O Brasil é hoje um dos principais supridores de alimentos do planeta, sendo o maior exportador líquido, com um extraordinário potencial de crescimento. Com a crescente demanda no mercado mundial pelo aumento  de renda em economias emergentes, que não têm como expandir significativamente sua produção, será muito importante para a segurança alimentar do planeta que a produção brasileira siga expandindo no ritmo observado nas últimas décadas.

A agricultura brasileira é, na maioria de seus produtos, uma atividade relativamente recente. Até os anos 60 do século passado, havia basicamente uma agricultura de subsistência no interior, com poucos produtos destinados ao mercado externo, como o açúcar, um dos nossos primeiros itens de exportação, e o café, do qual o Brasil é o principal supridor do mercado mundial há dois séculos.

Além desses nichos, até os anos 70 do mesmo século, não havia tecnologia desenvolvida para produzir os principais elementos da cadeia mundial nos trópicos. A Revolução Verde trouxe novas tecnologias, que levaram agricultores de regiões tradicionais, principalmente do Sul, para as áreas mais tropicais, onde aprenderam a trabalhar num bioma onde até então nunca haviam sido produzidos grãos e oleaginosas: o Cerrado.

Essas regiões haviam sido parcialmente desenvolvidas a partir de uma política de ocupação do território, iniciada pelo Marechal Rondon em sua Marcha para o Oeste – estratégica para trazer colonos de outras regiões e atrair investidores interessados no valor imobiliário da terra, sem foco na produção. Isso levou à abertura da maioria dessas áreas à pecuária extensiva com alguns polos de produção de alimentos nas melhores terras, o que gerou uma visão hoje defasada de que nossa agropecuária é ultrapassada e ambientalmente incorreta.

Com a reforma tributária que retirou a tributação sobre produtos exportados em 1996, houve um grande incentivo à expansão da produção para abastecer o mercado mundial. O Brasil saiu então de um modelo histórico de importação de alimentos para se tornar hoje o maior exportador líquido do planeta e um importante supridor do mercado mundial.

É o maior exportador de café, açúcar, soja, carne bovina e avícola, suco de laranja e tabaco, além de importante supridor de milho, carne suína e outros. Somos também o maior produtor do biocombustível que mais evita emissões : nosso etanol de cana-de-açúcar as reduz em 90% em comparação com gasolina, sendo o maior produtor de bioenergia, que representa 8% de nossa matriz energética.

A intensificação da pecuária, a expansão da produção de grãos e outros produtos em áreas de pastagens subutilizadas e a introdução de novas tecnologias como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) levam a um contínuo aumento de sua produtividade, o que faz com que a produção tenha ainda um grande potencial de crescimento.

Um grande desafio, ocorrendo em todas as regiões de nossa agropecuária, é a adequação das propriedades ao Código Florestal, que em muitos casos demandará restauração de áreas de reserva legal e APPs. Esta exigência poderá levar produtores a um melhor planejamento da paisagem, permitindo o desenvolvimento de um novo negócio de serviços ambientais nas áreas não apropriadas a uma agricultura ou pecuária eficientes, tendo como uma das opções a compensação de reserva legal, ainda em fase de regulamentação.

Esta opção também poderia ser um fator de melhor desenvolvimento social em algumas regiões, trazendo a comunidades tradicionais e a outros produtores instalados em áreas marginais em termos de produtividade agrícola, a oportunidade de um melhor padrão de renda do que é possível nos atuais modelos.

Nossas fronteiras agrícolas têm muitas áreas – seus grandes sertões, suas veredas – que não são apropriadas para o agronegócio e onde a restauração e a preservação para a prestação de serviços ambientais à comunidade mundial pode também ser uma alternativa no longo prazo.

É possível ainda criar uma oportunidade a produtores familiares que, a partir de um bom planejamento de paisagem, passem a gerar produtos de mais alto valor unitário – iguarias regionais, produtos artesanais, visando ao consumidor urbano de melhor poder aquisitivo nos grandes centros.

Como temos a regulação ambiental mais exigente de todos os grandes produtores de alimentos do planeta, o Código Florestal – legislação acordada por nosso Congresso em 2012 após longa negociação com todos os setores envolvidos, e que forneceu a base de nosso compromisso no Acordo do Clima, as NDCs – e temos também a legislação trabalhista no campo mais exigente, queremos transformar a conformidade com a legislação na melhor certificação de sustentabilidade de nossa produção.

Não queremos ficar desenvolvendo novas certificações pontuais que agregam custo ao produto na sua verificação quando temos esta exigência legal que fica acima de qualquer padrão de sustentabilidade e deve ser demonstrada por todo produtor. E precisamos demonstrar ao consumidor exigente em sustentabilidade na produção de alimentos o diferencial dos produtos brasileiros para que estes sejam valorizados adequadamente, viabilizando este grande investimento na conformidade ao Código Florestal.

O bom produtor garantirá acesso aos melhores mercados, sendo ambiental e socialmente responsável. Nosso Código Florestal é uma das legislações ambientais mais completas do mundo, fruto de amplo debate na sociedade, tendo envolvido diversos setores, incluindo produtores rurais e ambientalistas.

A legislação trabalhista no campo é abrangente e uma das mais socialmente responsáveis do planeta. O agronegócio brasileiro emprega 19 milhões de pessoas – 20% da mão de obra do país – entre o campo e empresas ligadas ao agronegócio.

Outro fator que incentiva novos investimentos para a expansão da produção brasileira é o fato de, nas décadas recentes que trouxeram grandes desafios à nossa agricultura, em crises financeiras e políticas setoriais que nem sempre agregavam retorno, novos modelos de produção foram desenvolvidos e adotados em escala crescente pelos melhores produtores.

Investidores internacionais e brasileiros desenvolveram um novo modelo de agronegócio com escala e baixos custos para atender ao mercado mundial de commodities, com demanda crescente mas com preços voláteis determinados por fatores momentâneos de oferta e demanda.

Apesar do histórico de desmatamento no passado, temos a maior área preservada entre os grandes produtores de alimentos (66% do território).

Parte disso compõe-se de: Unidades de Conservação (UCs) – 154 milhões de hectares (18% do país), Terras Indígenas (TIs) – 118 milhões de hectares (14% do país) e propriedades rurais – que mantêm 174 milhões de hectares (20%) entre Reserva Legal (RL), Áreas de Preservação Permanente (APPs) e vegetação nativa.

Essa área preservada em fazendas é superior à usada para a agricultura (cerca de 70 milhões de hectares). A área total ocupada pela agropecuária é de 250 milhões de hectares, com predominância de pastagens.

O agronegócio é a peça-chave para o desenvolvimento no país de uma economia de baixo carbono. Nas Conferências do Clima, o Brasil comprometeu-se a restaurar 12 milhões de hectares de florestas, recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e disseminar cinco milhões de hectares de integração Lavoura- Pecuária-Floresta (ILPF), além de ampliar o uso de bioenergia para 18% da matriz energética do país.

Com a retomada da economia neste ano , temos importantes reformas regulatórias em andamento: trabalhista, previdenciária, tributária e política, que certamente retirarão custos desnecessários em nossos setores produtivos sem reduzir garantias e direitos à população.

Devemos também incentivar novos investimentos em infraestrutura logística, uma de nossas principais deficiências, e retornar a legislação regulatória de investimentos internacionais em terra,  permitido que empresas brasileiras, sujeitas a toda nossa legislação ambiental e trabalhista, possam atrair investidores internacionais.

Com novos modelos de gestão, agregamos competitividade e promovemos iniciativas para difundir os melhores modelos, como em nosso projeto GEF MATOPIBA. Investidores internacionais no agronegócio tendem a melhorar a estrutura de capital de nossas empresas, saindo de um modelo antiquado de empresas familiares que priorizam o crescimento do patrimônio sem desenvolver uma estrutura financeira apropriada, para operar num mercado internacional de commodities, que tem períodos de alto risco para produtores.

Para atender à crescente demanda do mercado mundial, podemos, no médio prazo, mais que dobrar nossa produção de alimentos na área atualmente ocupada por nossa agropecuária, o que demandará vultosos investimentos na intensificação das atividades e no desenvolvimento e difusão de novas tecnologias e modelos de produção, garantindo bons retornos aos investidores, além de trazer a melhor valoração pelo consumidor mundial de nossa produção, caso esta seja adequadamente promovida, mostrando sua responsabilidade ambiental e social.