregue ao Cap Muniz de Aragão que teve a árdua tarefa de conduzi-lo até fim. Muniz enfrentou muitas dificuldades, mas, com a boa vontade dos instrutores e alunos não desanimou, nem desistiu, levando sua missão até o final.

Foi durante a gestão administrativa de Muniz de Aragão que se formou a primeira turma de veterinários militares e civis do Brasil, em 15 de fev 1917, assim composta: 2º Ten João do Couto Telles Pires, Sgt Ajd Pedro Quintino de Lemos, 1º Sgt Francisco Correa de Andrade Mello, Cb Gastão Goulart, civis: Carlos Boson e Antonio Ramos dos Santos.

3ª missão militar francesa no Brasil – 3ª MMFB (1920 – 1933)

Foi a missão mais longa no Brasil. Composta pelos oficiais veterinários franceses

TC Henri Marliangeas e Maj Paul Dieulouard, tinha a missão de aperfeiçoar os trabalhos realizados pelas 1ª e 2ª Missões. Assim esses oficiais se dedicaram aos trabalhos técnicos de montar Manuais Técnicos, Laboratórios fixos e móveis para inspeção de alimentos, Produção de Soros e Vacinas, bem como, produtos farmacêuticos usados no tratamento de animais domésticos. Durante o período que esteve no Brasil foi elemento importante na colaboração do Instituto de Biologia do Exército, produção de vacinas e toxoides, e Instituto Oswaldo Cruz, nas pesquisas bacteriológicas, microbiológicas e parasitológicas. Que, durante a MMF no Brasil, muito se beneficiaram o Instituto Militar de Biologia e o Instituto Oswaldo Cruz, pela boa vivência e relacionamento dos civis Drs Carlos Chagas, Oswaldo Cruz, Emílio Ribas e os militares Cap Muniz de Aragão e Gen Dr. Ismael da Rocha, entre tantos que participaram do inicio dos estudos científicos da medicina pasteuriana no Brasil.

Lembrando que os melhores alunos formados na Escola de Veterinária do Exército eram requisitados pelo Instituto Manguinhos, atual Fiocruz, para seus quadros de cientistas e pesquisadores.

Legado da MMFB para o e Exército Brasileiro e a Veterinária Militar

Contratada na França, em 08 de set 1919, com a missão principal de modernizar o Exército Brasileiro, as negociações missionárias militares aconteceram em Paris entre o adido militar brasileiro na França, coronel Malan d’Angrogne, e o ministro da Guerra francês, Georges Clemenceau (1917-1920). Os termos do contrato estipulavam que oficiais franceses comandariam durante quatro anos as Escolas de Estado-Maior (EEM), de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), de Intendência e Veterinária; e que o Brasil se comprometia a privilegiar a indústria francesa em suas compras de armas e equipamentos militares com a condição de que o material oferecido, o prazo de entrega e os preços fossem no mínimo equivalentes aos de outros países fornecedores.

Para o Brasil, o contrato representou um grande passo na direção da profissionalização e modernização de Exército e contribuiu para fortalecer seu poder militar na América do Sul.

Cel R1 Carlos José Sampaio Malan

Legado para o Exército Brasileiro

Gen Maurice Gustave Gamelin. Ch da MMFB no Brasil.

Para o Exército o legado principal foi na modernização e reestruturação do ensino e instrução militar, principalmente nas Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais-EAO e Escola de Estado Maior-EEM. Também nos cursos de formação e especialização de Oficiais Intendentes, Saúde, Veterinária, Equitação e Educação Física.

Assim, os missionários franceses, sob o Comando do Gen Maurice Gustave Gamelin ( 1919 -1924), principal Chefe da MMF, encarregavam-se de reorientar a doutrina do Exército, elaborar novos regulamentos e aperfeiçoar o ensino e a instrução militar. Sua ação resultou na reformulação das missões do EME e criação da Escola de Aviação Brasileira.

No aspecto do emprego estratégico e tático operacional concretizou-se ainda, além de 1921, com a adoção de novos regulamentos destinados à Direção e Emprego das Grandes Unidades, ao Exercício e Emprego da Artilharia e ao Serviço de Estado-Maior em Campanha. Algumas realizações marcaram sua atuação: a instituição do culto ao patrono do Exército, Duque de Caxias, em 1923; a entrada em função sob seu comando, em 1927, da Diretoria de Aviação Militar, da Escola de Aviação Militar e do Depósito Central de Aviação; a criação no mesmo ano do Conselho de Defesa Nacional, que embora não fosse efetivo àquela altura, transformou-se em 1938 no Conselho de Segurança Nacional, encarregado da elaboração dos planos de defesa nacional.

Legado para a Veterinária Militar

Apesar do Contrato oficial da MMFB ter acontecido em 1919, na França e ratificado no Rio de Janeiro, em 1920, os oficiais franceses já atuavam oficialmente no Brasil desde 1908, na área da medicina veterinária, face as urgências na área da saúde pública, sanitarismo, higienização dos alimentos, zoonoses, além das medidas profiláticas das graves epizootias que grassavam nas populações caninas, equinas e bovinas com alta incidência de morbidade e mortalidade humana e animal.

Os principais legados para a Medicina Veterinária Brasileira e Militar foram:

Escola de Veterinária do Exécito – 1914

– Construção da Escola de Veterinária do Exército (1914), com arquitetura francesa, semelhante às de Alfort e Lyon;
– 1º Curso de formação de oficiais veterinários, fora da Europa, com doutrina científica e acadêmica do Instituto Pasteur, o mais moderno da época;
– Primeira turma de médicos veterinários do Brasil, Rio de Janeiro, 1917;
– Tecnologia de Produção de soros, vacinas e medicamentos injetáveis para uso animal civil e militar (soroterapia );
– Higienização da água e combate a animais vetores e transmissores de doenças;
– Clinica médica e cirúrgica para grandes e pequenos animais de interesse militar;
– Farmacologia – estudo e produção laboratorial de medicamentos.

 

* Dr.Edino Camoleze – med vet mil. Membro Titular da Academia Brasileira de Medicina Veterinária. Planejamento e Tecnologia de Alimentos. Zoogeografia da América do Sul. Contatos: edino0644@gmail.com