O cavalo é um animal herbívoro com estômago simples e capacidade muito reduzida (20%) em relação à capacidade do intestino delgado, onde ocorre a absorção dos nutrientes nobres da alimentação. No intestino grosso, principalmente no ceco, ocorre a fermentação bacteriana, de modo similar à dos ruminantes.

O pasto sempre foi o alimento natural dos cavalos. Portanto, a escolha de gramíneas para a formação de pastagens para a espécie é de primordial importância em um sistema de produção de equinos, haja vista que os equinos possuem hábito de pastejo seletivo. A preensão dos alimentos efetua-se com o auxílio dos lábios, língua e dentes incisivos superiores e inferiores. Devido à grande mobilidade dos lábios, eles podem selecionar os alimentos mais palatáveis. O pastejo é rente ao solo, sendo adequadas, preferencialmente, espécies de porte baixo. Portanto, a escolha de espécies forrageiras que apresentem arquitetura do dossel mais condizente com esse hábito de pastejo e que apresentem valor nutritivo adequado às necessidades desses animais contribui para o seu desenvolvimento sadio.

Escolha de forrageiras

Idealmente, na implantação de uma pastagem para equinos, deve-se atentar para a escolha de forrageiras estoloníferas de porte baixo, palatáveis, adaptadas a cortes rentes ao solo e às condições locais. Na alimentação de equinos, independentemente da espécie forrageira escolhida para a formação de pastagem, é de suma importância associá-la com outras espécies, devido à sua dieta natural ser composta de espécies variadas.

Destaque

Dentre as gramíneas existentes para cultivo, destacam-se as do gênero Panicum. Há cerca de 100 espécies tropicais, sendo que cerca de 30 delas ocorrem no Brasil. No entanto, essa grande disponibilidade de germoplasma restringe-se ao uso de uma única espécie, Panicum maximum Jacq., que vem sendo amplamente cultivada nas diferentes regiões do Brasil. As cultivares mais utilizadas têm sido o Colonião, o Massai, o Tanzânia e o Mombaça (em especial, para sistemas intensivos de criação de bovinos).

P. maximum é uma espécie nativa da África e de algumas partes da Ásia, sendo também encontrada vegetando de forma vigorosa em todas as regiões tropicais, onde tem status de planta naturalizada. A espécie tem sido muito utilizada para a formação de pastagens para bovinos devido à grande produtividade e valor nutritivo, mas esta é uma espécie exigente em fertilidade do solo. De maneira geral, as espécies do gênero Panicum formam touceiras e muitas são de grande porte.

Os cavalos manifestam alta palatabilidade por esta espécie – no entanto, o seu uso exclusivo como pasto para equinos não parece ser adequado, e deve ser feito tomando alguns cuidados e precauções, pois a espécie pode apresentar desbalanço mineral e/ou excesso de carboidratos não estruturais na rebrota. Vários casos de óbito já foram relatados em pastagens exclusivas de P. maximum cvs. Massai, Mombaça e Tanzânia, na região da Amazônia, durante a época chuvosa. Esta etiologia foi associada com altas concentrações de carboidratos não estruturais de fermentação rápida durante brotação na estação chuvosa. Uma das explicações para esta ocorrência altamente preocupante é um aumento desordenado da fermentação no intestino delgado, que induz a produção de gás, ácido lático e endotoxinas, que leva ao aparecimento da cólica.

Cultivares

Quanto ao hábito de crescimento e porte, há vários tipos de cultivares como a Aruana, que foi selecionada para ovinos e também pode ser recomendada para equinos; a cultivar Centauro, que apresenta excelente perfilhamento e a cultivar Áries, de porte baixo. Estudos realizados com as cultivares Aruana e Centauro no Instituto de Zootecnia de Nova Odessa, SP, mostraram que estas foram bem aceitas pelos equinos.

“Cara inchada”

Outra situação que chama a atenção e se torna preocupante são os relatos de “cara inchada” quando os animais são apascentados em pastagens exclusivas desta espécie de Panicum, despertando nos criadores certa apreensão no seu uso. Este fato ocorre devido ao teor de oxalato desta espécie e cultivares, que apresentam de maneira geral uma relação de cálcio/oxalato de cerca de 0.3/1. Se os cavalos são mantidos em pastejo exclusivo durante um período prolongado (acima de 2 meses), sem suplementação mineral adequada, podem apresentar risco de hiperparatireoidismo nutricional secundário, com redução da densidade óssea e substituição do tecido ósseo por tecido  broso, caracterizando a osteodistro a  brosa – conhecida como “cara inchada”.

Para espécies e cultivares de porte alto, também deve-se atentar para o modo de apreensão dos equinos, que puxam o capim pelos lados da boca e, dependendo da continuidade do processo, podem lesionar a comissura labial, o que é conhecido por “boca rasgada”, caracterizada pelo aumento da fenda bucal.

Invasoras

Algumas espécies forrageiras de Panicum podem comportar-se como invasoras, como é o caso de Panicum repens L. e Panicum dichotomi orum Michx. P.repens, conhecida no meio rural como grama Castela. É uma espécie perene e uliginosa, adaptada a terras úmidas, originária da Europa, mas já naturalizada no Brasil. Esta espécie, atualmente, vem se comportando como invasora em algumas áreas úmidas de cultura, canais de drenagem e em piquetes com certo grau de umidade. É também conhecida como grama ou capim-torpedo, por apresentar fortes rizomas subterrâneos que aumentam sua agressividade, tornando-a uma invasora de difícil erradicação.

Pantanal

No Pantanal, ela foi introduzida e plantada por produtores na borda dos bebedouros e de baías para contenção da erosão provocada pelo pisoteio dos animais no momento da dessedentação. Devido à sua palatabilidade, esta espécie é muito procurada e consumida por bovinos e equinos, que ajudam na disseminação das sementes na região do Pantanal. Porém, deve-se ter cuidado com a alta disseminação desta espécie devido ao seu hábito de estabelecimento agressivo, que está favorecendo o domínio nas bordas dos corpos d’água e áreas de baixada, substituindo as espécies de gramíneas nativas de porte mais baixo e de melhor qualidade. A P. dichotomi orum é nativa das Américas e adaptada às áreas úmidas como o Pantanal, onde geralmente é consumida junto com outras espécies forrageiras.

Precauções

Enfim, o gênero Panicum pode ser usado como pastagem para equinos com devidas precauções, de preferência integrado com outras espécies, como grama-estrela (Cynodon nlemfuensis), coast-cross (Cynodon dactylon (L.) pers.), Pasto Negro (Paspalum plicatulum Michx.), Rhodes (Chloris gayana Kunth), entre outras. Em caso de problemas digestivos ou de “cara inchada” (e sempre que possível), coloque os cavalos em pastagens nativas de qualidade, respeitando a capacidade de suporte de cada piquete.