1- Contextualização
O Produto Interno Bruto do agronegócio brasileiro (PIB) alcançou no ano de 2021 uma das maiores cifras monetárias da história produtiva agrícola do país, somando um total de R$ 8.7 (oito trilhões e setecentos bilhões de reais) e participando com 27.4% do PIB nacional (CEPEA/SNA). Apesar de um ano pandêmico, com perturbações e desordens em quase todas as cadeias produtivas do agronegócio, o setor agropecuário cresceu e contribuiu com 68% na agricultura, enquanto a pecuária respondeu com 32%, desse total.
Não há dúvidas que no setor pecuário duas raças nacionais vêm chamando atenção dos técnicos, criadores e pecuaristas pelos seus desempenhos zootécnicos e performances no cenário pecuário nacional: o cavalo Mangalarga Marchador (CMM) e o gado Girolando, que sobressaem sobre às demais por suas qualidades funcionais. A primeira por sua versatilidade de serviços prestados ao homem; a segunda, na produção de leite.
Uma visão mais detalhada sobre essas duas raças e seus campeões nacionais, nessa matéria, faz-se uma justa homenagem aos empresários, pecuaristas e técnicos que no dia a dia, nas fazendas, laboratórios, haras e criatórios se dedicam ao aprimoramento e evolução zootécnica dessas raças, baluartes da pecuária nacional.
2- Raça Mangalarga Marchador (CMM)
Originaria de Minas Gerais, Vale das Mortes, Sul do estado, fazenda Campo Alegre, o mestiço Mangalarga Marchador tem na sua genealogia e formação genética os sangues das raças Andaluz e Alter, ambas da Penísula Ibérica, respectivamente Espanha e Portugal. Com mais de 200 anos de formação no Brasil, pioneiramente com o Barão de Alfenas, Gabriel Francisco Junqueira, que como colecionador, criador e selecionador, cruzou um garanhão Alter Real, presente de D. Pedro I, com animais de sua fazenda (ABCMM).
Os primeiros descendentes do garanhão “Alter Real” (1740) tinham andamentos suaves e rítmicos, caracterizando uma marcha cadenciada, ágil e confortável, diferenciando dos cavalos da época, trotadores, que lhe valeu o cognome “marchador”.
Entendendo-se como marcha ou passo, o movimento que executa o cavalo em movimentos rápidos com os membros dianteiros e posteriores em bípede diagonal ou lateral, caracterizando os vários tipos de diagramas de marchas que executa: batida, picada e centro. Nesses mais de dois séculos e meio de formação, seleção e desenvolvimento (1740 – 2022) o Mangalarga Marchador, genuinamente brasileiro, tem acumulado números impressionantes e relevantes na equideocultura nacional, assim destacados:
– Maior raça equina da América Latina e do Brasil com uma população de 613.370 animais, sendo 589.289 em território brasileiro e 24.081 em solo estrangeiro;
– Maior Associação de Criadores de Cavalo Mangalarga Marchador do país, a ABBCCMM, com cerca de 16.200 sócios em três categorias: Contribuinte, Usuário e Mirim;
– Os maiores criadores equinos e associados localizam-se na Região Sudeste, destacando Minas Gerais 898, Rio de Janeiro 1.674 e São Paulo, 1.186 sócios;
– Ranking populacional do marchador por Estado: 1º lugar, Minas Gerais com 241.520; 2º lugar, São Paulo com 94 000 e 3º lugar, Bahia com 65.490 animais (MAGALHÃES.P,2019);
– Mangalarga Marchador, raça de cavalo nacional que representa os cavalos do país: Decreto-Lei 12.975, Diário Oficial da União, 19 mai de 2014;
2.1- Padrão racial geral do Mangalarga Marchador
– Aparência: vivo, dócil e enérgico;
– Altura: Animais de porte médio: machos 1.50m e fêmeas 1.45m;
– Pelagem: Todas são aceitas, menos a branca despigmentada e pintada;
– Cabeça: Média, leve, descarnada, triangular e perfil retilíneo ou subcôncavo;
– Pescoço: médio, musculoso, piramidal bem inserido na cabeça e tronco;
– Tronco: Cilíndrico, Harmonioso, musculoso, bom arqueamento de costelas, peito amplo e profundo. Linha dorso-lombar retilínea; lombo curto, largo e bem conformado;
– Garupa: Levemente inclinada, ampla e musculosa sem ser dupla;
– Membros: Bem aprumados, angulados, alinhados, musculosos e sem defeitos;
– Função zootécnica: passeio, esporte e trabalho em geral;
– Andamentos: Marcha batida, picada e central (ABCCMM, 2017);
2.2- Agronegócio do CMM, em 2021
Segundo o empresário Sr. Manuel Rossitto, presidente do Instituto Brasileiro de Equideocultura (IBEqui), que participou de vários debates e câmaras temáticas sobre: “Qual o tamanho e o valor do Segmento Equestre” e, também, o prof. Roberto Arruda de Souza Lima, coordenador dos Estudos do Agronegócio do Cavalo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiros, USP, no setor da equideocultura – Economia do Cavalo – movimenta todos os anos, com tendência a crescer, cerca de 16.5 bilhões de reais. São 5.4 milhões de animais e mais de mil propriedades rurais voltadas para a equideocultura, gerando aproximadamente três milhões de empregos diretos e indiretos, afirma Rossitto. Desse total, que reflete a importância do cavalo na Economia do país, o Mangalarga Marchador é responsável pela maior parte dos negócios.
A Indústria do cavalo, plataforma logística, técnica, comercial e empresarial que dá suporte e movimenta a equideocultura no Brasil, envolve vários setores como: medicamentos, veterinários, associações, haras, exposições, fábricas de rações, selaria e acessórios, produção de feno, ferrageamento, leilões, produtoras de vídeos e gráficas, além dos técnicos e serviçais rurais. Somente o Mangalarga Marchador, segundo a Associação, responde por 40 mil empregos diretos e 200 mil empregos indiretos (ABCCMM, 2019).
2.3- Exposição Mangalarga, 2022
Realizada desde o ano de 1982, no Parque de Exposições Bolívar de Andrade, Parque da Gameleira, em Belo Horizonte (MG), a 39ª Exposição Nacional Ram do Cavalo Mangalarga Marchador, também chamada Copa do Mundo da raça, neste ano de 2022, no período de 18 a 30 de julho, recebeu mais de 1.600 animais de 17 estados do país e 561 expositores e criadores. Considerada o maior evento equestre do país, tinha como objetivos primordiais realizar os grandes julgamentos técnicos da raça, machos e fêmeas, nos seus atributos especiais e específicos: padrão racial, marcha e morfologia e, com um colegiado de juízes, selecionar os melhores produtos nas diversas categorias. Dessa forma, a programação constou de: provas técnicas, esportivas, sociais e palestras técnicas com temas ligados a história do Mangalarga, fazendas tradicionais, museu do cavalo e temas ligados a equideocultura em geral.
Os grandes campeões dos campeões de marcha batida, após intensos e exaustivos julgamentos foram:
Macho: Favorito de Morada Nova. Criador: Cristina Gutierrez. Expositor: Condomínio Favorito da Morada Nova. Haras: Morada Nova, Inhaúma (MG).
Fêmea: Fagulha CP. Criador: Guilherme Capobianco Porto. Expositor: Guilherme Capobianco Porto. Haras: Tom da Mata, Guaranésia (MG).
3- Raça bovina Girolando
A raça Girolando mestiça brasileira nasceu, por volta de 1940, resultante de um cruzamento acidental e aleatório de um touro Gir (Bos indicus) com vacas holandesas (Bos taurus) numa fazenda do Vale do Paraíba (SP). A heterose ou vigor híbrido dos produtos obtidos dessa mestiçagem, observados pelos fazendeiros e técnicos de então, mostraram aptidão funcional e zootécnica para a produção de leite, herdando habilidades genéticas da vaca holandesa, especializada nessa função, e do zebu, resistência à doenças e rusticidade de adaptação aos climas tropical e subtropical e pastagens brasileiras.
Reconhecida e registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em 1º de fevereiro de 1996, completando este ano 26 anos de formação e melhoramentos com os vários graus de sangue alternados dos cruzamentos dirigidos entre as raças (1/2H + 1/2G; 3/4 H + 1/4 G; 4.5H + 3.5H; 7/8H + 1/8G etc…) parece que o melhor produto obtido e aceito pelo MAPA e Associação Brasileira de Criação de Girolando (ABCG), criada em 1989, para registro e controle genealógico é o Girolando PS 5/8 H +3/8 G ( EMBRAPA, 2021).
De acordo com a ABCG e seu Departamento Técnico, existem três principais justificativas para a oficialização da raça Girolando, com a fixação da composição sanguínea 5/8 H + 3/8 G:
1- Composição racial que apresenta menor dissociação mendeliana (segregação);
2- Melhor equilíbrio a proporção de sangue das raças matrizes;
3- Maior padronização das características após a bi mestiçagem (ABCG, 2021);
3.1 Padrão racial da raça Girolando
Os animais desta raça possuem características zootécnicas próprias e específicas herdadas de seus formadores, assim definidas:
– Tamanho: Médio com expressivo dimorfismo sexual entre machos e fêmeas;
– Cabeça: Comprimento e largura média, descarnada, chanfro retilíneo e levemente convexo, fronte larga e plana, orelhas médias e largas, narinas amplas e dilatadas, etc …
– Chifres: Grossos e achatados na base com a cabeça, arqueados ou retos voltados para trás e curvados para baixo ou para cima;
– Pescoço: Forte, grosso, musculoso, alto, bem inserido à cabeça e tronco; nas fêmeas longo, descarnado e comprido;
– Peito: Forte, largo, amplo com boa cobertura muscular. Barbela média e pregueada;
– Tronco: Robusto, musculoso, bem arqueado; costelas profundas, arqueadas e largas; dorso e lombo retilíneos; tórax amplo, largo e profundo; ancas bem afastadas; garupa larga e comprida com boa cobertura muscular, ventre bem desenvolvido e sustentável; Descarnado nas fêmeas;
– Membros: Médios, fortes, compridos, musculosos e bem aprumados, sendo mais desenvolvidos nos machos que nas fêmeas;
– Úbere: Bem desenvolvido, pregueado, elástico, volumoso, bem inserido ao ventre, não ultrapassando a linha do jarrete, bem irrigado, de consistência lisa e macia, ligamentos suspensórios firmes; tetas simétricas de comprimento e espessura médias, bem separadas e bem implantadas em cada;
– Pelagem: Pode ser preta, mamona, mamona clara, castanha, castanha mamona, mamona de castanha, castanha com branco, vermelha, preta c/branco (ABCG);
3.2- Agronegócio do Girolando, 2022
O Brasil ocupa o 3º lugar na produção mundial de leite com 33.490.810 t; 17.060.177 vacas ordenhadas e uma produtividade de 1.963.11 kg por cabeça/animal/ano, ficando atrás apenas dos EUA, 1º, (97.734.736 t) e Índia, 2º, (83.633.570 t) – IMPLEMIS, 2022. Considerado uma raça de função zootécnica mista, produção de carne e leite, a maior virtude atual do Girolando é a produção de leite, sendo o maior rebanho entre as raças leiteiras brasileiras com 2.037.819 cabeças e produtividade láctea média de 5.671 kg/vaca/ano (ABCG,2021).
Raça que mudou a produção de leite no Brasil, adaptada aos trópicos, produz 80% do leite nacional, nas grandes, médias e pequenas fazendas. A grandeza e o gigantismo da nova raça na pecuária e economia do país, pôde ser confirmada e comprovada na 17ª edição da Megaleite, Agronegócio do leite, realizada no Parque de Exposições Mangabeira, em Belo Horizonte (MG), no período de 15 a 18 de junho, com números estatísticos expressivos contabilizados, assim apurados:
– Faturamento de 200 milhões de reais de 80 empresas expositoras nos leilões realizados; 289 milhões de financiamento da Caixa Econômica nos vários negócios realizados; 103 milhões em propostas ligadas ao crédito rural (Pronaf e Pronamp);
– Participação de 1.500 animais das raças bovinas leiteiras: Girolando, Gir Leiteiro, Guzolando, Guzerá, Jersey, Jersolando, Simental e Simbrasil ;
– Participação de 7 países estrangeiros: Bolívia, Colômbia, Equador, Itália, México, Nicarágua e Venezuela;
– Público de cerca de 70 mil visitantes nos três dias do evento (ABCG);
3.3 Grandes campeãs da Megaleite, 2022
As grandes campeãs do 31º Torneio Leiteiro da raça, realizado na Megaleite, com 15 animais representantes dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás, em nove ordenhas efetuadas, nos três dias do evento foram:
– Vaca Francisca FIV da PEZ: composição racial CCG 3/4 G + 1/4 H, média de 85.227kg/leite, produção total 255,680kg/leite. Expositora: Maria Beatriz do Prado Zago, município de Perdizes (MG);
– Vaca Solar do Engenho Garoa: composição racial CCG 1/2G + 1/2 H, média 67,162kg/leite, produção total, 201,485kg/leite. Expositor: Thiago Viana Nogueira, município de Sete Lagoas (MG);
– A recordista do Torneio Megaleite continua sendo a vaca Indiana Canvas 2R, CCG 3/4G + 1/4H, com a média de 108,430 kg/leite, produção total 325.290kg/leite. Expositor: Delcio Tannus Filho, Uberlândia, Torneio Leiteiro de Uberaba (MG) edição, 2014.
Recordista mundial
– Vaca Marília FIV Teatro de Naylo, Girolando, CCG 1/2 G + 1/2 H, com a produção de 127.570kg/leite/dia, de propriedade do criador André Luiz Gonçalves de Souza, Fazenda Vista Alegre, Bananal (SP), é recordista mundial de produção de leite, feito inédito no mundo conseguido no Torneio Leiteiro de Areias (SP, 2019).