Introdução

Cavalos atletas são animais de alta performance e seu sistema respiratório é um dos pilares que mantém esse excelente desempenho. Uma boa ventilação pulmonar garante a esse animal uma boa condição de seus músculos e, consequentemente, uma excelente performance em provas de alta exigência física. Entretanto, doenças respiratórias, comumente associadas à cavalos atletas, podem atenuar a aptidão física e diminuir a execução dessas atividades, gerando grandes impactos na carreira e na saúde desses animais, além de trazer prejuízos econômicos aos seus proprietários. Na maioria das vezes essas doenças são de natureza infecciosa causadas por algum patógeno presente no ar ou em outro animal de seu haras ou local de competição, podendo ocorrer em animais isolados a até em grandes populações de acordo com a gravidade da infecção corrente, do manejo daquele local e da imunidade do cavalo e da sua população. Assim, o treinamento contínuo, associado a uma ótima manutenção do sistema respiratório, constitui uma das estratégias importantes na preparação do cavalo atleta, na busca dos objetivos a que ele se destina.

Dentre as doenças infecciosas respiratórias, a que mais acomete cavalos atletas é a Influenza equina, seguida pela Adenite equina. São doenças que exigem notificação obrigatória ao Serviço Veterinário Oficial do Brasil quando houver qualquer caso suspeito e de notificação mensal de qualquer caso confirmado, respectivamente, de acordo com a Instrução Normativa Nº50 de 24 de setembro de 2013 do Ministério da Agricultura.

Doença infecciosa respiratória 

Doença infecciosa respiratória é uma infecção causada por um patógeno que acomete alguma área do trato respiratório, seja as vias aéreas superiores como a cavidade nasal, faringe e bolsas guturais ou as vias aéreas inferiores, como os pulmões e brônquios. E, nesses casos, são doenças que causam prejuízo à performance do cavalo, visto que o sistema respiratório é um dos pilares para um bom rendimento do cavalo atleta, especialmente em eventos de grande velocidade, e afeta a capacidade do cavalo em efetuar a troca de oxigênio com o músculo. Assim, o funcionamento muscular depende diretamente da capacidade de ventilação pulmonar, o que faz do sistema respiratório um dos pilares da alta performance equina, juntamente com o sistema locomotor e o sistema cardiovascular. Por essa razão, doenças infecciosas respiratórias como a Influenza Equina e a Adenite Equina afetam a homeostase desse pilar essencial à qualquer cavalo atleta e devem ser notificadas, tratadas e controladas de forma eficaz.

Influenza equina

A influenza equina é uma doença respiratória aguda de etiologia viral causada por duas cepas de ortomixovírus: Influenza A/equina 1 (H7N7) e Influenza A/equina 2 (H3N8), cursando com um quadro clínico que pode incluir tosse, febre, apatia, redução do apetite, secreção nasal serosa e queda da performance devido a intolerância ao exercício. Sua transmissão ocorre mediante contato direto dos animais, aerossóis, objetos contaminados e em situações de aglomerações nas competições equestres, como na ocasião do transporte por longas distâncias ou confinados em locais com pouca ventilação. Fato importante, é que o transporte e a aglomeração dos animais em locais escuros ou com baixa insolação e pouco ventilados, favorecem a ocorrência desta enfermidade. A disseminação do vírus pode ser intensificada após o evento equestre, uma vez que a principal via de transmissão é por aerossóis, e a principal porta de entrada é a via respiratória, levando a um grande impacto em relação ao controle da infecção pelo vírus da gripe. Além disso, é uma doença de alto impacto econômico, visto que é altamente contagiosa, podendo afetar a performance dos animais acometidos, levando até mesmo a morte.

A influenza é uma doença de notificação compulsória, sendo de extrema importância no ambiente do esporte equestre. Sua notificação deve ser feita no prazo máximo de 24 horas a partir de qualquer caso suspeito.

Sua profilaxia se dá através da vacinação, do isolamento de animais infectados e das propriedades e a proibição do trânsito dos animais, impedindo sua participação em eventos e corridas.

Adenite equina

A Adenite equina, também chamada de Garrotilho, é uma doença infecciosa do trato respiratório anterior de origem bacteriana causada por Streptococcus equi, subsp. equi, que acomete, principalmente, cavalos de até 5 anos, afetando também cavalos atletas que são transportados frequentemente para as competições devido ao possível contato com cavalos infectados. Essa enfermidade cursa principalmente com linfadenite dos gânglios retrofaríngeos e submandibulares – com formação de abscesso – e uma secreção mucopurulenta das vias aéreas anteriores. Deve-se atentar ao fato do animal ser fonte de infecção por vários meses, mesmo após o desaparecimento dos sinais clínicos, que ocorre após duas semanas da exposição ao agente.

Um fator que o proprietário ou criador deve levar em consideração é que o estresse, o transporte ou o excesso de trabalho aumentam a suscetibilidade dos cavalos atletas de desencadear essas enfermidades com infecção latente, como é o caso da Adenite, por isso o Garrotilho é considerado uma doença de grande importância para o esporte equestre.

O diagnóstico de garrotilho pode ser confirmado por isolamento da bactéria a partir de secreção nasal purulenta ou do conteúdo de abscessos, coletada com auxílio de swab nasal e conservado sob refrigeração até o momento da análise do material. Já o teste de ELISA pode até ser utilizado, mas apenas para diagnóstico indireto.

Os programas de vacinação contra garrotilho não permitem um controle satisfatório em condições de campo, uma vez que menos da metade dos cavalos infectados se tornam imunes. Entretanto, mesmo que a vacinação não induza resistência populacional aceitável, os cavalos imunizados apresentam uma resposta muito mais rápida e com níveis mais altos de anticorpos séricos.

Conclusão

Diante do crescimento da equideocultura brasileira, torna-se evidente a importância do conhecimento das doenças infecciosas do trato respiratório de maior incidência em cavalos atletas, afim de se estabelecerem medidas eficazes de controle e prevenção que atenuem os impactos econômicos gerados por estas. Ainda, além da adoção de medidas profiláticas e de controle, é de extrema relevância a fiscalização e notificação destas enfermidades aos órgãos responsáveis, visando um controle efetivo e a adoção de medidas educativas aos criadores de forma eficaz. Por fim, fica claro a importância de estudos e divulgação dessas doenças infecciosas, potencializando a vacinação, tratamento, medidas profiláticas e prevenção no meio equestre.

Referências

DOENÇAS RESPIRATÓRIAS INFECCIOSAS DE EQÜÍDEOS. [s.l.: s.n., s.d.]. Disponível em: <http://www.tecsa.com.br/assets/pdfs/DOEN%C3%87AS%20RESPIRAT%C3%93RIAS%20INFECCIOSAS%20DE%20EQU%C3%8DDEOS.pdf

REDAÇÃO CAVALUS. Doenças emergentes em Equinos – Cavalus. Cavalus. Disponível em: <https://cavalus.com.br/saude-animal/doencas-emergentes-em-equinos

MORAES, Carina Martins de; VARGAS, Agueda Palmira Castagna de; LEITE, Fábio Pereira Leivas; et al. Adenite equina: sua etiologia, diagnóstico e controle. Ciência Rural, v. 39, n. 6, p. 1944–1952, 2009. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/cr/a/4B99jJXZHXM6gkMdcKkTSHd/?lang=pt#:~:text=A%20adenite%20equina%2C%20tamb%C3%A9m%20conhecida,e%20cinco%20anos%20de%20idade

BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO> INSTRUÇÃO NORMATIVA No 50, DE 24 DE SETEMBRO DE 2013. Disponível em:
https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/arquivos-sisa/Listadedoencasanimaisdenotificaoobrigatoria.pdf/@@download/file/listadedoencasanimaisdenotificaoobrigatoria.pdf

Julia Moreira Bento Rocha é Discente do curso de Medicina Veterinária da UFRRJ
Sob a supervisão do Prof. Clayton Bernardinelli Gitti – Professor do curso de Medicina Veterinária da UFRRJ