Tuiuiú sobrevoando o bioma Pantanal, MS. Foto: Sávio Freire Bruno, 2018.

DISTRIBUIÇÃO

A ave pode ser encontrada desde o México até o Norte da Argentina. Está presente em todas as regiões do país, mas se limitando a apenas alguns estados de cada região. Essa grande cegonha pode ser vista principalmente nas planícies pantaneiras.

Tuiuiú repousando em leito de rio, MS. Foto: Sávio Freire Bruno, 2018.

CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS

O Tuiuiú é uma ave migratória, ela pode medir até 1,40 m de altura, ter 3 m de envergadura e pode pesar cerca de 8 kg. Com isso, é classificada como a maior ave da planície inundável do mundo com capacidade de voar, mesmo que possua certa dificuldade para decolar. Além disso, a espécie tem plumagem branca na fase adulta. Possui o papo vermelho característico e o pescoço preto, sendo ambos nus. Essas qualidades caracterizam a ave como a cegonha tricolor. Seu bico, de cor preta, é grosso e afilado na ponta, podendo medir até 30 cm de comprimento. O dimorfismo sexual é bem evidente, sendo a fêmea 20% a 25% menor que o macho.

Tuiuiú (Jabiru mycteria) aterrissando no Pantanal, MS. Foto: Sávio Freire Bruno, 2018.

HÁBITAT

O Tuiuiú gosta de áreas úmidas como pântanos de água doce e planícies alagadas. No Pantanal, durante a época da seca, o Tuiuiú pode ser observado em águas rasas e sem vegetação, mas em épocas chuvosas encontra-se nas águas mais fundas e planícies alagadas.

DIETA

A ave é carnívora e se alimenta principalmente de peixes, répteis, insetos e alguns pequenos anfíbios. Ocasionalmente, pode se alimentar de pequenos mamíferos. Ela caminha ao longo das margens de um rio ou de outros corpos hídricos em busca de alimento. Graças a suas pernas avantajadas, possui grande mobilidade em regiões alagadas, tornando-se um exímio pescador.

Junto a isso, seu bico comprido permite que identifique o seu alimento de forma tátil e o capture com relativa destreza. Ao capturar algo, o Tuiuiú bate com a presa sobre uma superfície rígida para atordoar ou matar antes de engoli-la. Ele pode ser observado se alimentando em pares, ou até em bandos.

Durante o período de reprodução, que corresponde à época de baixa dos rios no pantanal, é possível observá-lo caminhando pelas margens secas. Esse comportamento permite encontrar alimentos com mais facilidade para sua cria, tais como moluscos e peixes, que morrem por asfixia.

HÁBITOS REPRODUTIVOS

Próximo ao período de baixa do pantanal, entre os meses de junho e setembro, é dado início aos rituais de acasalamento, a pele vermelha fica com cor mais intensa, devido à irrigação sanguínea, e os pássaros começam a formar pares através de rituais complexos. Os Tuiuiús, assim como outros representantes da sua família, são monogâmicos e permanecem com a mesma parceira para o resto da vida.

A nidificação ocorre com gravetos sobre árvores altas ou sobre frondes de palmeiras isoladas. Eventualmente a construção de ninhos ocorre em maio, podendo ser relacionada ao nível da água nesse período. O ninho do Tuiuiú pode ser reutilizado anualmente e ampliado pelo casal. Por esse motivo a ave necessita de um ambiente bem preservado para sua reprodução e fixação. No ninho são colocados de 2 a 5 ovos brancos.

Os filhotes nascem em épocas de seca, o que facilita a busca dos pais por alimento, ao encontrar peixes que morrem por falta de oxigênio nesses períodos. O casal reveza o cuidado entre si, levando água e comida para o ninho. Após cerca de três meses, os filhotes se tornam independentes.

 

Tuiuiú (Jabiru mycteria) em casal, MS. Foto: Sávio Freire Bruno, 2018.

CONSERVAÇÃO E AMEAÇAS

O estado de conservação do Tuiuiú se encontra como pouco preocupante segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (UICN). No entanto, a ave pode ser facilmente prejudicada com alterações em seu ambiente. A situação se agrava em regiões onde ocorre a nidificação, tendo em vista que o local tende a ser reutilizado em anos subsequentes.

As principais ameaças à espécie são a degradação do seu hábitat por conta da expansão agrícola; junto a isso, a transmissão de doenças por animais domésticos pode pôr em risco as populações da ave.

Logo, o monitoramento do estado de conservação, e trabalhos que visam reduzir o impacto nessa espécie, são essenciais para a sua preservação.

O Tuiuiú é de extrema representatividade, por esse motivo foi definido como símbolo do Pantanal, segundo a Lei 5950/1992.

 

REFERÊNCIAS

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Sávio Freire Bruno: Professor Titular do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense; Professor Colaborador do Curso de Ciências Biológicas e do Curso de Ciência Ambiental (UFF)
Eric Vinicius Rezende Bispo: Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal Fluminense
Revisão de texto: Clarice Villac