Após surgirem na segunda metade do século XX, os antimicrobianos se tornaram uma potente ferramenta para o desenvolvimento humano. Desde a sua descoberta até os dias atuais, eles percorreram um longo caminho e se tornaram indispensáveis em várias áreas, até chegar à área veterinária e à produção animal, encontrando-se nos vários setores produtivos do agronegócio e, principalmente, na bovinocultura.

O “bum” sofrido desde a era de ouro dos antimicrobianos até os dias de hoje, apresentou uma crescente no seu comércio, com mais de 15% no aumento de vendas. Entre os principais fatores que elevam e auxiliam este mercado, destaca-se o surgimento de micro-organismos resistentes. Devido ao seu mau uso, levou à pressão de seleção dos mais adaptados ao estresse que sofrem com esses tratamentos ineficazes ou abandonados, sem a sua conclusão de fato. As causas mais importantes são o uso indevido, como interrupção do tratamento antes do prescrito e até pelo uso excessivo de antibióticos na linha de produção.

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Como já citados, estes fármacos que possuem ação contra bactérias têm sido usados indiscriminadamente como forma geral de tratamento. Ressaltam-se os tratamentos sem prescrição médica e/ou médico veterinário, ou seja, sem um diagnóstico que auxilie em indicar qual antimicrobiano deve ser empregado no tratamento de doenças infecciosas.

Há um grande debate sobre o emprego desta classe de fármacos no campo. Destaca-se que o seu uso preventivo e terapêutico, quando acompanhado por um médico veterinário, não é só eficaz como necessário, para proporcionar o bem-estar dos animais e preservar seus direitos e as cinco liberdades. Garante-se, assim, a geração de produtos nutritivos e de boa qualidade ao consumidor, ainda mais quando falamos do baixo custo destes medicamentos no tratamento dos animais. Tais tratamentos, quando não bem realizados e em conjunto com a metafilaxia e o uso de melhorador de desempenho ou promotor de crescimento, acaba por colocar em risco a saúde do rebanho, do produtor e dos consumidores pelo aparecimento de bactérias mais fortes e resistentes, conhecidas como “superbactérias”. Isso pode ser potencializado quando não se respeita o tempo de carência dos antimicrobianos, levando a deixar resíduos ativos nos produtos finais comercializados.

Desse modo, favorece a ocorrência da escassez no espectro de tratamento para os animais doentes. Isso pode gerar uma elevação na mortalidade dos animais, bem como o aumento nos gastos produtivos da propriedade, não só pela necessidade de repor animais, mas pelo gasto nos valores dos medicamentos mais caros e efetivos. Como consequência, acaba afetando o preço final de forma a elevar o custo dos alimentos, uma vez que as bactérias presentes já serão resistentes aos antimicrobianos acessíveis, impactando economicamente o produtor.

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Pela proximidade dos animais com os seres humanos, uma das grandes preocupações passou a ser a transmissão desses patógenos resistentes. O que ocorre pelo consumo de alimentos contendo estas superbactérias e/ou com resíduos de antibióticos presentes nas mesmas, ou pelo contato dos animais e suas excretas com o meio ambiente e com os trabalhadores rurais. Muitos são os antimicrobianos de uso humano e veterinário com resistência já descoberta. Podemos destacar o ciprofloxacino e a eritromicina, além das tetraciclinas e a penicilina, onde esta última já tem algumas novas gerações com moléculas associadas buscando combater a resistência microbiológica dos patógenos frente a este fármaco. Tal fato o torna um problema de saúde pública cuja abordagem coordenada e extensiva passou a ser necessária.

Dentre os locais com maior foco de ocorrência, podemos destacar os países em desenvolvimento como a China e a Índia e também o sul do Brasil, leste da Turquia, cidade do México e Joanesburgo. Outro ponto crítico é a carência de dados devido à falta de vigilância na América do Sul, principalmente em países que são os principais exportadores de carne, como o Brasil.

Assim sendo, estes fatos nos levam a buscar formas alternativas no campo para o uso destes produtos como melhoradores de desempenho, bem como a conscientização do seu uso na linha de produção. Estes, associados à uma intensificação na vigilância e coleta de dados, permitiria uma melhor elaboração de plano para o controle deste problema. Ressalta-se que a conscientização sobre o uso correto destes medicamentos é uma das melhores formas de termos um produto melhor, de forma a minimizar os gastos, bem como zelar pela saúde de todos. Vale destacar que o uso como promotor de crescimento ou melhorador de desempenho, vem gradualmente caindo em desuso nesta categoria e lançando mão de outros compostos que possam ser empregados no sistema produtivo, principalmente os produtos naturais.

Referências

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ALVIM, M. Por que uso de antibióticos na agropecuária preocupa médicos e cientistas. BBC Brasil. Disponível em: <hhttps://www.bbc.com/portuguese/geral-50119820>

Autores:

Luis Felype Garcia de Sousa Caldas: Discente – IFAM – Instituto Federal do Amazonas; Liga de Bovinocultura da UFRRJ
Giovana Machado Esposito: Discente – UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; Liga de Bovinocultura da UFRRJ
Clayton Bernardinelli Gitti: Docente – UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; Liga de Bovinocultura da UFRRJ
Foto de capa: Wikimedia Commons – Bactéria