Segundo o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), o Brasil possui o maior rebanho comercial de bovinos do mundo, com 222 milhões de animais. Além de ser o maior exportador, é um dos maiores produtores e consumidores de carne.

O crescimento do setor é constante, para atender as exigências do mercado, gerando produtos de qualidade e em quantidade. Nesse cenário, o tema “bem estar animal” vem ganhando visibilidade nos últimos anos e assim faz com que países importadores exijam melhores condições de produção e abate. Aliado a isso, os consumidores brasileiros estão passando a buscar mais informações a respeito da origem do produto que estão consumindo. . O crescimento do mercado da carne bovina está associado à grande competitividade do setor de produção, sendo a qualidade um fator essencial. Estão associadas qualidades organolépticas e físicas (embalagem, acondicionamento e higiene); além de estar associada a palatabilidade, aparência, nutrição, saúde e segurança do alimento.

A cor é a característica qualitativa mais importante na hora da compra, a não ser que outros fatores, como odor, estejam intensamente alterados. Carnes escuras são associadas a animais velhos pelo consumidor. A cor da carne reflete a quantidade e estado químico da mioglobina. Essa característica pode ser afetada pelo tipo de músculo, sexo, idade, espécie, raça e também pela nutrição e manejo pré-abate. O pH final do músculo interage com o ponto isoelétrico das proteínas miofibrilares influenciando seu estado físico e a reflexão da luz da superfície muscular em bovinos, ou seja, na cor da carne. Quando os animais passam por um alto nível de estresse, seja no transporte, pelo manejo ou muitas horas em jejum, a reserva de glicogênio muscular é utilizada e o rigor mortis é estabelecido de forma antecipada, resultando na pouca produção de ácido lático, que é responsável pela queda do pH, interferindo diretamente na cor. O consumo de glicogênio muscular vai afetar também diretamente na maciez da carne e consequente queda da qualidade. Surge então o termo D.F.D. (dark, firm and dry), no português, carne escura, dura e seca.

O modal mais utilizado para o transporte de bovinos é o rodoviário e seu uso inadequado é capaz de propiciar contusões, hematomas, perdas no couro, perda de peso, estresse e até mesmo a morte dos animais trazendo muitos prejuízos aos produtores. Carrocerias com ponta de madeira, ripas, pregos ou parafusos expostos, rampa com inclinação imprópria para transporte e má ventilação são fatores a serem checados e corrigidos antes da viagem. A locomoção desses animais deve ser realizada em períodos mais frescos do dia.

Quando os animais chegam no frigorífico/matadouro precisam ficar em descanso, jejum e dieta hídrica nas baias por em média 24 horas. O descanso tem como intenção essencial reduzir o contento gástrico para melhorar a evisceração da carcaça e para recompor o acúmulo de glicogênio muscular. Caso os bovinos sejam abatidos cansados, o produto final resultará em uma carne mais escura, rígida e seca. O manejo do gado até a sala de abate deve ser feito com calma, sem aglomerações e sem causar estresse nos animais.

A etapa seguinte é a insensibilização ou atordoamento. A insensibilização deixará os animais inconscientes até a etapa de sangria. Com o atordoamento o animal não sentirá nenhum tipo de dor ou incômodo, sendo assim fundamental para um abate que visa o bem estar animal e o reconhecimento deste pelo consumidor final. Em solos brasileiros, a insensibilização é obrigatória por lei. O método mais utilizado pelos brasileiros é o uso da pistola de dardo cativo com penetração ou sem.

Na etapa de sangria faz-se incisões grandes nos vasos principais do coração do bovino, acarretando morte por choque hipovolêmico. Com a finalidade de alcançar uma carne com elevados teores de qualidade, é oportuno que no decorrer da sangria seja eliminada o máximo possível de sangue. Em animais sem uma sangria eficiente, acarretarána obtenção de uma carne com sabor desagradável, escura e com maior probabilidade de ocorrência de microrganismos patogênicos.

Para que haja a preconização do bem estar animal e sua implantação em todos os elos da cadeia produtiva, é necessário que em todos os setores os funcionários sejam capacitados e treinados para desenvolver as suas funções com mais eficiência, contribuindo assim para a diminuição do sofrimento animal e seu reconhecimento pelos consumidores finais culminando em uma carne mais nutritiva, de boa aparência e mais bem paga. É válido ressaltar que o bem estar animal oferece benefícios não só para o animal, mas para o produtor que ganha com o valor agregado a uma carne de melhor qualidade e aparência, e com o reconhecimento dos compradores.

 

Referências:

SILVA, T. H. V. da; YADA, M. M. ABATE HUMANITÁRIO NA BOVINOCULTURA DE CORTE. Revista Interface Tecnológica, [S. l.], v. 15, n. 2, p. 392-403, 2018. DOI: 10.31510/infa.v15i2.480. Disponível em: https://revista.fatectq.edu.br/index.php/interfacetecnologica/article/view/480. Acesso em: 5 de abril de 2021.

MOREIRA, Sheilla et al. Carne bovina: Percepções do consumidor frente ao bem estar animal – Revisão de literatura. REDVET. Revista Electrónica de Veterinaria, vol. 18, núm. 5, paginas 1-17. Maio. 2017.