Papa-moscas-do-campo

Introdução

O papa-moscas-do-campo (Culicivora caudacuta) pertence à ordem dos Passeriformes, e faz parte da família Tyrannidae, uma das maiores famílias de aves de todo o planeta contendo aproximadamente outras 300 espécies no Brasil.

Etimologicamente seu nome significa, em uma tradução livre do latim, “devorador de mosquito que possui cauda pontiaguda” ou mesmo, “ave de cauda afiada que devora mosquitos”.

Ambiente Específico e Distribuição Geográfica

Descrito por Vielliot, em 1818, o papa-moscas-do-campo (Culicivora caudacuta) é um tiranídeo de hábitos campestres, portanto, típico da vastidão das áreas abertas, nos habitats dominados por gramíneas altas e arbustos, como os campos do Cerrado e Pampa. Além dos estados que compõem este bioma e seus limites, como MG, MT, SP, DF, BA e MA, este passarinho também pode ser avistado na região Sul do país, do PR ao RS. Sua distribuição abrange países vizinhos, incluindo regiões da Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Peru.

Características Anatômicas

Este pequeno e exuberante tiranídeo, de cerca de 10 cm e 7 gramas, possui uma coroa negra demarcada por finas penas brancas em seu supercílio, um pequeno penacho que gera um expressivo contraste com o restante da plumagem, que vai de um leve alaranjado ao marrom suave e tons enegrecidos, além das listras pretas que leva em seu dorso. No conjunto, o que o torna singular, além de sua coroa melânica, é seu gradiente acastanhado.

Embora sem dimorfismo sexual aparente, alguns autores indicam um leve dimorfismo sexual, no qual a fêmea costumeiramente apresenta a plumagem da cabeça de tons mais claros que a do macho, além de ser menor e mais leve que seu companheiro. Já os juvenis e imaturos apresentam uma plumagem principalmente laranja acastanhada, diferente dos adultos.

Hábitos e Dieta

Territorialistas, habitualmente empoleiram-se na vegetação, quase sempre em hastes de capim, tipicamente verticalizados, deixando à mostra seu peito amarelo claro. Seu canto singular é perceptível em campos limpos e sujos do Cerrado, bem conservados e protegidos, como no alto do Chapadão da Serra da Canastra, MG. Alimentam-se de grãos ou insetos, como libélulas, moscas e besouros, capturados com maestria em pleno voo, fato este que faz jus à etimologia de seu nome vulgar e científico.

Reprodução

Os papa-moscas-do-campo formam casais e são mais frequentemente avistados em pequenos grupos familiares, bandos que podem atingir no inverno algo em torno de sete a quinze indivíduos. Sua reprodução ocorre durante a estação chuvosa, entre os meses de outubro e março, característica comum entre espécies do Cerrado, embora seu ciclo reprodutivo aconteça mais tardiamente do que outras aves insetívoras. Assim, como grande parte das espécies que se reproduzem nesta época do ano, a construção de seus ninhos leva de 10 a 15 dias e o seu período reprodutivo parece iniciar-se já ao fim do período de seca e início do período chuvoso, que está diretamente ligado à abundância de alimentos, especialmente insetos, que serão usados na alimentação dos jovens.

Foi relatada a presença de reprodução cooperativa nessa espécie, ou seja, existindo um terceiro membro, que será o ajudante, estando envolvido na incubação e no abastecimento dos filhotes. Entretanto, devido à falta de estudos sobre esse comportamento em relação a este tiranídeo, algumas questões carecem de informações, como a melhor caracterização deste terceiro membro.

Nidificação

O papa-moscas-do-campo, durante seu período reprodutivo, costuma incubar de um a três ovos a cada duas semanas. Seus ninhos possuem formato de pequena e delicada xícara, com cerca de 5 centímetros de profundidade. Dentro são macios, comumente constituídos por inflorescências de capim e paina – atuando como um forro na parte interior – unidos por teias de aranha. Estão localizados próximos ao solo, dentro de macegas de capim ou em arbustos.

Ameaças e Conservação

A localização de seus ninhos faz deles um alvo fácil para predadores nativos e exóticos. Além disso, as queimadas e incêndios nos campos, o maquinário agrícola e determinadas culturas, destroem ovos e ninhos desta e tantas outras aves.

Exigentes quanto à paisagem, esses indivíduos não frequentam pastagens artificiais, principalmente aquelas com vegetações e animais exóticos, deixando evidente sua preferência pelos campos naturais, sejam eles limpos ou dito, campos sujos de Cerrado. Mas os campos de Cerrado estão desaparecendo devido a ações antrópicas, como a substituição dos campos naturais por áreas destinadas à agricultura e pecuária, nesta última, com a introdução de gramíneas africanas. Somam-se às ameaças à fauna e à biodiversidade em geral, os incêndios florestais.

O papa-moscas-do-campo figura muito em listas de espécies ameaçadas, até em nível global, sendo considerado oficialmente como uma espécie ameaçada de extinção no grau vulnerável, tanto no Brasil como na Argentina.

O Cerrado, principal habitat dessa espécie (Culicivora caudacuta), é o segundo maior bioma da América do Sul, carecendo de proteção e preservação em toda sua extensão. Por toda a América do Sul, sua fitofisionomia tem sido substituída por monoculturas extensivas, como as de soja e eucalipto. Este cenário revela não somente o quanto é urgente e necessária a prioridade da conservação deste pequeno tiranídeo devido ao seu rápido declínio populacional, mas também a urgência da conservação das áreas de campo do cerrado, habitat de diversas espécies de aves, raras e endêmicas.

Uma Luz no Fim do Túnel

Apesar do cenário preocupante, algumas Unidades de Conservação possuem populações promissoras, como no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, que em um levantamento demonstrou que pode possuir até quatro mil indivíduos e no Parque Nacional de Brasília, em que são estimados até dois mil indivíduos. Ademais, na região da Serra da Canastra, apesar de não haver dados populacionais pormenorizados, existem relatos fotográficos que demonstram a presença de uma população expressiva nesse local.

O papa-moscas-do-campo é uma ave cujo habitat tem sido sistematicamente violado por ações antrópicas. É preciso, sobretudo, dar relevância e conhecimento de sua existência, promovendo ampla divulgação de seus hábitos, comportamentos e singularidades. Estratégias de manejo e conservação desta espécie são imprescindíveis e dependem, antes de tudo, de políticas públicas que melhor protejam os biomas nacionais, como o Cerrado.

Referências

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Wikiaves. Papa-moscas-do-campo. Disponível em: https://www.wikiaves.com.br/wiki/papa-moscas-do-campo. Acesso em: 15/01/2022.

Revisão de texto: Clarice Villac.

Sávio Freire Bruno: Professor Titular do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense; Professor Colaborador do Curso de Ciências Biológicas e do Curso de Ciência Ambiental (UFF). Tarik Taddeo de O. Teperino: Acadêmico do Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal Fluminense. Flávio Henrique da Silva: Licenciado em Letras (UFMG).