Por Adeildo Lopes Cavalcante
O cavalo Árabe, também chamado de puro-sangue Árabe, é uma raça equina originada na Península Arábica. Com um peculiar formato da cauda, o cavalo Árabe é uma das mais facilmente identificáveis raças de cavalo do mundo. O Árabe também é uma das mais antigas raças equinas, com evidências arqueológicas que remontam há cerca de 2.500 A.C. O cavalo Árabe se difundiu pelo mundo mediante a guerra e o comércio, sendo usado para melhorar outras raças, dando-lhes mais velocidade, refinamento, resistência e estrutura óssea.
Atualmente, as linhagens Árabes são encontradas em quase todas as raças modernas de cavalos de montaria. Os cavalos Árabes são particularmente usados em esportes equestres olímpicos, nos quais apresenta desempenho superior se comparado a outras raças.
Importância do deserto
As tribos beduínas do deserto foram as grandes responsáveis pela domesticação e seleção genética das qualidades e da preservação da pureza racial do cavalo Árabe.
Raça Árabe no Brasil
O marco inicial da criação do cavalo Árabe no Brasil se deve ao gaúcho Dr. Guilherme Echenique Filho, que importou da Argentina o garanhão Rasul e sete éguas puras, todos incluídos em um livro de registros aberto às raças bovinas e equinas no Rio Grande do Sul. Em 1929, iniciou sua criação na cidade de Arroio do Sul, denominada Haras Er Rasul, uma homenagem àquele garanhão, que aparece como o cavalo nº 1 no Stud Book brasileiro.
O primeiro puro sangue Árabe brasileiro nasceu em 15 de outubro de 1929. Era uma fêmea, Airé, registrada com o número 8 no livro de registros, filha de Risfan, e que veio no útero de Racbdar, uma das sete matrizes importadas pelo Dr. Echenique do Haras El Aduar, de Don Hernan Ayerza. Foi ela, junto com a égua Nahrawanna, o primeiro animal da raça Árabe no Brasil (e da América do Sul) a ser exportado para os Estados Unidos, vindo a pertencer à famosa criação do General Dickinson, o Travellers Rest Ranch. Sua descendência perdura até hoje naquele país.
Nos dez primeiros anos da criação de cavalos Árabes registrada no Brasil, as Coudelarias Nacionais de Saycan e de Rincão, além da família Echenique, todas sediadas no Rio Grande do Sul, registraram surpreendentes 160 animais. Os 12 primeiros registros da Coudelaria Nacional de Saycan datam de 1931 e, apenas três anos mais tarde seria registrado o animal nº 100, de nome Rascão Saycan, que marcou o início da Coudelaria Nacional de Rincão em São Borja.
Em 1936, foi iniciada a criação de cavalos puro sangue Árabe na Estação Experimental de Criação de São Carlos, Estado de São Paulo, também conhecida como Fazenda Canchim. A propriedade era ligada ao Ministério da Agricultura, que designou o médico veterinário Antônio Teixeira Viana para coordenar trabalhos com “a intenção de criar uma raça exótica de equinos que apresentasse possibilidades de melhoramento da cavalhada nacional”. Para tanto foram importados dez animais, dos quais dois garanhões, um francês (Ayous) e um argentino (Zbââ Kebir), além de sete éguas vindas da Argentina e uma da França.
O Ministério da Agricultura realizou duas importações que tiveram grande impacto na criação brasileira. Em 1939, trouxe dos Estados Unidos o primeiro garanhão de sangue egípcio, Ibn Manial, e, em 1952, veio da Inglaterra o garanhão Indian Crescent.
Em 1955, havia nada mais que 620 cavalos Árabes puros registrados no Brasil, oriundos de somente quatro criações. Nessa época, o Ministério da Agricultura estabeleceu uma nova criação de Árabes na sua estação de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, com animais vindos da fazenda de São Carlos.
Praticamente toda a produção de cavalos era feita com o objetivo de abastecer os regimentos de cavalaria do Exército ou para a regeneração de tropas dos fazendeiros por meio dos postos de remonta, que ofereciam os serviços de seus garanhões sem custos. A Comissão Coordenadora da Criação do Cavalo Nacional (CCCCN) foi criada pelo governo brasileiro em 1956 com o encargo de coordenar as atividades de fomento de equinos no país, incluindo os postos de remonta do exército.
Até a década de 1960, o Ministério da Agricultura, o governo do Rio Grande do Sul e a família Echenique registraram juntos mais de 98% dos cavalos de raça Árabe. Além deles, apenas mais três criadores do Rio Grande Sul e quatro de São Paulo registraram animais.
Fundação da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Árabe
A criação do cavalo Árabe no Brasil entrou numa nova fase quando em finais de 1964, o empresário Dr. Aloysio de Andrade Faria importou três garanhões (dentre os quais o famoso campeão inglês, Blue Magic) e seis éguas da Inglaterra, dos Estados Unidos e da Polônia, marcando o início da sua Fazenda e Haras Fortaleza.
A Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Árabe, fundada no final daquele mesmo ano pelo Dr. Aloysio Faria, em Belo Horizonte, foi reconhecida pelo Ministério da Agricultura pela portaria nº 367, após reunir os registros que já existiam no Rio Grande do Sul e em São Carlos desde 1930, formando assim o Stud Book Brasileiro do Cavalo Árabe.
Contudo, apenas em 1968 todos os registros seriam finalmente coletados e reunidos em um só livro. Nesse mesmo ano, a ABCCA participou pela primeira vez de um evento em caráter oficial: a Exposição Nacional de Equídeos, organizada pela extinta CCCCN, que reunia equinos de todas as raças.
No ano de 1969, a sede da Associação foi transferida para São Paulo, uma vez que o Estado congregava o maior número de criadores do país. Esse ano também marca o início de outra tradicional criação brasileira, a Fazenda Morro Vermelho, de Sebastião Camargo.
Curiosamente, o primeiro livro do Stud Book demorou quase 50 anos para ser publicado. Desde então, já foram catalogados 13 livros (dos quais 10 publicados) que agrupam, até a presente data, aproximadamente 50.000 animais de puro sangue Árabe, além de cruzas e anglo-árabes.
Características da raça Árabe
De acordo com o stud book do cavalo Árabe, em sua última atualização datada de abril de 2019, são características da raça:
– Esqueleto: em comparação com outras raças, possui o crânio relativamente curto, maxilar inferior fino, maior capacidade da caixa craniana, menor número de vértebras, osso pélvico mais horizontal. As calosidades dos membros anteriores são pequenas.
– Cabeça: a parte superior da cabeça é maior em proporção ao volume do corpo do cavalo, especialmente em profundidade na direção das ganachas. Tem uma forma triangular que diminui rapidamente, para uma boca pequena e delicada, os lábios são finos e também delicados. As narinas longas, finas e abertas. A face é ligeiramente conchava abaixo dos olhos. Os olhos bem afastados e grandes estão mais no meio da cabeça dando bastante capacidade para o cérebro acima deles. A capacidade cerebral é ainda aumentada frequentemente por uma pequena protrusão na fronte que se estende até pouco abaixo dos olhos. As ganachas se afastam bastante da garganta permitindo que o animal respire sem dificuldades quando em galope. As orelhas, menores nos machos que nas fêmeas, são atesouradas, bem implantadas e de grande flexibilidade.
– Pescoço: Longo, arqueado, leve, implantado alto e seguindo bem atrás da cernelha. A garganta larga e bem desenvolvida, flexível quando em descanso, bastante destacada do resto da cabeça. A cabeça se liga ao pescoço em um ângulo mais oblíquo do que nas outras raças.
– Membros anteriores: a cernelha é alta e musculosa implantada bem atrás. Paletas longas, profundas, largas e fortes na base, mas leve nas pontas. Braço longo, oblíquo e musculoso. Antebraço largo no cotovelo, longo e musculoso. Joelhos grandes, quadrados e profundos. Canela curta, chata e seca, mostrando tendões fortes, boletos excepcionalmente grandes e bem marcados. Quartelas médias, em declive, muito elásticas e fortes. Cascos fortes, grandes, redondos, largos e baixos na parte de trás. Os membros devem ser paralelos de frente, retos de lado e os pés colocados em direção frontal.
– Corpo: olhando-se de frente ou por trás, as costelas são arqueadas e bem aparentes. Tórax de grande capacidade. Dorso e lombo curtos devido à falta de uma vértebra dorso-lombar e ao ângulo oblíquo do ombro. O corpo longo embaixo, com um abdômen baixo. A medida transversal do tórax (perímetro torácico) é igual ou ligeiramente maior que a vertical, isto é, altura do animal medindo da cernelha ao chão.
– Membros posteriores: a garupa, na mesma altura que a cernelha, larga, longa em proporção e bem horizontal. Cauda de inserção alta, arqueada e levantada quando o animal se movimenta. Quartos longos, musculosos e um pouco estreitos, mostrando velocidade. Jarretes limpos, bem baixos, de grande tamanho e força. Quartelas médias, muito elásticas e fortes. Boleto grande. Cascos fortes, grandes, redondos, largos e baixos na parte de trás. Membros colocados em posição vertical diretamente sob os quartos traseiros e perpendiculares ao corpo.
Crina e cauda: longas e sedosas. Pelo espesso, fino, macio e sedoso.
– Pelagens: castanha, alazã, tordilha e preta, todas elas com as respectivas variações, sendo admitidas também as pelagens baias e suas variações, pampa e pintada, excepcionalmente para os animais cruza Árabe.
– Altura: medida na cernelha, do animal adulto, vai de 1,40 m a 1,58 m, podendo passar para mais ou para menos.
Peso do animal adulto: de 340 a 460 quilos, podendo variar para mais ou para menos.
– Andar: passo e trote. Galope agradável, devido ao comprimento dos membros posteriores e sua elasticidade, também em passo rápido, com o pé posterior avançado bem além do anterior. Desenvolve um bom trote naturalmente.
Valorização do cavalo Árabe
Selecionado para competições equestres (entre elas prova de três tambores, doma clássica e salto) e reprodução, o cavalo Árabe é um dos equinos mais valorizados do Brasil.
Dos leilões que tem participado, ele tem sido comercializado por valores que que variam entre R$ 120 mil a R$ 200 mil. Essas cifras foram fornecidas pela assessoria de imprensa da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Árabe (ABCCA).
É importante ressaltar que o cavalo Árabe é detentor de um diferencial que contribui para a valorização desse animal: devido à sua genética superior (alta capacidade de transmitir características a seus filhos), é muito utilizado para mestiçagem, transmitindo e melhorando características para cavalos de trabalho e esporte.
Haras de Goiás faz sucesso com a criação de cavalo Árabe
A criação de cavalos da raça Árabe vem ganhando destaque em Goiás. O haras Anápolis, localizado a 55 km de Goiânia e que dispõe de 60 animais, é reconhecido como um dos melhores do país na seleção e cria de exemplares daquela raça.
“Esse nosso projeto é rentável, pois possibilita obter ganhos com cruzamento de raças, transferência de embriões e comercialização de sêmen”, diz o proprietário do haras, José Francisco dos Santos, que atua no criatório e lida com a raça Árabe há 28 anos.
“Do trabalho no campo passei a ser treinador do cavalo Árabe. Hoje o meu trabalho é um hobby, porque tenho muito prazer em treinar e cuidar deles. A gente passa a conhecer o cavalo só no olhar; um entende a linguagem do outro”, explica o titular do haras Anápolis.
De acordo com José Francisco, criadores de outras raças usam o Árabe em cruzamentos para melhorar a resistência e genética de animais, como o quarto de milha, o manga-larga paulista e o manga-larga marchador.
“Cruzamos o Árabe com o quarto de milha e deu certo: surgiu a raça híbrida, chamada Árabe Milha. Foi testada nas provas de tambor e baliza e já foi campeã brasileira, com 18 anos de idade”, diz.