Bichos-preguiça, ou simplesmente preguiças, são mamíferos pertencentes à Superordem Xenarthra, que inclui animais que apresentam articulações adicionais entre as vértebras lombares, característica que é denominada de xenartria. Esta particularidade ocorre também nos tatus e tamanduás, sendo ausente nos demais mamíferos.

Atualmente existem seis espécies de preguiças, que são separadas em dois gêneros: o gênero Choloepus (preguiças-de-dois-dedos) e o gênero Bradypus (preguiças-de-três-dedos). O gênero Choloepus é representado pelas espécies Choloepus didactylus (Preguiça-de-dois-dedos) e Choloepus hoffmanni (Preguiça real), enquanto o gênero Bradypus é representado por Bradypus variegatus (Preguiça comum), Bradypus torquatus (Preguiça-de-coleira), Bradypus tridactylus (Preguiça-do-norte) e Bradypus pygmaeus (Preguiça-anã). No Brasil existem representantes de ambos os gêneros e somente a espécie B. pygmaeus não ocorre no país, por ser endêmica no Panamá.

Preguiça comum (Bradypus variegatus). Foto: Francis da Silva Leandro, Cachoeiras de Macacu, RJ

As preguiças estão presentes nas Américas Central e do Sul, sendo B. variegatus a espécie mais amplamente distribuída no território brasileiro. Sua presença é relatada de Honduras, na América Central, até o Equador, Peru, Bolívia e Brasil, na América do Sul. No Brasil ocorre nos estados da Região Norte (Amazonas, Acre, Pará, Rondônia), Nordeste (Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia), Região Centro-Oeste (Tocantins e Mato Grosso do Sul) e em toda a Região Sudeste.

A preguiça comum é também conhecida pelos nomes populares de preguiça-de-garganta-marrom, preguiça-de-óculos e preguiça-de-marmota. O termo “preguiça”, que define seu nome popular, assim como o termo “Bradypus”, que dá nome ao gênero (do grego “Bradus” = lento e “podos”=pés), fazem alusão a forma vagarosa como esses animais se deslocam.

Habitam áreas florestadas da Amazônia e da Mata Atlântica e acredita-se também que possam estar presentes em áreas do Pantanal localizadas próximas à Floresta Amazônica.

Seu comprimento corporal é de cerca de 60 cm, com peso médio de 4kg. O corpo é coberto por densa pelagem longa, composta por pelos grossos e ondulados, exceto na região da face, onde são mais curtos e finos. A coloração dos pelos varia de tons de marrom-pálido ao marrom amarelado, sendo esta característica mencionada no termo “variegatus” de seu nome científico, que se refere a variegado, ou seja, com cores e tonalidades variadas. Manchas esbranquiçadas estão presentes na parte dorsal próxima aos membros posteriores. Fendas transversais presentes em seus pelos podem alojar algas verdes em seu interior, produzindo uma tonalidade esverdeada no corpo das preguiças e fornecendo uma boa camuflagem. Na face, a presença de pelos mais curtos com tonalidade mais clara contorna uma faixa de pelos escuros ao redor os olhos, criando um aspecto semelhante a uma máscara. O nome popular preguiça-de-garganta-marrom faz referência à coloração acastanhada que esta região do corpo possui ao longo de sua extensão, sendo esta uma característica diferencial em relação à B. tridactylus, que apresenta a garganta de coloração amarela.

Seus membros torácicos são cerca de 1,5 vezes mais longos que os pélvicos. Os dedos terminam em longas garras, que são utilizadas para buscar alimento e auxiliar na locomoção pelas copas das árvores. Apresenta cauda curta com cerca de 5 cm. Sua cabeça pode girar até 270º devido à conformação longa e flexível de seu pescoço, composto por oito ou nove vértebras cervicais.
A presença de dimorfismo sexual (diferenças físicas entre machos e fêmeas) é notada na espécie, pois nos machos observa-se a presença de uma mancha dorsal, formada por uma pelagem curta e escura rodeada por pelos de tonalidade amarelada na região interescapular. Essa mancha pode se apresentar como uma depressão, com pelos escuros e menores ou como uma mancha de pequenas dimensões.

Preguiça comum (Bradypus variegatus). Foto: Francis da Silva Leandro, Cachoeiras de Macacu, RJ

Por estar amplamente distribuída nos territórios onde ocorre, apesar de das ameaças a que estão expostas, especialmente nas áreas de Mata Atlântica, a IUCN (International Union for Conservation of Nature) enquadra seu status de ameaça na categoria menos preocupante (LC). Apesar disso, a espécie consta no apêndice II da CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção). No Brasil é considerada extinta regionalmente no estado do Paraná.

São animais solitários, encontrando-se somente na época da reprodução, com atividade diurna ou noturna e que dormem por até 12h. Para compensar a baixa temperatura corporal e o reduzido metabolismo, costumam se expor ao sol durante o dia. Possuem hábitos arborícolas e raramente descem ao chão, o fazendo geralmente uma a duas vezes por semana para urinar e defecar e quando precisam se deslocar entre árvores distantes, no entanto, se tornam vulneráveis quando descem. São ainda excelentes nadadoras.

 

Sua dieta é herbívora, essencialmente folívora, incluindo ramos, brotos e folhas de variadas plantas. São fontes principais de sua alimentação as plantas pertencentes à família Moraceae, como as figueiras e gameleiras. Possuem estômago grande, dividido em diversas câmaras, no qual a digestão das fibras ingeridas ocorre com o auxílio de bactérias. Possuem dentes molares sem esmalte, com crescimento contínuo e que se desgastam constantemente, adaptados à mastigação de alimentos abrasivos, sendo ausentes os dentes incisivos e caninos.

Por serem animais de locomoção muito lenta, sua estratégia para escapar dos predadores é despistá-los através da camuflagem em meio à vegetação, o que é possível através da baixa mobilidade e da coloração de seus pelos. Seus predadores naturais são as harpias, as onças e algumas serpentes.

Preguiça comum (Bradypus variegatus) se deslocando em estrada de terra. Foto: Francis da Silva Leandro, Cachoeiras de Macacu, RJ

O período reprodutivo varia de acordo com a região geográfica e estação do ano, ocorrendo principalmente na primavera, entre os meses de setembro e novembro, ao fim da estação da seca. A maturidade sexual é alcançada aos seis anos de idade, quando atingem peso e tamanho de adulto. Os machos apresentam os testículos localizados internamente.

Durante a cópula, o macho se coloca sobre a região dorsal da fêmea, sendo possível ouvir-se a vocalização desta. A gestação varia de quatro a seis meses, sendo animais uníparos (originando apenas um filhote por gestação). Os filhotes nascem fortes e alertas, com pelagem e garras completamente desenvolvidas. Observa-se que apenas a fêmea cuida do filhote.

A amamentação dura de três a quatro semanas e já na primeira semana de vida o filhote inicia a ingestão de folhas. Na natureza, o intervalo entre nascimentos em B. variegatus é de 10 a 12 meses e entre gestações é de aproximadamente 19 meses. O filhote permanece junto à sua mãe por cerca de seis meses e após este período a mãe o deixa, partindo para outro território e evitando assim competição.

A preguiça comum possui boa capacidade de suportar significativas alterações no habitat. São importantes ameaças à espécie no Brasil, a degradação e fragmentação dos habitats, seja por desmatamento ou queimadas, assim como os atropelamentos, captura e caça.

A ação antrópica nas áreas de Mata Atlântica torna o ambiente crítico para a sobrevivência das preguiças e a perda de habitat restringe sua população a fragmentos de vegetação localizados nas áreas urbanas. Ainda nestas áreas, o incremento da malha rodoviária e da matriz energética elevam, respectivamente, o risco de atropelamentos e ocorrência de eletrocussão por fios de alta tensão. Os animais vítimas de eletrocussão quando sobreviventes por vezes sofrem perdas nas garras e membros, que impossibilitam seu possível retorno à natureza.

Preguiça comum (Bradypus variegatus) no alto de Embaúba. Trilha do Morro Santo Inácio, Niterói, RJ. Foto Alex de Faria Figueiredo

Embora não pareça ser uma ameaça significativa, na região Amazônica há relatos de caça por comunidades indígenas. Em algumas regiões do Brasil e Colômbia são capturadas para venda ilegal como animal de estimação.

São importantes medidas que podem proteger as populações de preguiças: o incentivo à criação de novas unidades de conservação, para preservar as populações naturais, assim como possibilitar a soltura e reintrodução de animais reabilitados; intensificação da fiscalização; utilização de pontes ecológicas para comunicação entre remanescentes florestais de forma a mitigar os efeitos da fragmentação; projetos de educação ambiental; intensificação e estímulo às pesquisas científicas.

As preguiças são animais que possuem grande importância ecológica no ambiente. Dentre outras ações, contribuem no transporte de espécies plantas durante seu deslocamento, favorecendo assim sua dispersão e semeadura. Portanto, preservar as populações de preguiças é também contribuir para manutenção do equilíbrio ecológico nas áreas onde vivem.

Bibliografia consultada:

REIS, R.N., PERACCHI, A. L. Mamíferos do Brasil. PEDRO, W. A., LIMA, I.P (orgs). Editora UEL, Londrina, 2006. Disponível em: http://www.uel.br/pos/biologicas/pages/arquivos/pdf/Livro-completo-Mamiferos-do-Brasil.pdf. Acesso em 09 de outubro de 2020.

XAVIER, G. A. A., MOURÃO, G. DE M., COSTA, J. F., DE MORAES-BARROS, N. Avaliação do Risco de Extinção de Bradypus variegatus SCHINZ, 1825 no Brasil. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/estado-de-conservacao/7116-mamiferos-bradypus-variegatus-preguica-comum/. Acesso em 09 de outubro de 2020.