Dignas de admiração pela notável beleza, as araras-azuis são consideradas aves símbolo do Brasil. Atualmente, existem no país três espécies viventes das denominadas araras-azuis: a Arara-azul- grande ou simplesmente Arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus), Arara-azul-de- lear (Anodorhynchus leari) e a Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) encontrada somente em cativeiro. A Arara-azul- de-lear e a Ararinha-azul são consideradas endêmicas, ou seja, de ocorrência restrita ao Brasil.

A Arara-azul é a maior dentre as espécies de araras, possuindo até 1m de comprimento quando medida da ponta do bico a ponta da cauda e 1,20m de envergadura. A espécie é também a maior dentre os membros da Família Psittacidae, que além das araras, inclui os papagaios, periquitos e maritacas.

O termo “hyacinthinus” presente no seu nome cientí co representa uma referência à sua coloração característica, um belíssimo tom de azul cobalto. Regiões de coloração amarela estão presentes nas áreas nuas da região orbital (ao redor dos olhos) e na base do seu bico, que é negro, grande, curvo e potente o suficiente para quebrar as sementes duras que se alimenta. Seu peso corporal pode atingir até 1,3kg nos indivíduos adultos e seu corpo termina em uma longa cauda.

No fim do ano de 2014, a Arara-azul foi uma das 170 espécies da fauna brasileira a deixar a lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), este fato está associado ao sucesso dos programas de conservação e a inclusão da espécie nos Planos de Ação para conservação das aves do Cerrado e para Conservação da Fauna do Xingu, que colaboraram para o combate ao tráfico de animais. Segundo a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), a espécie ainda é classificada como vulnerável à extinção, devido ao rápido declínio populacional ocasionado pela perda de hábitat e comércio ilegal.

Ocorrência

A Arara-azul ocorre em três países: Brasil, Paraguai e Bolívia. Estudos sobre variabilidade genética, revelam que no Brasil existem diferentes populações de araras-azuis, que se encontram distribuídas pelos biomas Amazônia, Pantanal e Cerrado.

Em tempos passados, sua distribuição era comum em grande parte do Brasil, porém, nos dias atuais, é encontrada no Pantanal brasileiro, boliviano e paraguaio e nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Amazonas, Pará e na Região dos Gerais (que inclui os estados do Maranhão, Bahia, Piauí, Tocantins e Goiás).

A maior população localiza-se no Pantanal, onde, desde 1990, tem mostrado sinais de recuperação, provavelmente em resposta aos programas de conservação implantados. Nesta região ocupa áreas abertas, incluindo áreas de pasto e áreas de matas que possuam palmeiras. Na Amazônia, são encontradas em áreas de várzea, em regiões abertas próximas aos rios, matas secas, oresta de galeria e borda da floresta tropical úmida. Na região das Gerais, ocorrem no cerrado, veredas, áreas de pasto e associadas a platrôs e paredões rochosos.

Curiosos e simpáticos

São animais curiosos, simpáticos e sociais, vivendo em bandos ou grupos, sendo consideradas aves muito inteligentes. A alimentação é realizada em grupos, ocorrendo preferencialmente no início da manhã e ao m da tarde. O tipo de bico que possui possibilita uma dieta especializada em frutos de palmeiras endêmicas, encontradas nas regiões onde vivem, como a bocaiúva e acuri (Pantanal), inajá, babaçu e tucumã (Pará) e piaçava e catolé (Regiões secas). Em razão da disponibilidade destes frutos, podem realizar migrações.

Alimentação

De acordo com observações dos pesquisadores, podem se alimentar no chão, ingerindo frutos em que a polpa tenha sido removida pelo gado, ou se alimentar dos cachos, quando ocorre o período de frutificação das palmeiras. Possuem importância ecológica na dispersão das sementes destas palmeiras.

Durante o período reprodutivo, a Arara-azul é fiel, constituindo casais que duram por toda sua vida, alimentando-se e voando juntos e o macho ajudando sua parceria a cuidar da prole. Os ninhos naturais são feitos em Manduvis (Sterculia apetala), esta árvore é uma espécie chave na conservação das araras-azuis. Devido à descaracterização do ambiente, os Manduvis com cavidades naturais de tamanho suficiente para a reprodução das araras tem se tornado cada vez mais escassos. Tendo em vista essa problemática, o Projeto Arara-azul desenvolveu e instalou a partir de 1995, ninhos artificiais, garantindo assim um maior sucesso na reprodução.

Fidelidade

Os casais de araras passam a maior parte do tempo juntos, tendo seu maior pico reprodutivo entre os meses de setembro a outubro e os cuidados com os filhotes podem se prolongar até janeiro ou fevereiro do ano seguinte. A fêmea possui a capacidade de colocar de 1 a 3 ovos em dias diferentes e permanece no ninho chocando e o macho saindo para lhe arranjar alimentos. Os ovos são incubados em média por 30 dias e possuem elevada taxa de eclosão, considerando perdas por predação de carcarás, quatis, gralhas e gambás.

Ao nascer, os filhotes ganham peso rapidamente devido a eficaz alimentação fornecida pelos pais. Aos 3 meses os filhotes adquirem a capacidade de voo, não voltando para o ninho e ficando nas proximidades. A partir daí, com 9 meses de vida, os lhotes já se tornam mais independentes e já procuram alimentos sozinhos e permitem que os pais possam acasalar novamente. As aves jovens já voam em bandos aos

18 meses e após 7 a 9 anos já estão aptas a formarem casais e se reproduzirem.

Preservação

A preservação e a proteção da Arara-azul vêm sendo realizada com sucesso nos últimos anos devido à ação conjunta de pesquisadores e apreciadores da espécie, reduzindo assim os riscos de extinção. Porém, a espécie ainda enfrenta algumas ameaças que a tornam uma espécie vulnerável, como a captura e o aprisionamento ilegal de ovos, adultos e filhotes, que desde a década de 80 têm abastecido o comércio interno de aves, impulsionado pelo tráfico de araras.

A perda de seu hábitat natural em consequência da implantação de regiões de agricultura e colonização, derrubada de árvores, desmatamento e queimadas, modificam a paisagem natural e interferem diretamente em seu ciclo de vida. Outra atividade que prejudica a sobrevivência da espécie é a caça e a coleta de penas visando o artesanato indígena, fato este que é permitido apenas em rituais pertencentes a tribos e realizados em cerimônias. Outros fatores também podem contribuir para o seu desaparecimento como redução de populações e pequena taxa reprodutiva.

Criado em 2003, o Comitê para conservação e manejo da Arara-azul é uma parte integradora do IBAMA que estabelece o manejo da ave na natureza e em cativeiro e recebe auxílio de pesquisadores e instituições que de alguma forma estudam a espécie e sua relação com o seu hábitat. A finalidade principal deste Comitê é fornecer dados estratégicos para contribuir com a conservação da Arara-azul, mediante reprodução controlada em cativeiro e acompanhamento na natureza, proporcionando o crescimento populacional da espécie.

O Projeto Arara-Azul é uma organização não governamental que estuda a espécie e sua relação ecológica com seu hábitat natural, promovendo através de ações educativas a preservação da espécie na região do Pantanal.

Embora as notícias sejam boas e a perspectiva seja de aumento populacional, o acompanhamento da espécie deve ser constante, já que a mesma ainda permanece na lista de animais vulneráveis e os esforços para sua manutenção na natureza devem permanecer.

Fotos: Guilherme Raeder Ramos