Fundamentos de Ambiência em Avicultura

Nas últimas décadas, os envolvidos com a avicultura no Brasil passaram a se preocupar com o ambiente de produção e sua significativa importância para o desempenho produtivo. As instalações avícolas estão cada vez mais padronizadas e tecnificadas, para que as condições ambientais ideais para as aves no interior das mesmas sejam obtidas e mantidas.

Interior de galpão de frangos de corte com ventilação por pressão negativa e fechamento lateral com cortinas azuis.

As perdas produtivas na avicultura, de corte ou de postura, são causadas principalmente por ondas de calor e altas temperaturas durante o ano, ocorrência típica de climas quentes e úmidos. A susceptibilidade das aves ao estresse calórico aumenta à medida que a umidade relativa e a temperatura ambiente ultrapassam valores que definem a zona de conforto térmico, dificultando a troca de calor das aves.

De acordo com as bases do estudo sobre conforto térmico, o balanço térmico do animal deve ser nulo, ou seja, a produção de calor do organismo somado ao calor ganho do ambiente deve ser igual ao calor dissipado. Caso contrário, o animal tem que se defender utilizando mecanismos de termorregulação.

Vista externa de galpão de frangos de corte, com exaustores em uma das extremidades e fechamento com cortinas nas laterais.

Animais homeotermos, que é o caso das aves, dispõem de um centro termorregulador, localizado no hipotálamo, capaz de controlar e manter a temperatura corporal por meio de mecanismos fisiológicos e respostas comportamentais, mediante o ganho e/ou produção e liberação de calor. Em experimentos realizados para avaliar o comportamento de poedeiras verificou-se que em ambientes caracterizados como de estresse térmico as aves não apresentaram os comportamentos característicos de conforto como, tomar banho de areia, bater e esticar as asas e chacoalhar as penas. Porém, os autores relataram o aumento de frequência nos comportamentos de beber água, sentar e ficar parada. Quanto mais elevada foi a temperatura do ambiente, menor foi a atividade física das aves.

Entre as respostas fisiológicas compensatórias das aves, quando expostas ao calor, inclui-se a vasodilatação periférica, resultando em aumento na perda de calor não evaporativo. Assim, na tentativa de aumentar a dissipação do calor, a ave consegue aumentar a área superficial, mantendo as asas afastadas do corpo, eriçando as penas e intensificando a circulação periférica. A perda de calor não evaporativo pode também ocorrer com o aumento da produção de urina. Temperaturas ambientais acima daquelas preconizadas como limites da zona de conforto também podem ser letais para aves na fase inicial de vida, nas quais a perda de água pode gerar desidratação e ocasionar inclusive a morte.

Imagem termográfica de franga exposta a ambiente de estresse calórico.

A principal consequência do estresse térmico na produtividade animal está relacionada com a ingestão de alimento. Animais estressados por calor reduzem a ingestão (associada à queda na circulação de hormônios tireoidianos) o que consequentemente leva à perda de peso e aumento da conversão alimentar, frequente em frangos de corte.  Em relação a galinhas de postura, pode ocorrer redução da produção de ovos e perda na qualidade, com produção de ovos mais leves, com casca mais fina ou até mesmo sem casca.

Outra resposta fisiológica é o aumento na taxa respiratória, que pode levar a uma alteração do equilíbrio ácido-base denominada de alcalose respiratória, sendo esta a consequência mais grave do aumento da temperatura ambiente, e que pode resultar em aumento da taxa de mortalidade de frangos de corte. Sendo assim, tanto na produção de frangos de corte, quando na produção de ovos, a manutenção das aves em estresse térmico resulta em queda na produtividade e perdas econômicas.

Controle do microambiente em aviários

Para evitar o estresse térmico de frangos de corte, diversos mecanismos de controle são aplicados aos aviários no Brasil. De acordo com o tipo de controle ambiental aplicado podem ser classificados os seguintes sistemas: Convencional, caracterizado por condicionamento térmico natural, ou seja, os galpões têm apenas cortinas nas laterais e aberturas no topo das coberturas, por meio das quais são definidos os perfis de fluxo de ar no interior, com base em ajustes feitos nas áreas de entrada e saída de ar e, dessa forma, se atinge o controle térmico adequado no ambiente interno; Semi-climatizado, caracterizado por utilização de ventiladores em pressão positiva que definem os perfis de movimentação do ar e alteram condições de umidade e temperatura do ar no ambiente interno, podendo o galpão ter ou não forro; Climatizado, no qual o controle das condições térmicas é maior que os anteriores devido ao uso de ventiladores em pressão positiva ou exaustores em pressão negativa, para controle do fluxo de ar, sendo este conjugado a um sistema de resfriamento que pode ser por nebulização ou “pad cooling” (placas de resfriamento adiabático evaporativo).

Interior de aviário de galinhas de postura com gaiolas em arranjo piramidal, ventilação natural e coleta de ovos e distribuição de ração manuais.

Na última década têm sido adotados no Brasil diferentes tipos de aviários, em função dos processos aplicados para melhoria do conforto térmico e bem-estar das aves.  O modelo Dark house é caracterizado pela aplicação de exaustores em pressão negativa, sistema de resfriamento por nebulização ou “pad cooling”, para controle da ventilação, associados ao intenso controle da iluminação no aviário por meio de light-trap nas entrada e nas saídas do ar, além de cortinas e forros escuros. As intensidades são controladas de acordo com as idades das aves. O Sistema Brown house assemelha-se ao anterior tendo como diferença maior passagem de luz natural nos pontos de entrada e saída do ar. No Blue House e no Green House é utilizada a teoria da influência das cores, sendo azul e verde respectivamente, as que resultam em maior produtividade das aves. Pode-se assim, fazer o controle da intensidade da luz por meio de dimmers e da cor da luz por meio das cortinas e forros. Nesses, o sistema de resfriamento pode ser por nebulização ou pad cooling, exaustores em pressão negativa e controle de luz natural por meio de light-trap na entrada e saída do ar. Por fim, pode-se mencionar os aviários gigantes, que são construções, ditas agroindustriais, consideradas de grande porte, ou seja, estruturas de 150 m de comprimento, podendo alcançar 155 m, por 30 a 32 m de largura. O sistema de ventilação aplicado, nesses tipos de galpão é por pressão negativa, para o qual o controle rigoroso é fundamental para se obter bons resultados produtivos.

Vistas interna e externa de aviário de galinhas de postura com sistema de ventilação cruzada [exaustores na lateral e entradas de ar (inlets) no teto], sistema manual de coleta de ovos e automatizado para distribuição de ração.

No que se refere à avicultura de postura brasileira, pode-se afirmar que é conduzida predominantemente em galpões abertos com sistema piramidal de gaiolas. Porém, nas últimas décadas o cenário da avicultura de postura está se modernizando e tendendo à implementação de tecnologias aplicadas desde o processo de distribuição da ração, passando pela coleta de ovos, recolha e distribuição de resíduos até o manejo térmico das instalações. Aviários com maiores dimensões, grandes baterias de gaiolas verticais e manejo geral totalmente mecanizado já são uma realidade e necessitam de um intenso controle térmico, obtido principalmente por sistemas de ventilação por pressão negativa e pad cooling.

Respostas no desempenho produtivo

Alguns pesquisadores avaliaram a distribuição espacial da temperatura e umidade em aviário de corte com sistema climatizado (pressão negativa e nebulizadores) e constataram que a temperatura média da instalação ficou em torno de 28°C e a umidade relativa, de 78%. O aumento de temperatura foi gradual do centro do galpão para a extremidade onde se encontravam os exaustores. O maior peso das aves, 3,030kg e 2,475kg para machos e fêmeas, respectivamente, foram observados em regiões distantes dos exaustores, com temperaturas próximas a condição de conforto, condizente com as exigências das funções produtivas das aves. Como resultados de outras pesquisas, foram verificadas temperaturas em torno de 29°C concentradas em uma das laterais do galpão no sistema Blue House. No aviário Dark House as temperaturas ficaram entre 24 e 26°C, também concentradas nas laterais.

Outras pesquisas mais recentes tiveram como objetivo caracterizar o ambiente térmico de aviários de postura abertos com ventilação natural e de aviários fechados com ventilação em pressão negativa e pad cooling. Nos aviários com pressão negativa, a região de maior temperatura, 27°C, foi na extremidade oposta àquela onde estavam os exaustores. Nos aviários abertos, a região central do aviário foi a zona mais quente com temperatura máxima entre 26 e 28ºC. Devido a esta condição ambiental desfavorável, os ovos produzidos, nesta região central, apresentaram um menor peso e menor peso de casca. Como resultado de diversos estudos, ficou constatado que em ambientes com temperaturas acima de 28ºC, há redução do ganho de peso e consumo de ração das galinhas poedeiras com consequente produção de ovos com menor peso, menor gravidade específica e casca de menor peso, espessura e resistência.

Considerações Finais

O aumento da temperatura interna dos aviários fechados normalmente está associado a problemas na vedação das cortinas e perdas na eficiência dos ventiladores, exaustores e sistema de resfriamento. A caracterização das condições ambientais nos diferentes tipos de aviários de corte e postura é processo extremamente importante para que as ilhas de calor possam ser identificadas e assim se procedam as escolhas do controle ambiental adequado e se façam as manutenções necessárias para que as condições de conforto sejam impostas às aves e assim se obtenha o seu máximo produtivo.

Do exposto, fica claro que os sistemas para produção avícola passaram por grandes transformações nas últimas décadas, especialmente no que se refere à tecnificação, implementando-se novos equipamentos para controle ambiental, redução do emprego de mão-de-obra e dos custos de produção. Igualmente, mudanças relativas às tipologias  das instalações são visíveis. Acredita-se que a tendência para o futuro é a melhoria contínua nos processos de acondicionamento do microambiente interno dos aviários visando especialmente o bem-estar e manejo mais humanizado das aves, para atender a demanda crescente de um consumidor mais informado e exigente em relação aos produtos de origem animal que utiliza. Sendo assim, a indústria deve se manter atualizada em relação a demanda do consumidor e a qualidade do produto oferecido.

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