A manipueira é o líquido de aspecto leitoso e cor amarela que escorre das raízes da mandioca (Manihot esculenta Crantz) quando prensadas para obtenção da farinha de mandioca e é cultivada em todos os estados brasileiros, sendo o Nordeste a principal região  produtora com 35% do total. O despejo da Manipueira nos rios e açudes polui as águas, causando intoxicação nas pessoas, além da morte dos peixes e de outros animais.  Ao mesmo tempo em que a manipueira é um potente agente poluidor, ela é também uma oportunidade devido ao seu diverso aproveitamento. Esse subproduto líquido da mandioca, disponível gratuitamente em agroindústrias de processamento de mandioca, e abundantemente desperdiçado, pode tornar-se importante insumo para a agricultura (adubo de solo e foliar, inseticida e fungicida natural) e para a pecuária (alimentação animal e carrapaticida).

A sazonalidade na oferta de produção de forragem e o elevado custo de alimentos concentrados convencionais tornam reduzidas as opções de ingredientes para nutrição de ruminantes a baixo custo. Pesquisas em todo país têm sido realizadas em busca de resíduos e subprodutos da agroindústria, em substituição ao milho e à soja.

A maioria das casas de farinha têm reservatórios para estocagem da manipueira. Quando estocada tem um poder de decantação alto. Quando ocorrida a decantação observa-se no fundo do reservatório a presença de uma massa pastosa e de cheiro adocicado, composta de massa ralada e de resíduos de farinha crua e de varredura, a qual se denomina de borra de manipueira. Estima-se que um terço da manipueira é composto de borra de manipueira. A borra de manipueira apresenta aproximadamente 39% de matéria seca e 8% de proteína bruta (dados não publicados). Rica em açúcares e amido, a borra de manipueira pode ser considerada um subproduto, com potencial para utilização na alimentação animal. Esse subproduto ainda não foi suficientemente estudado quanto à sua composição, valor nutritivo e níveis de utilização na produção animal.

Alguns cultivares de mandioca apresentam toxidez, devido à presença de glicosídeos cianogênicos, que quando sofrem hidrólise se transformam em ácido cianídrico, intoxicando o animal. Esses cultivares são conhecidos como mandioca amarga ou mandioca brava. A eliminação destes princípios tóxicos pode ser obtida com a desidratação da planta (folha e raízes). Ao ser exposta ao sol ocorre hidrólise dos glicosídeos cianogênicos e o ácido cianídrico evapora. O fornecimento da mandioca reflete em maiores valores de digestão ruminal, degradabilidade ruminal e digestibilidade no trato gastrointestinal em relação aos grãos de cereais, especialmente o milho.

A borra de manipueira em substituição ao milho não limita o consumo de nutrientes, otimiza a digestão de matéria seca e nutrientes mantendo os padrões para produção de cordeiros com qualidade.

Quanto à nutrição, foram encontrados valores de 6,72% de matéria seca, 1,03% de proteína bruta, 2,47% de matéria mineral, 0,3% de extrato etéreo e 0,17% de FDA (Fibra em detergente neutro). No entanto, a manipueira apresenta variações nutricionais na sua composição devido a qualidade da mandioca, seus cultivares e seu processamento pelas casas de farinha.

A manipueira a ser administrada na nutrição animal deve ser deixada para descansar em um tanque para que se tenha uma fermentação anaeróbica, com tela para impedir a ingestão pelos animais, e em área sombreada, até que ocorra a volatilização do ácido cianídrico, por um período de 6 dias, para que se tenha a redução de cianeto e ácido cianídrico. Uma fase de adaptação da alimentação animal deve ser feita, onde se administra a eles uma quantidade mínima de manipueira, por no mínimo 3 dias, onde os animais que se adaptarem estarão aptos ao consumo diário do insumo.

Sua administração pode ser feita tanto de forma individual, quanto na elaboração de rações completas misturando-a a outros alimentos, como, milho e feno, dentre outras possibilidades nutricionais. Devido a sua composição líquida, a manipueira ainda diminui o consumo de água dos animais, esta diminuição varia de acordo com a forma de administração da mesma.

A utilização deste subproduto da mandioca na nutrição de ruminantes é uma excelente forma de fortalecimento da agricultura familiar, bem como de alternativa para locais com pouca disponibilidade de alimentos para estes animais pela estiagem. Além de ser uma alternativa para a diminuição do custo de produção, se tornando uma alternativa aos alimentos tradicionais da alimentação animal e ainda auxiliando na conservação ambiental, diminuindo os níveis de contaminação do meio por este subproduto da mandioca.

 

REFERÊNCIAS:

VASCONCELOS, Gustavo Araújo de. Borra de manipueira em substituição ao milho na dieta de cordeiros. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal Rural de Pernambuco. RECIFE – PE, OUTUBRO – 2013

Souza, Andresa Cristina de; Cardoso, Daniel Barros; Véras, Robson Magno Liberal; Morais, Nadja Nara Gomes de; Leite, Paulo Márcio Barbosa de Arruda; Nascimento, Flávio Henrique do; Vasconcelos, Gustavo Araújo de. MANIPUEIRA: UMA ALTERNATIVA PARA O PEQUENO PRODUTOR DO AGRESTE PERNAMBUCANO. XI JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2011 – UFRPE: Recife, 17 a 21 de outubro.

NETO, José Adelson Santana. Uso da Manipueira como suplemento na dieta para cordeiros Santa Inês. Dissertação (Mestre em Zootecnia) – Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão – SE. 2013

 

Equipe da Liga de Bovinos da UFRRJ

Raquel Rangel Teles Nunes  – Discente da UFRRJ

Luis Felype Garcia de Sousa Caldas – Discente do IFAM

Clayton Bernardinelli Gitti e Ana Paula Lopes Marques – Docentes da UFRRJ